“Comecemos pela expressão ‘República Oligárquica’. Oligarquia é uma palavra grega que significa governo de poucas pessoas, pertencentes a uma classe ou família. De fato, embora a aparência de organização do país fosse liberal, na prática o poder foi controlado por um reduzido grupo de políticos em cada Estado.”
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1995, p. 61.
Assinale a opção que caracteriza corretamente um dos mecanismos próprios da ordem oligárquica brasileira na Primeira República.
- A) Com a política dos governadores, o governo estadual passou a sustentar os grupos dominantes em cada estado, em troca de apoio eleitoral para o Executivo federal.
- B) Com a aliança entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, detentores das maiores bancadas no Congresso no período, as oligarquias do Centro-Sul garantiram o controle do Executivo e do Legislativo federais.
- C) Com o coronelismo, controlou-se o eleitorado no campo, incorporado ao processo político pelo fim do critério censitário, e garantiu-se a hegemonia das oligarquias rurais regionais, interferindo no processo eleitoral.
- D) Com a criação de um novo ator político - os governadores, eleitos a partir das máquinas estaduais -, os estados aprofundaram o federalismo e combateram o coronelismo, visto como sobrevivência arcaica da ordem imperial.
- E) Com o pacto federativo, acirraram-se as hostilidades existentes entre Executivo e Legislativo, criando a disputa entre São Paulo e Minas Gerais pela presidência da República.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) Com o coronelismo, controlou-se o eleitorado no campo, incorporado ao processo político pelo fim do critério censitário, e garantiu-se a hegemonia das oligarquias rurais regionais, interferindo no processo eleitoral.
Gabarito: Letra C
Com o coronelismo, controlou-se o eleitorado no campo, incorporado ao processo político pelo fim do critério censitário, e garantiu-se a hegemonia das oligarquias rurais regionais, interferindo no processo eleitoral.
As relações políticas da Primeira República giravam em torno do poder de influência, dominação e mando dos coronéis de cada região nos resultados das eleições, processo possível graças ao fim do voto censitário e instituição do voto aberto, que permitia, fraudes, manipulações e o exercício de uma pressão política sobre os eleitores, seja através da violência, seja através das relações clientelistas.
Uma das principais características do coronelismo eram as relações clientelistas que eles mantinham com os eleitores de cada região e a sua capacidade de barganha. O que era possível graças ao prestígio do coronel e a sua capacidade de conceder empregos e cargos ou mesmo favores públicos ao grupo de pessoas apadrinhadas, que em troca lhe demonstrava fidelidade política, votando nos candidatos indicados pelo coronel.
Essas práticas, de conceder favores públicos em troca de votos, chamadas de clientelistas, estavam amplamente disseminadas na sociedade e na política da Primeira República, sendo baseadas numa estrutura de poder que ligava os coronéis mais influentes aos governos estaduais e federal.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: Com a política dos governadores, o governo estadual passou a sustentar os grupos dominantes em cada estado, em troca de apoio eleitoral para o Executivo federal.
A política dos governadores, estabelecida durante a presidência de Campos Sales (1898-1902), era um sistema de alianças entre o governo federal e os governos estaduais, no qual em troca de apoio dos governos estaduais à presidência e especialmente aos seus candidatos aos cargos políticos, o governo federal se comprometia a apoiar as oligarquias dominantes em cada Estado, evitando intervir em assuntos particulares a esses estados e concedendo verbas, empregos e favores aos seus aliados. Assim, com a política dos governadores, o governo federal, e não o estadual, passou a sustentar os grupos dominantes em cada estado, em troca de apoio eleitoral para o Executivo federal.
Letra B: Com a aliança entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, detentores das maiores bancadas no Congresso no período, as oligarquias do Centro-Sul garantiram o controle do Executivo e do Legislativo federais.
A principal aliança estabelecida durante a Primeira República foi entre Minas Gerais e São Paulo, e não entre Minas e Rio de Janeiro. A chamada Política do Café com Leite, que estabelecia uma aliança entre São Paulo (grande produtor de café) e Minas Gerais (segundo maior produtor de café e grande produtor de leite) para a escolha das sucessões à presidência ora atendendo aos interesses mineiros ora aos interesses paulistas e que estabeleceu o predomínio político de Minas Gerais e São Paulo, garantiu as oligarquias do sudeste o controle do executivo e do legislativo federais.
Letra D: Com a criação de um novo ator político - os governadores, eleitos a partir das máquinas estaduais -, os estados aprofundaram o federalismo e combateram o coronelismo, visto como sobrevivência arcaica da ordem imperial.
Durante a Primeira República as oligarquias estaduais aproveitaram-se do coronelismo, este não era visto como sobrevivência arcaica da ordem imperial, mas sim como recurso de interesse dessas oligarquias para se perpetuarem no poder.
Letra E: Com o pacto federativo, acirraram-se as hostilidades existentes entre Executivo e Legislativo, criando a disputa entre São Paulo e Minas Gerais pela presidência da República.
Não houve um acirramento de hostilidades entre o executivo e o legislativo com o pacto federativo, ou seja, com a forma de organização administrativa do Estado, que com a Proclamação da República e elaboração na nova Constituição Republicana, passou a ser federativa, com as antigas províncias do Império, transformadas em estados-membros, ganhando autonomia para eleger governador e deputados estaduais, elaborar sua própria constituição, constituir forças militares e estabelecer impostos.
Também não se estabeleceu uma disputa entre São Paulo e Minas Gerais em decorrência do federalismo. Angariando o apoio político dos demais estados, através da Política dos Governadores, e aliando-se entre si, através da Política do Café com Leite, paulistas e mineiros, abriram caminho para se manterem na presidência em vários mandatos durante a Primeira República, predominando politicamente durante esse período. Portanto, ocorreu a união, e não uma disputa, entre São Paulo e Minas Gerais, o que permitiu que liderassem a cena política nesse período.
Referências:
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral, volume 3. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
VAINFAS, Ronaldo et ali. História: o mundo por um fio: do século XX ao XXI, volume 3. São Paulo: Saraiva, 2010.
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