Décio Villares, A República (Museu Republicano, RJ, ca 1900)
Produzida no contexto da implantação da ordem republicana no Brasil, esta imagem
- A) caracteriza representação cívica inspirada na Revolução Francesa, adequada ao projeto democrático estabelecido pelos republicanos brasileiros.
- B) faz uso alegórico de um tema clássico para expressar o repúdio à exclusão da participação feminina nas instituições políticas do Império.
- C) é uma alegoria da liberdade, da pátria e da nação, que contrasta com os limites da cidadania na nova ordem brasileira.
- D) emprega símbolo católico como estratégia para obter a adesão da Igreja e diminuir a animosidade dos movimentos messiânicos.
- E) é expressão artística do projeto positivista de divulgar uma concepção da sociedade brasileira sintonizada com os ideais de eugenia.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) é uma alegoria da liberdade, da pátria e da nação, que contrasta com os limites da cidadania na nova ordem brasileira.
Gabarito: Letra C
(é uma alegoria da liberdade, da pátria e da nação, que contrasta com os limites da cidadania na nova ordem brasileira)
A utilização da figura feminina no imaginário republicano brasileiro se assemelha à utilização da figura feminina no imaginário da República Francesa.
Se a monarquia era representada pela figura do rei, na transição para o novo regime, os idealizadores da República brasileira tiveram a necessidade de criar outros símbolos que representassem ideais como liberdade, pátria e nação em substituição do monarca.
Porém a proclamação da república brasileira, assim como a organização do regime republicano nos primeiros anos denotam que a
res publica (coisa pública), não era tão pública assim, uma vez que não houve participação e adesão popular.
O novo regime foi fundado por um grupo de homens da elite política, denotando assim, uma limitação na cidadania brasileira.
As pinturas que representam a república brasileira não apresentam as mulheres do povo brasileiro. São brancas, parecidas com as europeias. Nenhuma negra, mulata ou indígena representando a república.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: caracteriza representação cívica inspirada na Revolução Francesa, adequada ao projeto democrático estabelecido pelos republicanos brasileiros.
A imagem da república brasileira tem inspirações na república proclamada na Revolução Francesa, porém, o erro dessa alternativa é mencionar que havia um projeto democrático dos republicanos brasileiros. Havia projetos republicanos distintos, mas prevaleceu o projeto republicano positivista e militar, que tinha a mulher como figura representante da pátria e da nação.
Letra B: faz uso alegórico de um tema clássico para expressar o repúdio à exclusão da participação feminina nas instituições políticas do Império.
De acordo com José Murilo de Carvalho, os pintores positivistas, como Décio Villares, não se prenderam a modelos clássicos. Além disso, a imagem não representa um repúdio à exclusão da participação feminina em instituições políticas do Império, mas uma tentativa de construir um símbolo para o novo regime que tinha inspiração na mulher, tal como os positivistas preconizavam: a mãe-pátria.
Letra D: emprega símbolo católico como estratégia para obter a adesão da Igreja e diminuir a animosidade dos movimentos messiânicos.
A imagem não se trata de um símbolo católico. É uma inspiração do modelo de mulher republicana para tentar criar um imaginário republicano brasileiro. No mesmo contexto de produção de obras de figuras femininas que retratam a república, havia obras que representavam a virgem maria contra essa mulher republicana.
Letra E: é expressão artística do projeto positivista de divulgar uma concepção da sociedade brasileira sintonizada com os ideais de eugenia.
De fato, a pintura é expressão artística de um pintor de orientação positivista, mas os positivistas não tinham os ideais de eugenia como parte de suas orientações ideológicas. Os positivistas defendiam a superioridade da raça negra sobre a branca e não o contrário. Mas se pintaram mulheres brancas é porque tinham como modelo as mulheres europeias e não as brasileiras.
Referência:
CARVALHO, José Murilo. A formação das Almas: O imaginário da República no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1990.
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