Observe as três afirmativas a seguir, que versam sobre os estudos históricos e antropológicos sobre família, interdisciplinares ao campo da psicologia, é correto afirmar:
I. Sobre famílias, há de se afirmar sua naturalidade, enquanto condição humana imutável, quando se observa relações muitas vezes coincidentes que conhecemos atualmente entre grupo conjugal, rede de parentesco, unidade doméstica/residencial.
II. Sobre famílias, a história mostra que esta, em séculos anteriores, não tinha função afetiva e socializadora, mas era constituída visando à transmissão da vida, a conservação dos bens, a prática de um ofício, a ajuda mútua e a proteção da honra e da vida em caso de crise.
III. Sobre modos mais ocidentalizados e contemporâneos de apresentação da família, podem-se identificar processos de revisão do poder patriarcal e de alguns abusos nesse poder cometidos, que uma vez considerados na contramão com o contrato social, coloca a família, paulatinamente, mais complementada e organizada pelo Estado.
- A) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
- B) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
- C) Apenas a afirmativa II está correta.
- D) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
Gabarito Letra B
I. Sobre famílias, há de se afirmar sua naturalidade, enquanto condição humana imutável, quando se observa relações muitas vezes coincidentes que conhecemos atualmente entre grupo conjugal, rede de parentesco, unidade doméstica/residencial.
Errado. A família é uma construção social e cultural, e sua estrutura se altera conforme o contexto. Não é uma condição humana imutável.
“A família também é tema discutido por Elizabeth Jelin que utiliza o conceito clássico ligado à sexualidade e à procriação. Para esta autora, a família “es la institución social que regula, canaliza y confiere significado social y cultural a estas dos necessidades” (JELIN, 1998, p.15). Assim, as responsabilidades familiares são sancionadas por instituições sociais como a escola e o Estado, por exemplo. No entanto a instituição familiar possui significados diversos, dependendo da classe social, da idade e do sexo dos indivíduos. Possui também desigualdades no seu interior, como as diferentes hierarquias e as relações de poder entre os membros”
II. Sobre famílias, a história mostra que esta, em séculos anteriores, não tinha função afetiva e socializadora, mas era constituída visando à transmissão da vida, a conservação dos bens, a prática de um ofício, a ajuda mútua e a proteção da honra e da vida em caso de crise.
Certo! Como vimos, a estrutura familiar acompanha o contexto cultural e social, e nos séculos passados essas eram as funções da família.
“Conforme observa, na aristocracia dos séculos XVI e XVII não havia separação entre o público e o privado, as famílias viviam nas ruas, nas festas, não se isolavam. Não havia um sentimento de infância, nem tampouco a família estava organizada da forma como está hoje. A família não tinha as funções afetivas socializadora, mas se constituía visando à transmissão da vida, a conservação dos bens, a prática de um ofício, a ajuda mútua e a proteção da honra e da vida em caso de crise.”
III. Sobre modos mais ocidentalizados e contemporâneos de apresentação da família, podem-se identificar processos de revisão do poder patriarcal e de alguns abusos nesse poder cometidos, que uma vez considerados na contramão com o contrato social, coloca a família, paulatinamente, mais complementada e organizada pelo Estado.
Certo! O modelo patriarcal não é mais unânime nas estruturas familiares, que são, no Brasil, protegidas pela legislação.
“Em termos subjetivos, a sociedade em geral demonstra também ter flexibilizado a compreensão do que é, como se estrutura e como funciona a família contemporânea. Configurações familiares nem imaginadas há poucas décadas hoje são cada vez mais aceitas com maior naturalidade. Sem dúvida, em pouco mais de duas décadas, o Brasil e o brasileiro comum mudaram suas expectativas em relação à família, mas sem deixarem de ser uma sociedade fundamentalmente familista. A família patriarcal, que nossa legislação civil tomou como modelo, ao longo do século XX entrou em crise, culminando com sua derrocada, no plano jurídico, pelos valores introduzidos na Constituição de 1988. A família atual está matrizada em um fundamento que explica sua função atual: a afetividade. Assim, enquanto houver affectio haverá família, unida por laços de liberdade e responsabilidade, desde que consolidada na simetria, na colaboração, na comunhão de vida não-hierarquizada. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. (Lobo, 1989) Assim, a partir de 1988, a instituição família no Brasil não apenas ganha um significado totalmente novo, em especial pela sua independência de modelos preestabelecidos e idealizados de uma “famíliapadrão”, como também recebe, por força de lei, prioridade na garantia de proteção. A instituição, reconhecidamente base estrutural de nossa sociedade, precisa, a partir de então, não só ser respeitada em seu movimento de transformação e flexibilidade constituinte, como também protegida, o que é, sem dúvida, uma verdadeira “revolução” para nossa sociedade.”
Assim, apenas I e III estão corretas.
Gabarito Letra B
Referência
OSORIO, Luiz Carlos; VALLE, Maria Elizabeth Pascual do. Manual de terapia familiar. Porto Alegre: Artmed, 2009.
http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/pages/arquivos/1%20Edicao/1ordf.%20Edicao.%20Artigo%20PIZZI%20M.%20L.%20G.pdf
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/98537/stamato_jst_me_fran.pdf?sequence=1
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