José e Maria são casados há 12 anos. José é alcoolista e seu consumo de álcool aumentou e diminuiu ao longo dos anos de casado, sem nunca ocorrer um período de abstinência maior que dois meses, quando ele ingressava em um programa de Alcoólicos Anônimos. Maria, desgastada com o sofrimento decorrente da situação já pediu a separação, mas José não aceitou e propôs a realização de psicoterapia de casal, prometendo, também, deixar de beber. Maria aceitou o pedido, alertando que seria a última tentativa. Os dois, então, iniciaram a psicoterapia comportamental de casais.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item a seguir.
O casal deve ser esclarecido de que fatores genéticos aumentam a vulnerabilidade individual à dependência química e que, por essa razão, as substâncias psicoativas afetam de modo diferenciado o cérebro e o comportamento dos indivíduos.
- A) Certo
- B) Errado
Resposta:
A alternativa correta é letra A) Certo
Gabarito: Certo
Estudos comprovam que algumas pessoas são geneticamente mais vulneráveis à dependência química, e portanto as substâncias aditivas tem efeitos diferentes nessas pessoas em relação a indivíduos que não herdaram essa vulnerabilidade. Esse item está, então, Certo.
“Em linhas gerais, se considerarmos o grande contingente de indivíduos que experimentam alguma droga, é relativamente pequena a parcela dos que se tornam dependentes, uma vez que certas substâncias não têm elevado potencial inerente de levar à dependência, ao contrário de outras, como cocaína, seus derivados (crack) e heroína. Estas últimas levam ao quadro de DQ com poucas ocasiões de consumo e de forma mais independente da interação com outros fatores de vulnerabilidade. Entretanto, mesmo com níveis reduzidos de consumo de substâncias, a pessoa já pode apresentar impacto significativo na qualidade de vida, e, apesar de conhecermos alguns preditores de piores desfechos, uma vez iniciado o uso de qualquer droga, não é possível assegurar se haverá ou não a trajetória para dependência, marcada por mudanças cerebrais químicas e funcionais significativas e persistentes. Por esse motivo, cada vez mais estudos demonstram a importância de serem enfatizadas estratégias de prevenção. Além disso, ainda não são tão expressivas as opções comprovadamente efetivas de tratamento, e são observadas pequenas taxas de procura. A presença de baixo nível socioeconômico, falta de suporte familiar e comorbidades psiquiátricas graves são fatores que contribuem para menor chance de obter tratamento e sucesso. Estudos com gêmeos elucidaram definitivamente o importante papel da herdabilidade genética, que se manifesta por diversos mediadores, como o funcionamento de enzimas metabolizadoras das drogas, nível de resposta subjetiva individual que pode ocorrer, além de fatores emocionais, cognitivos e de personalidade. O conceito atual aponta que genes interagem com fatores ambientais para determinar o comportamento, com a existência de vulnerabilidade preexistente ao consumo de drogas de maneira geral, e também para cada tipo de substância psicoativa e momento ao longo da vida, em que os fatores genéticos e ambientais passam a ter pesos diferentes. A compreensão da DQ como doença crônica tem implicações para modelos de etiologia, tratamento, prognóstico e políticas na área de saúde, podendo ser comparada a diabetes melitus, hipertersão e asma, uma vez que existe tratamento disponível, com taxas de sucesso e melhora na qualidade de vida consistentes, mas que ainda é não curável. As recidivas de sintomas, ou recaídas, são muitos frequentes, fazem parte do quadro clínico, e representam um desafio para o tratamento. Ainda, a partir dos perfis de herdabilidade destas doenças, entende-se que a vulnerabilidade para adoecer é proveniente, em parte, da carga genética, que irá interagir com outros fatores, de forma semelhante ao que ocorre na fisiopatologia das dependências. Embora a DQ seja uma doença tratada na maioria das vezes por psiquiatras, considerando ser uma patologia do comportamento e cujas alterações de humor, sono, concentração e outras funções psíquicas acabam comprometidas, especialistas de outras áreas comumente fornecem contribuições relevantes.”
Fonte: Chaim, C. H., Bandeira, K. B. P., & Andrade, A. G. de. (2015). Fisiopatologia da dependência química. Revista De Medicina, 94(4), 256-262. https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v94i4p256-262
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