Podeis interrogar, talvez: quais são as aspirações das massas obreiras, quais os seus interesses? E eu vos responderei: ordem e trabalho! Em primeiro lugar, a ordem, porque na desordem nada se constrói; porque num país como o nosso, onde há tanto trabalho a realizar, onde há tantas iniciativas a adotar, onde há tantas possibilidades a desenvolver, só a ordem assegura a confiança e a estabilidade. O trabalho só se pode desenvolver em ambiente de ordem.
Discurso de Getúlio Vargas, pronunciado no Palácio da Guanabara, no dia do Trabalho (1º de Maio, 1938). BONAVIDES, P.; AMARAL, R. Textos políticos da História do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2002 (adaptado).
O discurso de Getúlio Vargas, proferido durante o Estado Novo, envolve uma estratégia política na qual se evidencia
- A) o estímulo à ação popular, que poderia tomar para si o poder político.
- B) o disfarce das posições socialistas como anseios populares.
- C) a dissimulação do nazifascismo, para sua aceitação pela elite política.
- D) o debate sobre as políticas do Estado, objetivando o consenso entre os partidos.
- E) a apresentação do projeto político do governo como uma demanda popular.
Resposta:
A alternativa correta é letra E) a apresentação do projeto político do governo como uma demanda popular.
Gabarito: Letra E
A apresentação do projeto político do governo como uma demanda popular.
O discurso de Vargas mostra-se impregnado do corporativismo que procurou empreender no seu governo visando a conciliação nacional entre as classes e a eliminação de conflitos. Ao se colocar como arbitro das relações entre patrões e empregados, o Estado varguista buscou atender reivindicações antigas dos trabalhadores ao mesmo tempo que estabeleceu exigências para o acesso dos trabalhadores aos direitos criados.
Dessa forma, passou a exercer um maior controle sobre os sindicatos e associações de trabalhadores visando evitar a incidência de conflitos trabalhistas. Parte de sua estratégia para a cooptação dos trabalhadores esteve justamente na autopropaganda que fez associando a sua imagem a uma virtuosa concessão de direitos trabalhistas, como se os direitos atendidos não se baseassem em reivindicações antigas, mas fosse sim algo dado a priori pelo governante aos seus governados. O intuito de suas ações era evitar as greves e conflitos que eram considerados causadores de instabilidade política. Ao colocar as questões trabalhistas ou os interesses de diferentes classes sob o arbítrio do Estado, era possível influir sobre essas questões e relações sociais e trabalhistas de modo a influenciar os seus rumos.
Assim, o discurso apresentado na questão mostra mais uma vez a tentativa de influenciar os trabalhadores ao relacionar o trabalho à ordem. Com isso procurava relacionar os trabalhadores ao compromisso de evitar greves e conflitos, pois eles estariam desconectados de suas “verdadeiras aspirações”.
Por que as demais estão incorretas?
Letra A: o estímulo à ação popular, que poderia tomar para si o poder político.
Em nenhum momento o discurso de Vargas sugere a tomada de poder pela ação popular, pelo contrário, seu discurso procura mobilizar os trabalhadores a agir dentro da “ordem” estabelecida.
Letra B: o disfarce das posições socialistas como anseios populares.
Em nenhum momento o discurso de Vargas sugere a presença de posições socialistas disfarçadas, e não poderia já que Vargas era contrário as ideias socialistas e deu o golpe do Estado Novo sob a justificativa de combate ao comunismo.
Letra C: a dissimulação do nazifascismo, para sua aceitação pela elite política.
Além de não haver no discurso de Vargas a indicação de uma dissimulação do nazifascismo, não podemos dizer que o regime ditatorial instalado por Vargas possuía caráter fascista. Apesar de algumas semelhanças com o fascismo europeu, como a ênfase no poder do Executivo personificado numa liderança única, sua natureza era outra: autoritária, modernizante e pragmática.
Letra D: o debate sobre as políticas do Estado, objetivando o consenso entre os partidos.
Além do discurso de Vargas não sugerir e nem visar ao debate das políticas do Estado, não havia de sua parte o objetivo de gerar consenso entre partidos já que esses foram extintos com o golpe do Estado Novo, em novembro de 1937.
Referências:
MUNAKATA, Kazumi. A legislação trabalhista no Brasil. São Paulo, Brasiliense 1985.
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Deixe um comentário