Considere os seguintes trechos:
[…] dos fins de 1793 para começo de 1794, até julho, agosto-setembro de 1797, atuou na Cidade do Salvador um pequeno grupo de “homens de consideração”, brasileiros que repudiavam a exploração colonial e sentiam atração pela França das ideias democrático-burguesas […].
[…] homens livres, mas socialmente discriminados, mulatos, soldados, artesãos, ex-escravos e descendentes de escravos, conceberam a ideia de uma república que garantisse igualdade. São eles que estão falando em levante em 1798.
(TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Sedição Intentada na Bahia em 1798: A Conspiração dos Alfaiates.
São Paulo, Pioneira; Brasília, INL, 1975, p. 95-96)
O autor faz uma análise da Conjuração Baiana de 1798, também conhecida como Revolta dos Búzios, indicando que existiram duas fases do movimento. Nesse sentido,
- A) os “homens de consideração” eram brancos letrados que protagonizaram a primeira fase do movimento rebelde, encampando uma luta explícita pela liberdade e igualdade social na Bahia.
- B) as ideias democrático-burguesas defendidas pelos “homens de consideração”, em apoio ao catolicismo e à monarquia, ficaram conhecidas neste contexto baiano como as “francesias”.
- C) o cirurgião prático e lavrador, Cipriano José Barata de Almeida, foi um legítimo representante do grupo que protagonizou a segunda fase do movimento rebelde baiano de 1798.
- D) a condição social e racial influenciou a condenação dos homens que foram mortos na Praça da Piedade, em 8 de novembro de 1799, após a segunda fase do levante.
- E) o mestre alfaiate, João de Deus do Nascimento, foi um rebelde que representou os grupos identificados às duas fases do movimento, pois era pardo, letrado e com uma posição social de destaque nos fins do século XVIII.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) a condição social e racial influenciou a condenação dos homens que foram mortos na Praça da Piedade, em 8 de novembro de 1799, após a segunda fase do levante.
Gabarito: ALTERNATIVA D
(TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Sedição Intentada na Bahia em 1798: A Conspiração dos Alfaiates.
O autor faz uma análise da Conjuração Baiana de 1798, também conhecida como Revolta dos Búzios, indicando que existiram duas fases do movimento. Nesse sentido,
- a) os “homens de consideração” eram brancos letrados que protagonizaram a primeira fase do movimento rebelde, encampando uma luta explícita pela liberdade e igualdade social na Bahia.
O autor é muito claro ao caracterizar os "homens de consideração": "homens livres, mas socialmente discriminados, mulatos, soldados, artesãos, ex-escravos e descendentes de escravos". Ou seja, não eram os homens brancos os protagonistas desse movimento, mas sim negros e mulatos, as camadas mais discriminadas na sociedade colonial. Alternativa errada.
- b) as ideias democrático-burguesas defendidas pelos “homens de consideração”, em apoio ao catolicismo e à monarquia, ficaram conhecidas neste contexto baiano como as “francesias”.
Ora, estamos tratando aqui da França revolucionária, que abalara o mundo em 1789. A admiração dessas pessoas recaía, sim, sobre as inspirações democrático-burguesas dos revolucionários, mas principalmente sobre a república e sobre a laicização do Estado, grandes marcas do jacobinismo francês. A Conjuração Baiana tinha o objetivo de libertar a capitania da Bahia para fazer dela uma república laica livre da escravidão e de outras estruturas coloniais. Alternativa errada.
- c) o cirurgião prático e lavrador, Cipriano José Barata de Almeida, foi um legítimo representante do grupo que protagonizou a segunda fase do movimento rebelde baiano de 1798.
Membro da Conjuração Baiana e da Revolução Pernambucana (1817), Cipriano Barata seria um dos nomes mais destacados do esforço de libertação brasileira, chegando a ser deputado junto às Cortes Portuguesas. No entanto, não pode ser colocado como um membro típico do grupo revolucionário baiano. Afinal, ainda que tivesse experiência como lavrador, Barata era bacharel formado em Coimbra e tinha grande contato com o pensamento iluminista. Alternativa errada.
- d) a condição social e racial influenciou a condenação dos homens que foram mortos na Praça da Piedade, em 8 de novembro de 1799, após a segunda fase do levante.
Apesar de ter pessoas ilustres entre os revoltosos, como era o caso de Cipriano Barata, apenas os oriundos das classes mais baixas foram condenados à morte. Ao todo, cinco homens receberam a pena capital: dois soldados, um aprendiz de alfaiate, um mestre alfaiate e um ourives. As execuções tinham um recorte racial e social muito bem delimitado, evitando punir muito severamente os revoltosos vindos de classes mais altas. ALTERNATIVA CORRETA.
- e) o mestre alfaiate, João de Deus do Nascimento, foi um rebelde que representou os grupos identificados às duas fases do movimento, pois era pardo, letrado e com uma posição social de destaque nos fins do século XVIII.
Ainda que acerte na caracterização geral de João de Deus do Nascimento, a alternativa peca ao perceber o seu lugar social na sociedade soteropolitana. Não tinha ele uma posição de destaque na sociedade, ainda que atendesse a elite de Salvador em sua loja. Envolvido na redação de folhetos revolucionários, Nascimento acabaria executado em praça pública, tornando-se um dos mártires do levante baiano. Alternativa errada.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA D.
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