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“A cidade passa a ditar modas, a difundir ideias, a alterar a própria sensibilidade social cada vez mais voltada para o novo, para o moderno, para o artificial, para o não-familiar”. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Nordestino: uma invenção do falo. Maceió: Catavento, 2003, p. 101). De acordo com a problematização exposta por Durval Muniz, é correto afirmar que:

Resposta:

A alternativa correta é letra E) O advento da República e a intensificação dos processos de urbanização podem ser interpretados como a feminização da sociedade, o que desagradou e foi combatido pelos defensores do patriarcalismo tradicional, do mundo rural e dos aspectos coloniais.

Gabarito: ALTERNATIVA E

  

“A cidade passa a ditar modas, a difundir ideias, a alterar a própria sensibilidade social cada vez mais voltada para o novo, para o moderno, para o artificial, para o não-familiar”. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Nordestino: uma invenção do falo. Maceió: Catavento, 2003, p. 101). De acordo com a problematização exposta por Durval Muniz, é correto afirmar que:

 
  • a) Os nivelamentos sociais urbanos, expressos na abolição da escravatura, na presença do estrangeiro, na proposta comunista, nos distanciamentos e disputas entre patrões e empregados, entre outros, viabilizaram o cosmopolitismo.

A alternativa apresenta vários erros, facilitando muito o trabalho do candidato. Primeiro, nem a abolição da escravatura nem as ondas imigratórias representaram, de fato, um "nivelamento social urbano". A Lei Áurea (1888), apesar de toda sua importância, não moveu nenhum esforço efetivo para a inserção social dos escravos libertos, que, em sua maioria, ficaram relegados aos subúrbios sem qualquer tipo de política reparatória que promovesse o tal nivelamento. No caso dos imigrantes, uma parte significativa foi deslocada para as zonas rurais; e aqueles que foram para as cidades também foram marginalizados, tornando-se operários e vivendo em cortiços, além de toda sorte de preconceitos por parte da elite estabelecida. As propostas comunistas e as lutas de classe no Brasil eram, antes, ecos esparsos e mal elaborados durante o Modernismo brasileiro; ainda que houvesse um ou outro ponto mais agudo nessas relações, essa modernização pouco dialogou com elas. O cosmopolitismo que começou a germinar no país antes resultou do retorno da Europa dos filhos das elites brasileiras, principalmente na década de 1920. Impressionados com a ebulição político-cultural europeia do início do século, esses jovens voltaram ao país dispostos a fazer esforços por sua modernização. Alternativa errada.

 
  • b) A urbanização promove uma acentuação nos antigos processos de masculinização entre os homens e de feminização para as mulheres, assegurando a divisão social dos papeis sociais de acordo com o sexo sem gerar grandes conflitos.

A urbanização brasileira teve grande impacto nas questões de gênero em nossa sociedade. Além da psiquê da grande cidade, a vida material impunha dinâmicas muito diferentes daquela verificada no campo. Paupérrimos, esses novos citadinos são forçados a encontrar moradia em cortiços e subúrbios de toda sorte sob uma carestia severa, o que abriu espaço para um aumento no engajamento feminino no mercado de trabalho, o que era visto como impossível numa divisão social anterior. Além disso, surgia uma demanda relevante em novos postos de trabalho considerados "femininos", ampliando a possibilidade de participação das mulheres. Nas classes mais altas, a urbanização as colocou em contato com as questões europeias de maneira decisiva, fazendo surgir movimentos pelo sufrágio feminino e criando um nova cultura no qual o papel da mulher também estava sendo rediscutido. Por óbvio, essas acomodações sociais foram seguidas por conflitos, mas as mulheres foram conquistando postos de destaque em vários pontos da sociedade. Alternativa errada.

 
  • c) As cidades permitiram a ascensão de novos perfis sociais amplamente aceitos. Enquanto a mulher moderna estava expressa na figura da “melindrosa” ou da “cocote”, o homem era representado na imagem asséptica do “almofadinha”.

O primeiro erro grave presente na alternativa é falar em "novos perfis sociais amplamente aceitos". Essas transformações foram vividas num ambiente de grandes atritos sociais, com grande resistência nas classes sociais mais elevadas e nos meios mais antigos no nosso processo de urbanização. A nova figura feminina, disposta ao mercado de trabalho, engajada nas artes e nos debates intelectuais, ruborizava setores mais conservadores e foram poucas as mulheres que conseguiram de fato se inserir nesse momento, ainda que tenham sido preciosas pioneiras. Por exemplo, as atrizes brasileiras da época tinham de emitir, junto à Polícia Federal, uma carteira de trabalho especial (de cor rosa) para que pudessem trabalhar profissionalmente: no entanto, era a mesma classe de registro destino às prostitutas. Melindrosa e cocote eram apenas dois dos muitos retratos disponíveis à época para as mulheres, que também eram confundidas em muitos outros preconceitos; mas poucos papéis eram de fato aceitos socialmente sem algum grau de disputa. Aos novos homens urbanos, a figura do "almofadinha" era uma das disponíveis, mas também visto com grandes reservas. O novo intelectual brasileiro também flertava com essa configuração: o rapaz bem nascido, formado em Direito e versado em artes na Europa; mas tampouco era facilmente aceito. Alternativa errada.

 
  • d) A horizontalização proposta pelas mulheres era um reforço na manutenção das desigualdades entre os sexos. Assim, a luta do movimento feminista de primeira onda contribuiu para dilapidar as heranças do patriarcalismo defendido por Gilberto Freyre.

O chamado "feminismo de primeira onda" defendeu antes direitos individuais elementares para as mulheres na primeira metade do século XX brasileiro. Entre as lutas no campo dos direitos civis, podemos elencar a questão do sufrágio feminino, o divórcio, a capacidade jurídica de tomar algumas decisões e o acesso a lugares públicos tidos como tipicamente masculinos. Portanto, era uma questão muito mais ligada a direitos elementares do que qualquer enfrentamento mais direto ao patriarcado. Alternativa errada.

 
  • e) O advento da República e a intensificação dos processos de urbanização podem ser interpretados como a feminização da sociedade, o que desagradou e foi combatido pelos defensores do patriarcalismo tradicional, do mundo rural e dos aspectos coloniais.

Concomitante às primeiras décadas da República, o brasil viveu seu primeiro processo de urbanização mais robusto. Entre a industrialização, o êxodo rural e o florescimento do setor de serviços, a economia brasileira tracionava no sentido da urbanização e a sociedade se transformava junto com isso. Como já comentado, as questões de gênero ebuliram numa disputa bastante significativa e gerou reações de setores mais conservadores da sociedade. Numa República dominada pelas oligarquias agroexportadoras, o patriarcalismo brasileiro teve grandes tribunas para combater o avanço da feminização da sociedade. Mas, ainda assim, as mulheres conseguiram marcar posições importantes e definitivas nesse processo da sociedade brasileira. ALTERNATIVA CORRETA.

  

Sem mais, está correta a ALTERNATIVA E.

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