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“No processo de conquista e colonização da América, os portugueses dependeram fundamentalmente dos povos indígenas. Os diferentes grupos etnolinguísticos aqui encontrados, tais como os Tamoio, Tupiniquim, Aimoré, e Goitacaz, entre outros, foram todos chamados índios pelos europeus. Na condição de aliados ou inimigos, eles desempenharam importantes e variados papéis na nova colônia que, então, se construía”.

Maria Regina Celestino de Almeida, “Povos Indígenas no Brasil”, in http://bndigital.bn.gov.br

A respeito das relações entre europeus e indígenas, durante o período de colonização da América Portuguesa, assinale a afirmativa correta.

Resposta:

A alternativa correta é letra D) A grande variedade de povos com línguas e culturas diversas foi reduzida a dois grandes grupos, Tupi e Tapuia, pelos cronistas, missionários e agentes europeu da colonização.

Gabarito: ALTERNATIVA D

   

 
  • a)  A chegada dos europeus na América gerou uma catástrofe demográfica, fruto da incapacidade de adaptação de portugueses, holandeses e ingleses à vida nos trópicos.

De fato, houve uma catástrofe demográfica em decorrência da chegada europeia nas Américas, mas ela não se abateu propriamente sobre os colonizadores. As populações originárias que tiveram contato com os europeus, além de enfrentamentos militares e escravização, depararam-se com antígenos absolutamente desconhecidos; ou seja, foram infectados com doenças desconhecidas por seus organismos, que não tinham respostas imunológicas suficientes para combater infecções como a sífilis, a gripe e a varíola. Isso implicou em epidemias devastadoras sobre essas populações, sendo uma das componentes mais importantes do intenso genocídio dos povos indígenas que significou a colonização europeia. Os europeus, ainda que tenham, sim, enfrentado importantes dificuldades para se instalarem nos territórios colonizados, não foram propriamente objeto de "uma catástrofe demográfica". Só na experiência colonial portuguesa, estima-se que cerca de 70% dos indígenas tenha sido vítima do genocídio decorrente da colonização. Alternativa errada.

 
  • b)  Os Tapuia habitavam o litoral e, por isso, os portugueses tiveram um contato mais prolongado com eles, o que permitiu que fossem mais bem conhecidos pelos europeus.

Tapuia é o nome dado pelas nações do tronco tupi para todos aqueles povos que não falavam a mesma língua que eles; isto é, povos pertencentes a ramos etnolinguísticos diferentes do Tupi. De uma maneira geral, as tribos tupi ocupavam a costa da América portuguesa, estando especialmente concentrados do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Foram as tribos tupis que estabeleceram os primeiros contatos com os colonizadores e, de uma maneira geral, foi com essas populações que os portugueses conseguiram estabelecer vínculos mais estáveis, incluindo alianças militares. Portanto, não faz sentido se dizer que esse lugar foi ocupado pelos tapuia. Alternativa errada.

 
  • c)  O vocábulo Tupi significava bárbaro para os ameríndios e foi usado para designar todos os grupos não Tapuia com os quais os colonizadores se deparavam.

A alternativa é um tanto quanto truncado, mas os erros são bastante claros. Como explicado acima "tapuia" era a denominação atribuída pelas nações do ramo tupi a todos aqueles indígenas que não falavam o tupi antigo - ou seja, identificada a diferença fundamental, homogeneizava-os numa perspectiva etnocêntrica. Já tupi é a denominação do ramo etnolinguístico que serve de identidade comum a partir da língua para uma série nações indígenas espalhada pela costa atlântica da América do Sul, expressando, assim, um certo grau de unidade dentro de um universo com muitas diversidades. Ou seja, de alguma forma, a alternativa inverte a relação entre tupi e tapuia. Alternativa errada.

 
  • d)  A grande variedade de povos com línguas e culturas diversas foi reduzida a dois grandes grupos, Tupi e Tapuia, pelos cronistas, missionários e agentes europeu da colonização.

Trata-se de assunto espinhoso que deveria ser tratado com maior cuidado pela douta banca. A ideia de tupi vem de uma raiz cultural e linguística comum que davam certo grau de identidade e de pertencimento entre nações bastante diversas entre si; no entanto, é uma ideia que vem da própria identidade daqueles povos, que viam na língua tupi um elemento de união. Já a denominação tapuia foi construída pelos povos do ramo tupi para definir aqueles que lhes são diferentes; ou seja, aqueles povos que não comungam de um universo cultural e linguístico elementar que é compartilhado pelos tupis. Ou seja, ao contrário do que a alternativa sugere, não são denominações exógenas criadas pelos europeus, mas classificações e simplificações presentes anteriormente no próprio universo cultural tupi. De fato, os registros dos europeus na colônia usaram, sim, categorias como essas e fizeram uso delas para simplificar em meio tanto a desconhecimento quanto a desinteresse sobre as nuances dos povos originários. No entanto, há de se observar que havia, sim, alguns relatos que buscavam identificar diferenças entre as nações indígenas, principalmente para buscar compreender o funcionamento e as dinâmicas gerais das guerras coloniais envolvendo esses povos.

 
  • e)  A principal estratégia da Coroa para submeter os ameríndios às leis do império português foi a subvenção de aldeamentos missionários franciscanos, sobretudo no sertão vicentino.

O caminho mais fácil para descartar essa alternativa é se pensar que foi a Ordem da Companhia de Jesus a principal expressão católica na obra de catequisar os indígenas na América portuguesa dentro de aldeamentos. Ou seja, foram os jesuítas, e não os franciscanos, os sócios maiores da Coroa portuguesa no empreendimento colonial, enviando missionários e mantendo um grande esforço de expansão do catolicismo por meio da conversão indígena - relação esta que só seria decisivamente rompida no século XVIII. Além disso, não se tratou propriamente de uma opção do Estado português, mas sim de uma aproximação necessária e óbvia entre o Estado e a Igreja para o grande empreendimento das Grandes Navegações como um todo. Afinal, num reino profundamente católico como Portugal, associar-se à missão maior de levar o cristianismo às terras ignoradas e aos povos gentios era uma grande motivação para empreender esses esforços. Por fim, observe-se que "sertão vicentino" não é uma expressão utilizada pela bibliografia para indicar a interiorização da colonização a partir de São Vicente, que foi chave para as importantes conquistas dos jesuítas no Planalto de Piratininga. Alternativa errada.

   

Como fica claro nos comentários acima, não foi apresentada nenhuma alternativa realmente correta, uma vez que a alternativa D, indicada como correta no gabarito da banca, conta com imprecisões muito significativas, o que impossibilita uma resolução perfeita da questão. Portanto, deveria a banca optar pela ANULAÇÃO da questão.

 

Nosso gabarito: ANULADA

Gabarito da banca: ALTERNATIVA D

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