O processo de ocupação das terras brasileiras no decorrer dos dois primeiros séculos após o descobrimento pode ser avaliado através das palavras de Gilberto Cotrim:
“A ilusão da existência permanente de novas áreas para a ocupação econômica criou atitudes, visões de mundo e táticas de exploração econômica em que tudo era tirado, destruído e abandonado à própria sorte sem reposição alguma.”
Tomando-se como referência a citação acima, pode-se concluir que:
- A) as riquezas naturais existentes na colônia eram tidas como inesgotáveis segundo a perspectiva dos colonizadores, justificando assim a utilização indiscriminada e predatória dos recursos existentes, o que consolidou uma noção utilitarista a cerca do meio ambiente e redundou em graves consequências no futuro.
- B) o impacto ecológico da intervenção colonizadora no Brasil foi devastador, gerando desdobramentos desastrosos para a população indígena, na medida que estimulou o crescimento acelerado desta, provocando, com o passar do tempo, a escassez dos meios de sobrevivência tradicionais utilizados pelo gentio.
- C) a posição metropolitana em relação à colônia brasileira era pautada pela visão de que esta deveria gerar as condições para o enriquecimento de Portugal a qualquer preço, extraindo-se o máximo de recursos naturais e matérias-primas possível para abastecer as manufaturas lusitanas em franco processo de expansão.
- D) o modelo econômico adotado na colônia, baseado na concepção liberal então dominante na metrópole, levou a um desenvolvimento rápido, porém, desordenado da economia brasileira, provocando crises financeiras profundas e recorrentes, e o agravamento dos sérios problemas urbanísticos e sociais já existentes.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) as riquezas naturais existentes na colônia eram tidas como inesgotáveis segundo a perspectiva dos colonizadores, justificando assim a utilização indiscriminada e predatória dos recursos existentes, o que consolidou uma noção utilitarista a cerca do meio ambiente e redundou em graves consequências no futuro.
Gabarito: Letra A
As riquezas naturais existentes na colônia eram tidas como inesgotáveis segundo a perspectiva dos colonizadores, justificando assim a utilização indiscriminada e predatória dos recursos existentes, o que consolidou uma noção utilitarista acerca do meio ambiente e redundou em graves consequências no futuro.
A colonização do Brasil se fez acompanhar de grande devastação do meio ambiente, inicialmente com o pau-brasil e, depois, com o plantio da cana de açúcar que dominou grandes áreas próximas ao litoral, mas não parou por aí, a exploração e cultivo de outros produtos de origem vegetais continuou a provocar intenso desmatamento.
O resultado da intensa extração do pau-brasil foi a escassez dessa madeira em poucas décadas, mesmo destino que tiveram inúmeras árvores frutíferas derrubadas sem a preocupação com o replantio.
Dessa forma, não se tinha nessa época a noção que temos hoje, de que os imensos recursos florestais brasileiros não eram e nem são infindáveis, e assim, operou-se uma verdadeira devastação da Mata Atlântica, que se estendia pelo litoral brasileiro, ocupando, em 1500, cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados, dos quais resta hoje, apenas 8% e ainda assim, espalhados em matas que, na maioria, localizam-se em propriedades privadas. Portanto, a lógica de utilização indiscriminada e predatória dos recursos naturais inaugurada pelos colonizadores perdurou por muito tempo, consolidando uma noção utilitarista do meio ambiente que até hoje deixa seus resquícios e consequências.
Por que as demais estão incorretas?
Letra B: o impacto ecológico da intervenção colonizadora no Brasil foi devastador, gerando desdobramentos desastrosos para a população indígena, na medida que estimulou o crescimento acelerado desta, provocando, com o passar do tempo, a escassez dos meios de sobrevivência tradicionais utilizados pelo gentio.
O impacto ecológico da intervenção colonizadora no Brasil foi devastador e gerou desdobramentos desastrosos para a população indígena, não porque estimulou o crescimento acelerado desta, mas sim porque, além de destruir, matar, prender e escravizar inúmeras aldeias indígenas, sua forma utilitarista e predatória de lidar com as riquezas naturais destruiu boa parte desses recursos, devastando o meio ambiente e alterando não só a disponibilidade desses recursos para as populações indígenas, mas também suas formas tradicionais de sobrevivência.
Letra C: a posição metropolitana em relação à colônia brasileira era pautada pela visão de que esta deveria gerar as condições para o enriquecimento de Portugal a qualquer preço, extraindo-se o máximo de recursos naturais e matérias-primas possível para abastecer as manufaturas lusitanas em franco processo de expansão.
A colônia portuguesa foi utilizada sim por Portugal com a perspectiva de gerar riqueza para a metrópole, tanto que impunha a sua colônia o exclusivo metropolitano, ou seja, o direito exclusivo da metrópole de comercializar com sua colônia, comprando os produtos por preços mais baixos para vender por preços mais altos no mercado europeu, porém o que era extraído, como o pau-brasil, ou produzido, como o açúcar, pela colônia portuguesa, no território que hoje chamamos de Brasil, não era dirigido ao abastecimento das manufaturas lusitanas, que só tiveram realmente algum incentivo durante o século XVIII com o Marquês de Pombal, mas sim a comercialização no mercado europeu.
Letra D: o modelo econômico adotado na colônia, baseado na concepção liberal então dominante na metrópole, levou a um desenvolvimento rápido, porém, desordenado da economia brasileira, provocando crises financeiras profundas e recorrentes, e o agravamento dos sérios problemas urbanísticos e sociais já existentes.
O modelo econômico adotado pela colônia não foi a concepção liberal, que também não era dominante na metrópole, mas sim o mercantilismo, que tinha como uma de suas práticas o intervencionismo estatal, prática essa que se contrapõe ao receituário liberal. O mercantilismo, adotado pela metrópole, e que impunha à colônia algumas práticas como, por exemplo, o monopólio comercial (ou exclusivo metropolitano), impossibilitou o desenvolvimento rápido de sua economia. Seu maior desenvolvimento ocorreu, primeiro, no final do século XVII, com a descoberta de ouro e metais preciosos na região das Minas, riqueza rapidamente esgotada, e anos depois com a transferência da Corte para o Brasil, já no século XIX.
Referências:
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 1. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 2. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
VAINFAS, Ronaldo et ali. História: o longo século XIX, volume 2. São Paulo: Saraiva, 2010.
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