A diplomacia de Rio Branco, paradigmática para o período, buscou atender a três principais objetivos: a definição das fronteiras, o aumento do prestígio internacional dos país e a afirmação da liderança brasileira na América do Sul. Para a consecução desses fins, de modo bastante realista, Rio Branco optou pela política de “aliança não escrita” com os Estados Unidos.
SANTOS. LC.V.G. O dia em que adiaram o carnaval: política externa e a construção do Brasil. São Paulo. EdUNESP, 2010 (adaptado).
No texto em questão, a política externa brasileira esteve direcionada para
- A) obter um status de hegemonia no continente americano, descartando a atuação britânica na região pela aliança com os Estados Unidos e, futuramente suplantar esse aliado ocasional.
- B) distanciar as ligações com a Inglaterra e aproximar-se da órbita de influência estadunidense, porém estrategicamente mantendo a autonomia na atuação e objetivos traçados.
- C) ampliar as tensões regionais, num movimento belicista que apontava para a resolução dos conflitos pela via militar, contando com o apoio e material dos Estados Unidos.
- D) cumprir a agenda norte-americana identificada com a Doutrina Monroe e a política do Big Stick numa atuação de submissão calculada, procurando minimizar os efeitos negativos de tais investidas.
- E) estabilizar as tensões no continente americano e, concomitantemente, buscar alcançar objetivos estratégicos geograficamente localizados fora do espaço continental.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) distanciar as ligações com a Inglaterra e aproximar-se da órbita de influência estadunidense, porém estrategicamente mantendo a autonomia na atuação e objetivos traçados.
Gabarito: Letra B
(distanciar as ligações com a Inglaterra e aproximar-se da órbita de influência estadunidense, porém estrategicamente mantendo a autonomia na atuação e objetivos traçados.)
Com a Proclamação da República, a política externa brasileira buscou distanciar-se das relações há muito tempo construídas com os ingleses desde o tempo em que o Brasil era uma colônia de Portugal.
Houve uma aproximação com os EUA, por este país ser assim como o Brasil, uma nação republicana. Esse estreitamento de relação com os EUA é conhecido na diplomacia como “aliança não escrita”. Os primeiros acordos bilaterais de comércio entre Brasil e EUA datam de 1891, onde algumas mercadorias brasileiras (café e borracha) teriam livre ingresso no mercado norte-americano e o Brasil importaria equipamentos industriais dos EUA e outros produtos agrícolas, como o trigo.
Mas o que realmente se destacou da política externa brasileira antes da Primeira Guerra Mundial foram as diversas vitórias nas disputas fronteiriças com países vizinhos como a Guiana Francesa, o Peru e a Bolívia, denotando a força da diplomacia brasileira em buscar construir o território nacional e assegurar a proteção das comunidades de brasileiros existentes nessas regiões de disputa.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: obter um status de hegemonia no continente americano, descartando a atuação britânica na região pela aliança com os Estados Unidos e, futuramente suplantar esse aliado ocasional.
O objetivo da política externa nesse período era garantir o fortalecimento do Brasil na parte sul do continente americano. A ideia era que os EUA seriam uma potência na parte norte do continente e o Brasil no sul e assim eles trocariam auxílios e negociações econômicas e diplomáticas. Não havia o objetivo de no futuro suplantar os EUA como potência única do continente americano, pois era sabido que o Brasil não tinha força militar para isso.
Letra C: ampliar as tensões regionais, num movimento belicista que apontava para a resolução dos conflitos pela via militar, contando com o apoio e material dos Estados Unidos.
A diplomacia brasileira na Primeira República foi marcada pelas soluções pacíficas e diplomáticas. Um bom exemplo pode ser encontrado na chamada “Questão do Acre” em que a disputa desse território foi resolvida com a compra e não pela guerra. Isso marca uma nova orientação da política externa brasileira, que é a substituição da guerra pela diplomacia como resolução de disputas. No Império era bastante comum intervir militarmente nos países contrários aos interesses brasileiros.
Letra D: cumprir a agenda norte-americana identificada com a Doutrina Monroe e a política do Big Stick numa atuação de submissão calculada, procurando minimizar os efeitos negativos de tais investidas.
Na verdade, o Brasil não ficou submisso aos interesses dos EUA. O Brasil observava os EUA como um país que poderia rivalizar com nações europeias em questões militares e assim esperava dos EUA auxílio nas questões fronteiriças disputadas com os europeus (caso do Amapá) ou a neutralidade (caso do Acre que envolveu uma empresa dos EUA que explorava a borracha na região). As relações com os EUA não foram marcadas apenas pela amizade. Houve momentos de desacordos, como em reuniões internacionais em que os EUA apoiavam as resoluções dos europeus contra os países latino-americanos, contradizendo até mesmo a Doutrina Monroe, que pregava a “América para os americanos”.
Letra E: estabilizar as tensões no continente americano e, concomitantemente, buscar alcançar objetivos estratégicos geograficamente localizados fora do espaço continental.
Como o trecho afirma, a política externa brasileira durante a gestão do Barão do Rio Branco buscou resolver os problemas de fronteiras e lançar as bases de uma hegemonia do Brasil na América do Sul, desbancando a Argentina, principal influenciadora na região. Portanto, não buscava alcançar objetivos localizados fora do espaço do continente americano. Primeiramente era preciso se tornar um líder na parte sul do continente.
Referência:
RICUPERO, Rubens. A diplomacia na construção do Brasil (1750-2016). Rio de Janeiro: Versal, 2017.
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