“Quando o português chegou / Debaixo duma bruta chuva / Vestiu o índio / Que pena! / Fosse uma manhã de sol / O índio teria despido / O português”.
(Oswald de Andrade, Erro de português.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contexto da colonização portuguesa no Brasil, é correto afirmar:
- A) Ao desembarcar com a sua expedição no território brasileiro, o conquistador português Pedro Álvares Cabral acreditou ter chegado às Índias, razão pela qual assim chamou os habitantes originários do Brasil.
- B) Ao receber terras para cultivar, os colonos portugueses tratavam os indígenas como parceiros na exploração do novo território, influenciados pelo discurso religiosos dos jesuítas, que se interessavam estritamente pela salvação da alma dos
nativos.
- C) Na chegada dos portugueses e durante o processo de colonização, as várias tribos existentes no Brasil aceitaram sem qualquer resistência as mudanças impostas pelos conquistadores e pelos jesuítas, inclusive a adoção de novas
vestimentas e do cristianismo.
- D) No início da ocupação portuguesa do Brasil, o índio foi fundamental para a extração do pau-brasil, estabelecendo-se assim um contato que propiciou a expansão de doenças comuns no continente europeu e que para os nativos da América geralmente eram fatais .
- E) Embora detentores de culturas e formas de organização social específicas, os povos indígenas permanecem até hoje excluídos dos livros didáticos que abordam os primórdios da formação social brasileira.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) No início da ocupação portuguesa do Brasil, o índio foi fundamental para a extração do pau-brasil, estabelecendo-se assim um contato que propiciou a expansão de doenças comuns no continente europeu e que para os nativos da América geralmente eram fatais .
Gabarito: ALTERNATIVA D
“Quando o português chegou / Debaixo duma bruta chuva / Vestiu o índio / Que pena! / Fosse uma manhã de sol / O índio teria despido / O português”.
(Oswald de Andrade, Erro de português.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contexto da colonização portuguesa no Brasil, é correto afirmar:
- a) Ao desembarcar com a sua expedição no território brasileiro, o conquistador português Pedro Álvares Cabral acreditou ter chegado às Índias, razão pela qual assim chamou os habitantes originários do Brasil.
A alternativa confunde o erro de Cristóvão Colombo com a chegada cabralina à América do Sul. Tendo alcançado as terras americanas no Caribe, Colombo insistiu que completara sua viagem para as Índias, distorcendo gravemente as projeções de distância entre a Europa e o Oriente. A ideia de um Novo Mundo só seria definitivamente popularizada com Américo Vespúcio, enquanto Colombo insistiria em encontrar uma passagem a ocidente para as Índias. Sua chegada no final do século XV e o seu erro de interpretação daquela realidade, de fato, são associados à atribuição do nome de índios às populações originais encontradas. No caso cabralino, no entanto, já havia uma percepção clara de que se tratava de um novo mundo ao sul do equador, compreendendo logo de primeira hora que se havia feito um descobrimento. Até porque, é importante que se lembre, Vasco da Gama concluíra a rota para as Índias a partir da circunavegação do continente africano anos antes, o que dava aos mapas portugueses a clareza de que aquelas terras não pertenciam às Índias. Alternativa errada.
- b) Ao receber terras para cultivar, os colonos portugueses tratavam os indígenas como parceiros na exploração do novo território, influenciados pelo discurso religiosos dos jesuítas, que se interessavam estritamente pela salvação da alma dos nativos.
Há grande confusão dos acontecimentos na construção da alternativa. A colonização portuguesa mais sistemática (e, portanto, superando o extrativismo vegetal mais raso) foi estabelecida em meados do século XVI a partir de feitorias e do lançamento de capitanias hereditárias. Em um outro flanco, a expansão da fé cristã era a grande missão dos jesuítas na América portuguesa, embrenhando-se pelo território e aldeando indígenas para o esforços de catequização e para estabelecer comunidades mais fortes, inclusive economicamente com a exploração de drogas do sertão. O estabelecimento da agricultura, no entanto, seria bastante traumático para essas populações locais, com o apresamento e a escravização sistemática para fornecer mão de obra para o esforço produtivo. Este seria o grande ponto de atrito entre os latifundiários portugueses e os jesuítas, com estes pressionando a Coroa portuguesa pela proibição da escravização de indígenas em nome da proteção da obra católica e dos aldeamentos. Alternativa errada.
- c) Na chegada dos portugueses e durante o processo de colonização, as várias tribos existentes no Brasil aceitaram sem qualquer resistência as mudanças impostas pelos conquistadores e pelos jesuítas, inclusive a adoção de novas vestimentas e do cristianismo.
Numa alternativa dessa natureza, é fundamental que o candidato tenha alguma sensibilidade e perceba o absurdo que é imaginar um processo tão violento e complexo transcorrendo sem nenhuma forma de resistência ou de contradição grave em nenhum momento da história. Como comentado acima, havia tensões dentro do próprio processo colonizador, com rivalidades entre os jesuítas e os latifundiários. Além disso, houve, sim, diversos esforços de resistência indígena em diferentes momento desse processo. Por exemplo, há de se observar que o processo de colonização, por séculos, só conseguiu certa estabilidade nas regiões dominadas pelas nações do ramo Tupi, que, por diversos motivos, estabeleciam certas formas de aproximação com os colonizadores, mas, ainda assim, com formas de resistência. As nações de outras origens tendiam a ser mais distanciadas em relação à presença portuguesa e se dispersaram pelo interior do continente sem essas formas de aculturação. Em outra frente, por exemplo, há de se lembrar que a língua tupi resistiu em pontos importantes da colonização até o século XIX, como na província de São Paulo, onde a língua geral (forma híbrida de português com tupi) dominava há dois séculos. Portanto, não se pode associar esse processo de aculturação impune e acrítica com a colonização brasileira, que foi tanto marcada pela violência e pela miscigenação quanto pela resistência e pelas contradições profundas e graves. Alternativa errada.
- d) No início da ocupação portuguesa do Brasil, o índio foi fundamental para a extração do pau-brasil, estabelecendo-se assim um contato que propiciou a expansão de doenças comuns no continente europeu e que para os nativos da América geralmente eram fatais.
A alternativa é bastante simples, mas sólida. Até meados do século XVI, a principal atividade dos colonizadores portugueses era o extrativismo vegetal, com grande destaque para o pau-brasil. Com feitorias encravadas pela costa, esse esforço contou com negociações e aproximações com nações indígenas estabelecidas, o que se dava tanto pelo apresamento quanto por instâncias de negociação. A mão de obra indígena foi crucial nesse momento de extrativismo. Por outro lado, o contato com os portugueses e a ampliação da miscigenação também aprofundaram os contatos com as epidemias, introduzindo doenças absolutamente exóticas, às quais os indígenas não tinham proteções imunológicas. A gripe e a sífilis eram algumas das marcas biológicas mais profundas dessa presença europeia, o que implicou em tragédias gravíssimas para essas populações, afetando gravemente suas comunidades. ALTERNATIVA CORRETA.
- e) Embora detentores de culturas e formas de organização social específicas, os povos indígenas permanecem até hoje excluídos dos livros didáticos que abordam os primórdios da formação social brasileira.
Atualmente, as culturas indígenas tem certo espaço nos livros didáticos brasileiros depois de amargar décadas de exclusão muito estereotipada. Nas últimas décadas, houve um esforço governamental para observar com mais seriedade a produção científica sobre o tema, o que abriu caminho para uma maior atenção sobre essas populações. Ainda que o espaço não seja o ideal e ainda se precise um aprofundamento geral sobre o tema, há, sim, um avanço importante para se compreender os primeiros séculos da formação brasileira respeitando essas populações oprimidas. Alternativa errada.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA D.
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