O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) é um sistema diagnóstico e estatístico de classificação dos transtornos mentais, segundo o modelo categorial, destinado à prática clínica e à pesquisa em psiquiatria, elaborado pela American Psychiatric Association (APA). A última versão do manual, o DSM-V, data do ano de 2013. Dadas as afirmativas acerca do DSM-V,
I. Com o advento do DSM-V e a consolidação da nomeação em série e em larga escala do sofrimento psíquico, a saúde mental assume um novo contorno no cenário atual, uma vez que se instala, de modo significativo, um processo de patologização da existência que culmina com a chamada medicalização da vida, na qual qualquer desvio da ordem estipulada socialmente se torna passível de medicação.
II. Com o advento do DSM-V o foco deixa de ser o discurs biologizante que privilegia descrições especificadas de fenômenos objetivos, trazendo um empobrecimento à lógica diagnóstica, para ancorar-se numa posição que privilegia a escuta do sujeito em sofrimento e, portanto, considera fundamental o saber que este tem sobre si mesmo, para a busca do diagnóstico.
III. Os avanços e os detalhamentos das descrições psicodiagnósticas do DSM-V e o aumento de classes e de categorias diagnósticas parecem influenciar a expansão das indústrias farmacêuticas – ao passo que poderíamos nos perguntar se não seria a própria indústria que influencia as categorias do novo DSM – que se tornaram as novas detentoras do poder controlador do sofrimento psíquico da população, do mal-estar da sociedade e da veiculação midiática.
verifica-se que está/ão correta/s
- A) I, apenas.
- B) II, apenas.
- C) I e III, apenas.
- D) II e III, apenas.
- E) I, II e III.
Resposta:
ESTA QUESTÃO FOI ANULADA, NÃO POSSUI ALTERNATIVA CORRETA
Questão anulada
Certo! Veja:
“De antemão, nota-se que, com o advento do DSM-V e a consolidação da nomeação em série e em larga escala do sofrimento psíquico, a saúde mental assume um novo contorno no cenário atual, uma vez que se instala, de modo significativo, um processo de patologização da existência que culmina com a chamada medicalização da vida, na qual qualquer desvio da ordem estipulada socialmente se torna passível de medicação (RESENDE, 2014). Por essa perspectiva, “o conceito de transtorno ignora toda a história da psicopatologia e rompe de vez com as escolas de pensamento, principalmente com a psicanálise, em uma tentativa de ignorar o sujeito” (RESENDE, p. 12-13). Pois, como assevera Dunker (2012, p. 35), a novidade da psicanálise reside justamente em considerar e incluir “o diagnóstico pré-constituído, dado pelo próprio paciente”. Isso porque, muitas vezes, o processo clínico passa pela desconstrução psicodiagnóstica advinda dos âmbitos: educacional, familiar, trabalhista, médico, estético, dentre outros, no sentido de deslegitimar “o discurso social da necessidade de uma supressão do pathos, ou seja, daquilo que, em psicanálise, traceja os caminhos possíveis de um tratamento” (TEODORO, 2019, p. 139).”
Errado. O DSM não tira o foco do discurso biologizante.
“Verifica-se, pois, que a tarefa classificatória se tornou o escopo central da psicopatologia praticada a partir do DSM-V, que, na contemporaneidade, figura como o representante do discurso biologizante, no qual se substituem “[...] as grandes categorias (neurose, psicose, esquizofrenia) por descrições especificadas de fenômenos objetivos, trazendo um empobrecimento à lógica diagnóstica, pois se privilegia a descrição dos sintomas ao invés da patologia” (KYRILLOS NETO et al., 2011, p. 47). Quanto a isso, cumpre observar que a lógica da qual a psicanálise parte para analisar o sofrimento se apresenta como uma proposição irredutível ao proposto pela dinâmica manualista do DSM, posto que intenta não desconsiderar os aspectos que emergem particulares, e mesmo singulares, do sintoma do sujeito, reconhecendo com isso os limites da lógica da classificação, no ponto em que, ao operar com a consecução de uma lógica do real do sofrimento, a psicanálise passa a evidenciar os limites de escrita da própria ciência (SILVA, 2019), que progride em seu afã de tudo classificar. Desse modo, principalmente no DSM-V, os distúrbios “falam” pelo paciente, ou seja, o saber do manual diagnóstico se sobrepõe a toda tentativa do paciente de se posicionar como sujeito. Nesse sentido, há um viés de desresponsabilização do mesmo diante da patologia, que passa a ter causa totalmente biológica, elevando ao zênite o Organicismo, tal qual preconizado por Griesinger no século XIX (SIMÕES, 2019).
Certo! Veja:
“Constata-se que os avanços e detalhamentos das descrições psicodiagnósticas do DSM-V e o aumento de classes e categorias diagnósticas parecem influenciar a expansão das indústrias farmacêuticas (ou seu inverso?), que se tornaram as novas detentoras do poder controlador do sofrimento psíquico da população, do mal-estar da sociedade e da veiculação midiática, que contribui reforçando a promessa da anulação de faculdades propriamente humanas, como o sofrimento.
Dessa forma, o espaço da subjetividade torna-se uma mera tradução de suportes técnicos do cotidiano, que, na atualidade, são expressos pela excessiva classificação diagnóstica, ou seja, nomeação em série do sofrimento psíquico, pelo uso abusivo de psicofármacos e por uma grande necessidade de neutralizar aquilo que faz falar no sujeito (TEODORO, 2019). Cabe aqui tracejar as consequências dessas rotas psicodiagnósticas que, embrenhadas na terapêutica psicofarmacológica, legitimam o apagamento do sujeito. A ausência do que faz falar no sujeito - pathos - tampona a dimensão das incertezas, dos enigmas, do não todo que constitui o humano. O que fica é um vazio preenchido que, muitas vezes, não permite ao sujeito desejar.
Todos esses dados nos levam a questionar: em que medida o aumento dos casos está relacionado aos deslocamentos registrados no DSM-V? Martinhago e Caponi (2019, p. 11/15) refletem sobre essa questão ressaltando “as conveniências que os DSMs geram para potências como as indústrias farmacêuticas, conjuntamente com as seguradoras de saúde e a classe médica”, uma vez que “facilita a burocracia dos seguros de saúde, amplia o mercado para profissionais da saúde, aumenta significativamente o número de diagnósticos de transtornos mentais e, consequentemente, o consumo de medicamentos, entre muitos outros aspectos”. Nesse conseguinte, não se torna difícil compreender o porquê de estes manuais se transformarem em hegemônicos na contemporaneidade.”
A questão foi anulada pela banca.
Fonte: Ribeiro AS, Gonçalves GA, Teodoro EF, Batista SA, Ferreira PHE. Psicopatologia na contemporaneidade: análise comparativa entre o DSM-IV e o DSM-V
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