Jovem esquizofrênico relata que sua “missão” começou quando um amigo lhe trouxe de presente uma lembrança de uma igreja da cidade de Ouro Preto. Apesar de reconhecer que se tratava de um souvenir comum, muito vendido naquela cidade histórica, o jovem diz que, no momento em que recebeu o presente, soube que ele era o “escolhido” por Deus para dar continuidade à missão de Jesus na Terra e passou a peregrinar pelas cidades próximas para arregimentar seguidores fiéis e fundar uma nova religião.
Esse relato é um exemplo de:
- A) alteração da consciência do eu;
- B) percepção delirante;
- C) alteração da identidade do eu;
- D) delírio persecutório;
- E) pseudoalucinação.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) percepção delirante;
Gabarito Letra B
a) alteração da consciência do eu;
Errado. Nas alterações da consciência do eu, o individuo pode sentir suas sensações e sentimentos menos intensos, ou sentir que não existe mais ou até que nunca existiu.
“A consciência da existência do eu pode estar diminuída: o paciente se queixa de que suas sensações corpóreas, seus sentimentos, suas recordações ou sua motivação estão menos intensos. Isso está relacionado à tristeza vital, que ocorre na depressão. A consciência da existência do eu pode estar abolida: o paciente afirma que não existe mais – ou que nunca existiu –, que não está vivo. Esse fenômeno está relacionado a um delírio de negação, encontrado na síndrome de Cotard, que ocorre na depressão e na esquizofrenia. A consciência da existência do eu pode estar aumentada, em função de uma exacerbação do sentimento vital, que se observa na síndrome maníaca.”
b) percepção delirante;
Certo! A partir de uma percepção normal, o contato com o souvenir, o indivíduo desenvolveu um delírio.
“A percepção delirante é um tipo especialmente importante de delírio. O delírio surge a partir de uma percepção normal que recebe, imediatamente ao ato perceptivo, significação delirante. Trata-se de processo com duas vertentes (perceptiva e ideativa) que ocorrem de forma simultânea. Por exemplo, ao entrar na sala, o indivíduo vê um lenço amarelo sobre a mesa (uma percepção real); ao vêlo, logo entende que se trata de conspiração contra ele, que querem matá-lo (atribuição de um significado delirante à percepção normal). A percepção delirante é vivenciada como uma revelação, uma descoberta abrupta que o indivíduo faz, passando então a entender tudo o que se passa. Segundo Nobre de Melo (1979), há, no paciente delirante, uma tendência interna irreprimível a viver significações. A percepção delirante é um sintoma muito característico da esquizofrenia (sintoma de primeira ordem de Kurt Schneider).”
c) alteração da identidade do eu;
Errado. Esse jovem não perdeu uma noção de continuidade de si.
“A consciência da identidade do eu é a consciência de ser o mesmo na sucessão do tempo. É o sentimento de, durante toda a vida e nas mais diversas situações, ter sido sempre idêntico a si próprio, apesar das incessantes (e naturais) mudanças de muitos aspectos da personalidade. Está relacionada a uma qualidade de continuidade. Abarca a orientação autopsíquica: saber o próprio nome, idade, profissão, estado civil, endereço etc.”
d) delírio persecutório;
Errado. Esse jovem não acredita estar sendo perseguido.
“O indivíduo acredita que é vítima de um complô e está sendo perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas, tais como máfias, vizinhos, polícia, pais, esposa ou marido, chefe ou colegas do trabalho (ou do ambiente estudantil). Ele pensa que querem envenená-lo, prendê-lo, matá-lo, prejudicá-lo no trabalho ou na escola, desmoralizá-lo, expô-lo ao ridículo ou mesmo enlouquecê-lo... Cabe lembrar que a perseguição é o tema mais freqüente dos delírios.”
e) pseudoalucinação.
Errado. Esse jovem não descreve alucinações, e sim delírios.
“A pseudo-alucinação é um fenômeno que, embora se pareça com a alucinação, dela se afasta por não apresentar os aspectos vivos e corpóreos de uma imagem perceptiva real. Apresenta mais as características de uma imagem representativa. Assim, na pseudo-alucinação, a voz (ou imagem visual) percebida é pouco nítida, de contornos imprecisos, sem vida e corporeidade. A vivência é projetada no espaço interno, são “vozes que vêm de dentro da cabeça, do interior do corpo”. O paciente relata que “parece uma voz (ou imagem)...” ou que “...é como se fosse uma voz (ou imagem), mas não é bem uma voz”.”
Nosso gabarito é Letra B
Fonte: Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais – 3. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2019
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