René Kaës definiu vários princípios de análise para pensar as relações entre os diferentes espaços psíquicos incluídos no grupo. O princípio que explica a constância relativa da matéria psíquica nos três espaços psíquicos − o do grupo como entidade, o dos vínculos de grupo e o do sujeito singular no grupo −, corresponde ao princípio de constância e de
- A) complexidade do substrato psíquico.
- B) complementaridade de conteúdo psíquico.
- C) plurifocalidade da representação psíquica.
- D) incerteza dos significados psíquicos.
- E) transversalidade da matéria psíquica.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) transversalidade da matéria psíquica.
Questão complexa, que exige um conhecimento profundo da obra do autor mencionado.
Primeiramente, vamos analisar um trecho de seu livro. Selecionei as partes que são mais esclarecedoras sobre o tema. Vejamos:
O grupo é como um sonho porque ele é o lugar da realização de desejos inconscientes e, através deles, da manifestação dos efeitos do inconsciente. O ponto de vista que sustento é que essa realização e essa manifestação produzem-se em dois espaços psíquicos articulados: no sujeito singular e no grupo, constituído como espaço de uma realidade psíquica própria, irredutível à dos sujeitos considerados isoladamente. Minha tese é a de que os membros de um grupo comuniquem-se através de seu Eu onírico e que é, deste modo, que se constitui a matéria psíquica do grupo. Posso dizer isso de outra forma: fazer vínculo de grupo exige que seja constituído um espaço comum e partilhado, cuja matéria e a fórmula são tributárias das contribuições de cada um; essa matéria é propriamente onírica.
[...] A análise do processo associativo dos grupos conduziu-me a essa ideia de que, no discurso do grupo, o inconsciente se inscreve, várias vezes, em vários registros e em várias linguagens. Cada aparelho psíquico individual é o lugar de um trabalho psíquico singular, mas este trabalho é atravessado pelos processos e pelas formações psíquicas que se desenvolvem, de modo relativamente autônomo, no espaço grupal.
Como vemos, é uma teoria complicada. Apesar disso, vamos tentar entendê-la.
No último grifo, está a síntese do posicionamento do autor.
"Cada aparelho psíquico individual é o lugar de um trabalho psíquico singular, mas este trabalho é atravessado pelos processos e pelas formações psíquicas que se desenvolvem no espaço grupal."
A palavra "atravessado" nos faz entender o conceito de "transversalidade" da matéria psíquica, proposto pela questão. Significa que a matéria psíquica de cada indivíduo do grupo forma a matéria psíquica grupal, que por sua vez, constitui um espaço comum e partilhado. Dessa forma, as matérias psíquicas se cruzam e expressam o princípio da constância e da transversalidade.
Portanto, o princípio que explica a constância relativa da matéria psíquica nos três espaços psíquicos − o do grupo como entidade, o dos vínculos de grupo e o do sujeito singular no grupo −, corresponde ao princípio de constância e de transversalidade da matéria psíquica.
Fonte: KAES, René. Os espaços psíquicos comuns e partilhados: transmissão e negatividade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
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