Duas linhas de interpretação surgiram já nos primeiros anos: a dos vencedores e a dos vencidos, a dos republicanos e a dos monarquistas, aos quais vieram juntar-se com o tempo alguns republicanos que, desiludidos com a experiência, aumentaram o rol dos descontentes, exaltando as glórias do Império e ressaltando os vícios do regime republicano. (COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. – 6.ed. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999, p. 387).
O texto acima refere-se ao contexto da Proclamação da República no Brasil e, nele, a autora faz menção aos diversos argumentos republicanos de então. A esse respeito, assinale a afirmativa INCORRETA.
- A) Os republicanos procuravam atenuar os males do Império afirmando que advinham menos do imperador e muito mais da estrutura monárquica montada que o levou a ser, ao mesmo tempo, o seu maior representante e também a sua maior vítima.
- B) Os republicanos traziam à tona as revoluções e pronunciamentos a partir da Inconfidência Mineira, afirmando que a República sempre fora uma aspiração nacional e que a Monarquia era uma anomalia na América, repleta de repúblicas.
- C) Criticando a centralização excessiva do governo monárquico e a fraude eleitoral que possibilitava ao governo vencer sempre as eleições, consideravam a República a solução natural para os problemas, sendo efetivada por um grupo de homens idealistas e corajosos que conseguiram integrar o país às tendências do período.
- D) As arbitrariedades, os abusos do Poder Moderador, a manutenção da escravidão, a má gestão financeira e as guerras externas foram usadas como fatores da progressiva impopularidade da monarquia.
- E) Alguns republicanos afirmavam que a democracia no Brasil tivera origens étnicas no povoamento, e a Proclamação da República fora fruto da constituição etnográfica, da transição para um regime de trabalho agrícola e industrial, da propaganda republicana, da corrupção política e da deficiente administração do Império.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) Os republicanos procuravam atenuar os males do Império afirmando que advinham menos do imperador e muito mais da estrutura monárquica montada que o levou a ser, ao mesmo tempo, o seu maior representante e também a sua maior vítima.
Gabarito: ALTERNATIVA A
Duas linhas de interpretação surgiram já nos primeiros anos: a dos vencedores e a dos vencidos, a dos republicanos e a dos monarquistas, aos quais vieram juntar-se com o tempo alguns republicanos que, desiludidos com a experiência, aumentaram o rol dos descontentes, exaltando as glórias do Império e ressaltando os vícios do regime republicano. (COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. – 6.ed. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999, p. 387).
O texto acima refere-se ao contexto da Proclamação da República no Brasil e, nele, a autora faz menção aos diversos argumentos republicanos de então. A esse respeito, assinale a afirmativa INCORRETA.
- a) Os republicanos procuravam atenuar os males do Império afirmando que advinham menos do imperador e muito mais da estrutura monárquica montada que o levou a ser, ao mesmo tempo, o seu maior representante e também a sua maior vítima.
A transição brasileira para a república foi, sobretudo, um processo das elites dirigentes. Naquele momento, o eixo econômico já deixara de coincidir com o centro político, o que era a raiz da crise do sistema. Ao passo que a corte continuava dominada pelos velhos cafeicultores do Vale do Paraíba, desde a década de 1870, o protagonismo econômico passara para os produtores de café do Oeste paulista, que reclamavam da centralização de poder na corte sem acomodar as novas forças econômicas. Ou seja, havia, sim, uma preocupação com o desmonte de algumas estruturas monárquicas, mas não com todas. O núcleo civil do republicanismo brasileiro preferiria a manutenção da forma oligárquica agroexportadora, algo similar com a fórmula monárquica mas com protagonistas diferentes. Por conter erros, esta é a ALTERNATIVA CORRETA.
- b) Os republicanos traziam à tona as revoluções e pronunciamentos a partir da Inconfidência Mineira, afirmando que a República sempre fora uma aspiração nacional e que a Monarquia era uma anomalia na América, repleta de repúblicas.
A alternativa faz referência à propaganda republicana para criar uma narrativa nova a respeito da formação brasileira. Elegendo novos heróis e novos eventos históricos, esse processo veria na Inconfidência Mineira (1789) um marco do nacionalismo brasileiro associado à República e, mais importante, anterior à independência realizada pela monarquia. Nessa visão, pretendia-se defender que a experiência mineira poderia ser generalizada como um sentimento nacional profundo de identidade e de republicanismo. Ou seja, associava-se a monarquia à continuidade colonial ao mesmo tempo em que sequestrava para a república a causa da independência e os sentimentos das massas. Sem erros na alternativa.
- c) Criticando a centralização excessiva do governo monárquico e a fraude eleitoral que possibilitava ao governo vencer sempre as eleições, consideravam a República a solução natural para os problemas, sendo efetivada por um grupo de homens idealistas e corajosos que conseguiram integrar o país às tendências do período.
A alternativa faz referência aos quadros conceituais do período, mudavam severamente no quarto final do século XIX, principalmente dentro das Forças Armadas. O positivismo, grande corrente filosófica europeia, encontrou grandes adeptos no Brasil, principalmente uma classe média urbana ilustrada e o oficialato do Exército. Dentro da compreensão positivista, a monarquia constitucional seria uma fase inferior do desenvolvimento do governo civil, que só poderia encontrar a máxima expressão da racionalidade e da burocratização profissional sob a forma de uma república. Para os positivistas, um Estado monárquico é dominado por fatores irracionais do poder, o que atrasaria o desenvolvimento das sociedades; ao passo que a república exige o melhor da racionalidade dos melhores homens, abrindo espaço para um forma definitiva e bem acabada do governo civil e da evolução humana. Não por acaso, a bandeira republicana brasileira adotou o lema "ordem e progresso", máxima importante do positivismo. A interpretação seletiva do Exército brasileiro sobre o pensamento positivista foi fundamental para aprofundar as forças que desfecharam o golpe definitivo contra a monarquia. Sem erros na alternativa.
- d) As arbitrariedades, os abusos do Poder Moderador, a manutenção da escravidão, a má gestão financeira e as guerras externas foram usadas como fatores da progressiva impopularidade da monarquia.
A propaganda republicana encarou a monarquia como a raiz de todos os males da situação brasileira naquele final de século XIX. Como apontado acima, entendia-se que uma monarquia não conseguiria produzir uma burocracia bem organizada para a necessária transição da administração pública para práticas racionalizadas, porque estaria presa às formas tradicionais - bem como o peso central do Poder Moderador distorceria todo o sistema político e suas forças de representação. Além disso, ser a única monarquia entre as repúblicas sul-americanas, nessa visão, implicava em ser uma fonte de instabilidade, incapaz de ser aceita como igual entre os vizinhos. Nessa avaliação, as tensões no Prata decorreriam antes da forma de governo do Brasil do que propriamente das relações internacionais - que deveriam tender à harmoniosa convivência das repúblicas. Por fim, a escravidão foi sistematicamente associada à monarquia, sendo entendida como uma marca maior do atraso brasileiro e das contradições do império. Sem erros na alternativa.
- e) Alguns republicanos afirmavam que a democracia no Brasil tivera origens étnicas no povoamento, e a Proclamação da República fora fruto da constituição etnográfica, da transição para um regime de trabalho agrícola e industrial, da propaganda republicana, da corrupção política e da deficiente administração do Império.
Note o estudante que as questões administrativas já foram tratadas em outra alternativa, o que seria um indicativo de que ambas são corretas. Quanto à modernização industrial, lembre-se que o positivismo, fundamental no pensamento republicano brasileiro, defendia que apenas a república seria capaz de uma modernização real do país, associando a monarquia à velha estrutura econômica agroexportadora, ligada ao período colonial. A questão étnica acionava o mito das três raças como um aspecto fundacional da sociedade brasileira. Por essa lógica, a convivência "pacífica" de negros, europeus e indígenas fazia do Brasil um território com grande afinidade com a democratização e com a forma republicana, ao passo que a monarquia pressuporia elementos europeus. Sem erros na alternativa.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA A.
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