Em Trabalho e Solidariedade, Furtado fala da relação entre o mundo do trabalho e as dimensões subjetivas da realidade. Com essa categoria, o autor
- A) quer dizer que o emprego, como expressão atual das relações de trabalho, cada vez mais depende da subjetividade do trabalhador.
- B) quer dizer que as formas, como a subjetividade, são controladas pela realidade, apontando para o aumento da depressão como principal sintoma do adoecimento laboral.
- C) infere que a saúde do trabalhador ficou mais comprometida com o advento do toyotismo, uma vez que essa forma de administração das relações de trabalho se apropria da subjetividade dos trabalhadores.
- D) entende a dimensão subjetiva da realidade como o conjunto de crenças e valores historicamente definidos e que servem de repertório, estabelecido como referência subjetiva, para os sujeitos.
- E) quer dizer que a dimensão subjetiva da realidade diz respeito às medidas possíveis por meio dos instrumentos de avaliação psicológica, muito utilizados nas organizações.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) entende a dimensão subjetiva da realidade como o conjunto de crenças e valores historicamente definidos e que servem de repertório, estabelecido como referência subjetiva, para os sujeitos.
Gabarito Letra D
Em Trabalho e Solidariedade, Furtado fala da relação entre o mundo do trabalho e as dimensões subjetivas da realidade. Com essa categoria, o autor
a) quer dizer que o emprego, como expressão atual das relações de trabalho, cada vez mais depende da subjetividade do trabalhador.
Errado. Considerando que a subjetividade se refere a algo individual, particular do indivíduo, percebemos que muito raramente a subjetividade é considerada nas relações de trabalho.
b) quer dizer que as formas, como a subjetividade, são controladas pela realidade, apontando para o aumento da depressão como principal sintoma do adoecimento laboral.
Errado. Não é a subjetividade que leva ao aumento da depressão no contexto laboral.
c) infere que a saúde do trabalhador ficou mais comprometida com o advento do toyotismo, uma vez que essa forma de administração das relações de trabalho se apropria da subjetividade dos trabalhadores.
Errado. Antes do advento do toyotismo já haviam modelos de produção industrial, como o taylorismo e o fordismo, que ignoravam a subjetividade do trabalhador.
d) entende a dimensão subjetiva da realidade como o conjunto de crenças e valores historicamente definidos e que servem de repertório, estabelecido como referência subjetiva, para os sujeitos.
Certo! Veremos um pouco mais sobre esse assunto ao final do comentário.
e) quer dizer que a dimensão subjetiva da realidade diz respeito às medidas possíveis por meio dos instrumentos de avaliação psicológica, muito utilizados nas organizações.
Errado. A subjetividade não precisa de meios de avaliação para existir.
Vamos ver um pouco mais sobre a letra D:
“Aguiar e Gonzáles Rey coincidem sobre a relação dinâmica entre sentido e significados e sobre a importância da expressão da subjetividade como zonas de sentidos do sujeito. Mas há algo que não está completamente claro na exposição desses autores. Os campos de sentidos e de significados são produzidos pelo conjunto dos seres humanos numa determinada condição histórica e social. Ambos têm a mesma raiz e fazem parte do mesmo movimento dialético. A subjetividade social e a individual são a mesma coisa com formas e apresentação peculiares. O campo de significados é a particularidade do processo histórico e o campo de sentidos é a sua singularidade. Faces diferentes de uma mesma moeda. Não é possível conceber que o repertório e memória social tenham vida própria, mesmo que assim pareça quando Vigotski afirma ser o campo de significados "dicionarizado" (...)
As configurações psicológicas estão submetidas a essa condição e a dinâmica de liberdade pessoal, argumentada por Gonzáles, é a liberdade controlada pela expressão de cunho ideológico da produção social. Há sim movimento e autonomia na expressão singular, na produção de sentido, mas como condição expressa da posição do sujeito no mundo capitalista (como é o caso da noção de liberdade) que se constrói como individuo de livre expressão Mas essa expressão se dá no contexto de uma cultura e do controle social a partir de crenças e valores bem definidos. (...)
Para a análise que fazemos aqui, fica claro que as expressões de crenças e valores, que justificam moralmente a exploração da classe operária (trabalhadores em geral) e que tem raiz no ideário formulado no Iluminismo e institucionalizado a partir da Revolução Francesa, além dos processos vividos pelos Estados Unidos e pele Inglaterra e consolidados com as revoluções de 1848 e a constituição do Estado Nacional republicano, foram produzidas historicamente com a participação humana, de pessoas com seus sentidos, seus desejos, sua ambições, representadas e sintetizadas na voz de revolucionários, filósofos libertários e pelo cidadão que acreditou na possibilidade de mudança. Engels (2011), em Socialismo utópico e socialismo cientifico, apresenta uma bela passagem em que diz que o ideal de liberdade, fraternidade e igualdade logo se revelou ser liberdade, igualdade e fraternidade para os burgueses, a nova classe dominante, mas no calor da batalha todos acreditaram nas premissas e, podemos afirmar com segurança, estas ainda são os pilares éticos da sociedade capitalista. Mas, como afirmou Engels, de tal forma que tais princípios sirvam ao encobrimento das formas de exploração e dominação.”
Nosso gabarito é Letra D.
Referência
Trabalho e dimensão subjetiva da realidade in FURTADO, O. Trabalho e Solidariedade. São Paulo: Cortez, 2011.
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