Se em 1884 Rita Lobato abriu as portas para que mulheres estudassem medicina no Brasil, foi apenas em 1909 que a primeira mulher negra brasileira concluiu um curso na área. E, coincidentemente, a nova quebra de paradigma aconteceu na Bahia graças ao empenho e a luta de Maria Odília Teixeira, natural de São Félix do Paraguaçu (BA).
Pouco tempo depois, Maria Odília também se converteu na primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia, onde lecionou Clínica Obstétrica. Seu legado é seguido por filhos, netos e bisnetos, que seguiram a profissão da matriarca.
Disponível em: <https://newslab.com.br/as-mulheres-que-revolucionaram-asaude-no-brasil>. Acesso em: mai. 2021.
A história da Dra. Maria Odília Teixeira simboliza, no contexto da luta pela conquista de direitos no Brasil,
- A) a superação da legislação estabelecida pela Constituição de 1824, que proibia o negro liberto e alforriado de participar do processo eleitoral – mesmo tendo condições econômicas – e de exercer cargos públicos, após a independência política.
- B) a supressão da exclusão racial no Segundo Império, quando a proibição do tráfico negreiro e a posterior abolição da escravidão integrou o negro à sociedade brasileira, restringindo a entrada de imigrantes europeus no Brasil.
- C) as brechas que indivíduos negros abriam no sistema elitista da sociedade da Primeira República, fundamentado na teoria do branqueamento, que atribuía o atraso socioeconômico brasileiro à questão racial.
- D) a consolidação do nacionalismo populista getulista que, ao acelerar o processo de urbanização e industrialização, extinguiu as disparidades regionais, econômicas, sociais e étnicas existentes.
- E) o apoio que o regime ditatorial civil-militar estabeleceu em relação a pautas minoritárias como a questão racial, buscando desviar a atenção dos problemas advindos da concentração de renda e da repressão política.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) as brechas que indivíduos negros abriam no sistema elitista da sociedade da Primeira República, fundamentado na teoria do branqueamento, que atribuía o atraso socioeconômico brasileiro à questão racial.
Gabarito: ALTERNATIVA C
A história da Dra. Maria Odília Teixeira simboliza, no contexto da luta pela conquista de direitos no Brasil,
- a) a superação da legislação estabelecida pela Constituição de 1824, que proibia o negro liberto e alforriado de participar do processo eleitoral – mesmo tendo condições econômicas – e de exercer cargos públicos, após a independência política.
O caso de Maria Odília Teixeira não faz referência do direito ao voto, que, aliás, era vetado às mulheres até 1932. Além disso, a Constituição de 1824 não proibia o negro livre de participar das eleições, apenas exigia uma progressiva renda para exercer a cidadania plena. Alternativa errada.
- b) a supressão da exclusão racial no Segundo Império, quando a proibição do tráfico negreiro e a posterior abolição da escravidão integrou o negro à sociedade brasileira, restringindo a entrada de imigrantes europeus no Brasil.
O caso se passa no início do século XX; ou seja, já durante a Primeira República (1889-1930), que sucedeu ao Segundo Reinado (1840-1889). De toda forma, o processo de desmonte das estruturas da escravidão jamais foi seguido por um processo de real integração do negro à sociedade brasileira. Pelo contrário, foram sistematicamente excluídos ao mesmo tempo em que as estruturas sociais do racismo eram mantidas intactas. Por sua vez, durante todo o Segundo Reinado, houve grande incentivo à entrada de europeus no país como forma de garantir mão de obra assalariada para as lavouras brasileiras ao mesmo tempo em que se levava a cabo um projeto de embranquecimento populacional. Alternativa errada.
- c) as brechas que indivíduos negros abriam no sistema elitista da sociedade da Primeira República, fundamentado na teoria do branqueamento, que atribuía o atraso socioeconômico brasileiro à questão racial.
O pensamento cientificista do final do século XIX identificou na miscigenação brasileira as causas fundamentais do atraso geral do país, entendendo que o elemento negro era um símbolo de decadência e de degeneração na sociedade brasileira. Para "corrigir" o processo de miscigenação, insistiu-se no branqueamento populacional por meio da imigração, que atrairia brancos para o país. Esse horizonte de pensamento foi dominante durante a Primeira República e o caso abordado no enunciado mostra uma exceção à regra: o negro conseguindo passar pelas frestas de uma sociedade hierarquizada e excludente. ALTERNATIVA CORRETA.
- d) a consolidação do nacionalismo populista getulista que, ao acelerar o processo de urbanização e industrialização, extinguiu as disparidades regionais, econômicas, sociais e étnicas existentes.
O populismo getulista se concentrou entre 1930 e 1945; ou seja, em momento posterior ao caso citado no enunciado. Além disso, o processo de urbanização e de industrialização no período Vargas tinha o Sudeste como seu principal cavalo de batalha, aprofundando as disparidades em relação à decadente economia nordestina. Alternativa errada.
- e) o apoio que o regime ditatorial civil-militar estabeleceu em relação a pautas minoritárias como a questão racial, buscando desviar a atenção dos problemas advindos da concentração de renda e da repressão política.
A ditadura brasileira ocorreu de 1964 a 1985; ou seja, em momento muito posterior ao caso citado no enunciado. Além disso, o regime militar brasileiro tinha um corte absolutamente conservador, pouco afeito às minorias e sem nenhuma afinidade com a questão racial. Alternativa errada.
Note o estudante, por fim, que se tratava de um esforço de cronologia. Bastava, para solucionar a questão, enquadrar o ano de 1909, baliza fornecida pelo enunciado, dentro da Primeira República (1889-1930). Ou seja, um simples esforço de interpretação de texto com compreensões básicas sobre a história brasileira seriam suficientes para a resolução. Sem mais, está correta a ALTERNATIVA C.
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