Durante a realização de uma observação lúdica, um garoto de sete anos corre pela sala do terapeuta, dizendo que é um dos vingadores e que vai lutar contra todos os inimigos. Logo após, reúne todas as peças de um jogo de dominó, para distribuí-las como comida para todos os animais da caixa lúdica. Esse relato sugere
- A) pobreza de recursos egoicos para lidar com limites.
- B) defesa maníaca, expressada de forma plástica e variada.
- C) estereotipia, para compensar sentimentos de inadequação.
- D) vivência de pânico para superar angústia de castração.
- E) rigidez que revela dificuldade de contato interpessoal.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) defesa maníaca, expressada de forma plástica e variada.
Gabarito: Letra B
Durante a realização de uma observação lúdica, um garoto de sete anos corre pela sala do terapeuta, dizendo que é um dos vingadores e que vai lutar contra todos os inimigos. Logo após, reúne todas as peças de um jogo de dominó, para distribuí-las como comida para todos os animais da caixa lúdica. Esse relato sugere
a) pobreza de recursos egoicos para lidar com limites.
b) defesa maníaca, expressada de forma plástica e variada.
c) estereotipia, para compensar sentimentos de inadequação.
d) vivência de pânico para superar angústia de castração.
e) rigidez que revela dificuldade de contato interpessoal.
“. A atividade lúdica é sua forma de expressão própria, assim como a linguagem verbal o é no adulto. Trata-se, então, de instrumentalizar suas possibilidades comunicacionais para depois conceituar a realidade que nos apresenta. Ao oferecer à criança a possibilidade de brincar em um contexto particular, com um enquadramento dado que inclui espaço, tempo, explicitação de papéis e finalidade, cria-se um campo que será estruturado, basicamente, em função das variáveis Internas de sua personalidade. Nesta situação, expressa somente um segmento de seu repertório de condutas, reatualizando no aqui é agora um conjunto de fantasias e de relações de objeto que irão se sobrepor do campo de estimulo. Por isso Recorre-se, complementarmente, à outros instrumentos ou métodos de investigação. Como se pode perceber, existe muita semelhança com à entrevista diagnóstica livre do adulto Vejamos agora algumas diferenças Numa a fantasia é mediada pelas verbalizações; na atividade lúdica o mediador é, predominantemente, o brinquedo oferecido, que expressa o que a criança está vivenciando no momento, Na verbalização a fantasia aparece depurada pela maior influência do processo secundário; a localização temporal da fantasia expressa através da linguagem, do uso apropriado dos verbos e das leis do pensamento lógico-formal torna-se mais clara. No brincar, por sua vez, hã uma comunicação de tipo espacial, na qual são incluídos mais elementos do processo primário através de principios como os de condensação, atemporalidade e deslocamento, atuados no próprio brincar.”
A questão adapta um exemplo apresentado por Ocampo e Arzeno no livro “O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas”, veja:
“Modalidades de brincadeiras
É a forma em que o ego manifesta a função simbólica. Cada sujeito estrutura o seu brincar de acordo com uma modalidade que lhe é própria e que implica um traço caracterológico. Entre tais modalidades podemos detectar: a) plasticidade, b) rigidez e c) estercotipia e perseverança. Quando a criança pode apelar para uma certa riqueza de recursos egóicos para expressar situações diferentes com um enitério econômico, através da via do menor esforço, mostra-nos plasticamente seu mundo interno. Esta plasticidade pode se manifestar de diferentes maneiras: expressando a mesma fantasia ou defesa através de mediadores diferentes, ou uma grande riqueza interna por meio de poucos elementos que cumprem diversas funções No primeiro caso citaremos o exemplo de Pablo, de sete anos, que ao longo de toda a hora de jogo mostra sua onipotência como defesa, identificando-se num primeiro momento com figuras fortes (salta com o guarda-pó colocado como capa, dizendo que é o Zorro e combatendo os soldados), enquanto, mais tarde, começa a encher um jarrinho afirmando que vai alimentar todos os animaizinhos que hã no cesto. (Identifica-se agora, também de modo onipotente, com um peito inesgotável.) Expressa, então, de forma plástica, uma mesma defesa maniaca, com variedade de recursos.
No segundo caso vemos outra modalidade da plasticidade: a expressão de uma gama de situações através de áreas diferentes de conflito que se desprendem como núcleos organizadores do seu brincar. O psicólogo sente, ao terminar a hora de jogo, que a criança expressou um amplo espectro de sua vida emocional, que se manifestou de forma integrada, numa sequiência fluente, e sem a necessidade de recorrer a mecanismos de isolamento ou de controle obsessivo Estela, de dois anos e meio, que foi levada para a consulta por apresentar crises de choro cada vez que seu irmão, de seis anos, vai para a escola, pega sua pasta na hora de jogo e, dentro dela, coloca lápis de cera e uma folha. Numa etapa posterior as personificações se enriquecem com figuras imaginárias, tais como fadas, monstros e bichopapão, dissociando é projetando nestas figuras diferentes imagos A criança começa também a atribuir papéis e a tornar mais explicito o vinculo que mantém com estas imagos (se submete, vence, domina, ataca ou é atacada, é o perseguidor ou o perseguido), mostrando alternâncias sucessivas desses papéis, como expressão da labilidade das identificações, No periodo de latência, a criança tende a dramatizar papéis definidos socialmente, com menor expressão da fantasia, em função do aumento da repressão. Amplia seu campo de conexão com o meio ambiente, tende a brincar, por exemplo, de policia e ladrão, de professora, de vendedor, com menor alternância de papéis é maior apego a suas identificações. No brincar de pré-púberes observa-se uma inibição desta capacidade porque torna-se possivel a afuação real de suas fantasias. Para dar-lhes curso, escolhe objetos mais afastados do meio familiar através de um deslocamento, que se expressa, fundamentalmente, na área simbólica. Na adolescência a personificação adquire importância novamente e é utilizada como meio de expressão. A personificação, como elemento comum a todos os periodos evolutivos normais, possibilita a elaboração de situações traumáticas, a aprendizagem de papéis sociais, à compreensão do papel do outro e o ajuste de sua conduta em função disso, o que favorece o processo de socialização é de individuação. Devemos levar em conta que a passagem de um período a outro não se realiza de forma linear nem brusca, mas que implica sucessivas progressões e regressões. A análise do conteúdo da personificação leva-nos a avaliar, através da qualidade e da intensidade das diferentes identificações, o equilíbrio existente entre o superego, o id e a realidade, elemento de fimdamental importância diagnóstica e prognástica. Este equilibrio é conseguido quando o superego se torna mais permissivo e reflete com maior realidade as figuras de autoridade real e, portanto, com menor sadismo, permitindo ao ego a satisfação de desejos e impulsos, sem entrar em conflito com a realidade. As instruções incluem uma explicitação de papéis que implica a observação do psicólogo e a atividade lúdica da criança. Se, durante a hora de jogo, a criança nos pede para assumir determinados papéis, achamos que é necessário que cla nos explique claramente as características do papel atribuído, para que fique bem definido e responda às fantasias projetadas.”.
Os vingadores representam as figuras fortes da interpretação, que no exemplo são representadas pelo Zorro, e as peças de dominó são como o jarrinho, que também serviriam como alimento para os animais. Assim, isso indica defesa maníaca, expressada de forma plástica e variada.
Nosso gabarito é Letra B.
Referência
OCAMPO, M. L. S.; ARZENO, M. E. G.; PICCOLO E. G. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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