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Uma psicóloga fez uma importante intervenção em um acampamento do MST no Vale do Jequitinhonha que havia sofrido um massacre promovido pelo dono da fazenda (improdutiva) ocupada pelos trabalhadores rurais lá instalados há anos. Umas das ações foi a conversa no grupo sobre os acontecimentos no dia do massacre, das perdas, do luto, do fato de os assassinos serem pessoas conhecidas que conviviam com os assentados. Para fazer circular a palavra e promover uma escuta importante em que eles próprios passaram a falar sobre o indizível, ela utilizou seu conhecimento do trabalho de Ignácio Martín-Baró, psicólogo e jesuíta espanhol radicado em El Salvador. Assinale a alternativa que mais expressa o trabalho desse importante autor da Psicologia Social latino-americana.

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Resposta:

A alternativa correta é letra C) Foi trabalhada a noção de trauma, a partir da ação nos conflitos de enfrentamento do exército de libertação e das forças paramilitares.

   

Gabarito Letra C

Uma psicóloga fez uma importante intervenção em um acampamento do MST no Vale do Jequitinhonha que havia sofrido um massacre promovido pelo dono da fazenda (improdutiva) ocupada pelos trabalhadores rurais lá instalados há anos. Umas das ações foi a conversa no grupo sobre os acontecimentos no dia do massacre, das perdas, do luto, do fato de os assassinos serem pessoas conhecidas que conviviam com os assentados. Para fazer circular a palavra e promover uma escuta importante em que eles próprios passaram a falar sobre o indizível, ela utilizou seu conhecimento do trabalho de Ignácio Martín-Baró, psicólogo e jesuíta espanhol radicado em El Salvador. Assinale a alternativa que mais expressa o trabalho desse importante autor da Psicologia Social latino-americana.
a)  Trata-se da aplicação de grupos operativos e da teoria do vínculo.

Errado. Grupos operativos são da teoria de Pichon-Riviere.


b)  A psicóloga aplicou a noção de sofrimento ético-político.

Errado. O sofrimento ético-político é uma categoria proposta pela Psicóloga Social Bader Sawaia


c)  Foi trabalhada a noção de trauma, a partir da ação nos conflitos de enfrentamento do exército de libertação e das forças paramilitares.

Certo!

“Conforme já explicitamos nas primeiras linhas deste trabalho, a produção de Martín-Baró é o compartilhar da sua experiência de vida, uma unidade teórico-prática que enfatiza o sentido da crítica para a Psicologia. Da sua vivência no contexto da guerra civil em El Salvador é que emerge a sua compreensão do trauma e dos seus sentidos para a vida das pessoas. Portanto, se pretendemos compreender esse sentido e como ele se diferencia da proposta inicial da Psicanálise, aproximando-se, mas, principalmente, superando os movimentos de insurgência e crítica propagados pela Antipsiquiatria, devemos nos dedicar para a sua concepção sobre os sentidos da guerra.

É o próprio Martín-Baró (1990c) quem diz que ao emprestar seus conhecimentos para o estudo da guerra a Psicologia tende a concentrar-se, predominantemente, em duas áreas: ou investiga a estrutura das ações militares e suas estruturas de organização e atuação ou se dedica à consideração das chamadas sequelas psicológicas da guerra e busca a definição de tratamentos eficazes. De uma forma ou de outra, assim, a Psicologia se afasta da compreensão das relações íntimas que envolvem a guerra e o todo social que a contém. A situação de guerra envolve, explicita e define as dimensões sociais, políticas, econômicas e culturais de um país. Assim como a estrutura social que explora, acumula, exclui e oprime, a situação de guerra significa a ruína de muitos e o enriquecimento de poucos.

Ao vivenciar e participar da guerra civil em El Salvador, Martín-Baró (1990c) a analisa a partir de três dimensões complementares: a violência, a polarização social e a mentira institucional. Ao considerar a violência, Martín-Baró aborda, essencialmente, as características de repressão, ameaça e proliferação de medo que superam ou culminam nas ações efetivamente bélicas. Quanto à polarização social, ele aborda os elementos de antagonismo proliferado entre os setores populares e instigados pela massiva influência norte-americana. E, finalmente, no que diz respeito à mentira institucional, Martín-Baró (1990c) enfatiza o ocultamento sistemático da realidade, a criação de uma história oficial que ignora, falseia ou inventa os elementos crucias da realidade.

Mas, mais do que nos ofertar uma compreensão concreta da dinâmica da guerra, Martín-Baró (1990c) se dedica ao estudo do que ela produz para a vida dos homens, mulheres e crianças que a vivenciam. Ele reitera o que chama de pensamento óbvio sobre o impacto de situações concretas para o desenvolvimento psíquico dos sujeitos, enfatizando que "no es necesario asumir alguna de las visiones psicológicas tradicionales sobre la personalidad básica para comprender que algún impacto importante tiene que tener la prolongación de la guerra civil"(p.77).

Para explicar o significado deste impacto para o desenvolvimento dos salvadorenhos, Martín-Baró (1990c), define o trauma psicossocial, enfatizando o termo psicossocial para diferenciá-lo da visão propagada pela Psicologia hegemônica. Dessa forma, Martín-Baró, acentua seu "carácter esencialmente dialéctico" (p.77). O trauma psicossocial assim anunciado não se dissocia da imersão social que o constitui e deflagra, portanto, a concepção da Psicologia da Libertação de Martín-Baró sobre a saúde mental.

Como uma dimensão dialética, o trauma não define um sujeito doente, ao contrário define a especificidade de uma relação entre a sociedade e seus indivíduos, para além de parâmetros de normalidade e anormalidade tão caros à tradição da ciência psicológica. Nesse sentido, o adoecimento pode significar, uma resposta esperada, uma reação normal frente a uma situação anormal. Para Martín-Baró (1990a), o trauma psicossocial reflete as características de desumanização que a ordem de exploração e acumulação evidenciam em uma de suas formas mais aviltantes: a guerra.”


d)  Foi utilizada a noção de psicopatologia do trabalho e da clínica do trabalho.

Errado. A clínica do trabalho é de Cristophe Dejours.


e)  Martín-Baró não desenvolveu nenhum conceito relativo ao assunto mencionado.

Errado.  Como vimos, o autor desenvolveu, sim, uma teoria baseada no assunto mencionado.

 

Nosso gabarito é Letra C

Fonte: MOREIRA, Ana Paula Gomes e GUZZO, Raquel Souza LoboDo trauma psicossocial às situações-limite: a compreensão de Ignácio Martín-Baró. Estudos de Psicologia (Campinas) [online]. 2015, v. 32, n. 3

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