A severidade das penas foi desproporcional à ação e às possibilidades de êxito dos conjurados. Nelas transparece a intenção de exemplo, um exemplo mais duro do que o proporcionado pelas condenações aos inconfidentes mineiros. […] A insurreição de escravos iniciada em São Domingos, colônia francesa nas Antilhas, em 1791, estava em pleno curso e só iria terminar em 1801, com a criação do Haiti como Estado independente. Por sua vez, a Bahia era uma região onde os conflitos iam se tornando frequentes. Essa situação preocupava muito a Coroa portuguesa.
(Fausto, 2013.)
O trecho em questão se refere à Conjuração Baiana, ocorrida no contexto de outras rebeliões pelo Brasil. Essas rebeliões apresentaram em comum:
- A) O repúdio às ideologias literais francesas e a aquiescência e apoio da Igreja Católica.
- B) O protagonismo exclusivo das classes desprivilegiadas e a radicalização dos movimentos.
- C) A ausência de participação de elementos da elite e o ideário nacionalista e emancipacionista.
- D) A reprimenda das cortes e as discrepâncias econômicas que marcavam os lugares em que cada uma ocorreu.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) A reprimenda das cortes e as discrepâncias econômicas que marcavam os lugares em que cada uma ocorreu.
Gabarito: Letra D
A reprimenda das cortes e as discrepâncias econômicas que marcavam os lugares em que cada uma ocorreu.
As revoltas que ocorreram durante o período colonial foram marcadas pela oposição a algumas medidas ou figuras políticas ligadas à Coroa Portuguesa e que eram entendidas como prejudiciais aos colonos. Em cada região que eclodiram rebeliões havia discrepâncias econômicas que marcaram os lugares de ocorrência dos movimentos. Por exemplo, em Minas, a atividade predominante era a mineração e os elementos que se revoltaram tinham ligações com esse tipo de economia. Em Salvador, os revoltosos estavam ligados a atividades urbanas ou agrárias, como os engenhos de açúcar do Recôncavo Baiano.
No século XVIII, com a difusão do movimento iluminista essas ideias de contestação às autoridades ou medidas régias ganharam contornos de insatisfação com a monarquia portuguesa e geraram conspirações que pretenderam separar regiões importantes da Coroa, em função do seu caráter econômico, como a conjuração mineira de 1789, em Minas Gerais ou transformar uma capitania em mais "democrática" ou republicana, com ideias de igualdade e liberdade, como a tentativa organizada em Salvador em 1798, que ficou conhecida como conjuração baiana.
Outra semelhança entre as rebeliões foi o modo como a Coroa lidou com esses movimentos. Utilizando-se sempre de extrema violência na punição a fim de evitar novas tentativas de revolta, os agentes da monarquia em solo brasileiro foram exemplares em cumprir as disposições da Coroa ao realizarem as devassas, autos, inquéritos e executar penas de morte, como nos casos de Filipe dos Santos em 1720, Tiradentes em 1789 e os líderes da Conjuração Baiana em 1798, Lucas Dantas, João de Deus, Manuel Faustino e Luís Gonzaga das Virgens.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: O repúdio às ideologias literais francesas e a aquiescência e apoio da Igreja Católica.
Nas Conjurações Mineira e Baiana houve circulação das ideologias iluministas que foram postas em ação nas revoluções das 13 colônias e na França. Essa difusão era feita através de livros contrabandeados e panfletos contendo ideias de liberdade e igualdade.
Letra B: O protagonismo exclusivo das classes desprivilegiadas e a radicalização dos movimentos.
Em algumas rebeliões coloniais houve a participação das classes mais privilegiadas como senhores de engenho, comerciantes, mineradores e funcionários brasileiros da Coroa. Nem toda rebelião chegou ao radicalismo, como, por exemplo, a conjuração carioca de 1794 onde os participantes se reuniam para debater sobre ideias iluministas e do reformismo ilustrado.
Letra C: A ausência de participação de elementos da elite e o ideário nacionalista e emancipacionista.
Em algumas rebeliões coloniais houve a participação das classes mais privilegiadas como senhores de engenho, comerciantes, mineradores e funcionários brasileiros da Coroa. Tomemos por exemplo a Guerra dos Mascates, que opôs senhores de engenho de Olinda e comerciantes de Recife. Os senhores de engenho olindenses eram contrários às medidas adotadas pela Coroa no sentido de retirar a importância da vila e dotar Recife de autonomia política. As rebeliões coloniais não tiveram caráter nacionalista. Eram mais locais, restritas às capitanias. Além disso, nem todas foram emancipacionistas. Podemos citar apenas as Conjurações Mineira e Baiana com ideias de segregação de vilas ou povoados.
Referências:
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2000.
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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