Para Boris Fausto, o integralismo se definiu como uma doutrina nacionalista, cujo conteúdo era mais cultural do que econômico.
FAUSTO, Boris História do Brasil São Paulo Edusp: FDE, 1995, p. 353.
Entre as características básicas do Integralismo, pode-se apontar
- A) o apoio ao liberalismo, ao socialismo e às oligarquias agrárias nordestinas de cunho nacionalista.
- B) a aliança com fileiras da Igreja das comunidades eclesiais de base, apoiando a reforma agrária.
- C) o antissemitismo exacerbado, aliado aos comunistas.
- D) o controle do Estado sobre a economia, sinalizando para os princípios: Deus, Pátria e Família.
- E) o ufanismo nacionalista aliado aos setores ligados ao capital financeiro.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) o controle do Estado sobre a economia, sinalizando para os princípios: Deus, Pátria e Família.
Gabarito: ALTERNATIVA D
Os integralistas - organizados na Ação Integralista Brasileira (AIB) de Plínio Salgado - eram uma espécie de expressão brasileira do nazi-fascismo europeu e, portanto, tinham aversão absoluta ao comunismo. A doutrina integralista estabelecia o lema "Deus, pátria e família" como forma de expressar sua ojeriza ao comunismo ao mesmo tempo em que propunha uma sociedade fortemente organizada por valores profundamente reacionários a partir de uma ordem centralizadora e vertical. Fundada em 1932, a AIB teria importantes adesões no espectro político brasileiro e se aproximaria crescentemente de Getúlio Vargas até 1937, quando todas as organizações políticas foram postas na ilegalidade pelo golpe do Estado Novo. Ainda assim, até 1938, integralistas e o governo Vargas partilharam de um relacionamento político bastante próximo e cercado por simpatias mútuas.
As colorações fascistas de Vargas e a proximidade com a Alemanha nazista estabeleciam pontes de apoio político com os integralistas, principalmente em suas agendas de combate ao comunismo no Brasil e a defesa de um Estado forte e centralizado. Apesar de todas as simpatias e proximidades, no entanto, as relações foram se desgastando no final da década de 1930, quando Vargas endurecia internamente o regime mas não se decidia por uma adesão total ao fascismo/integralismo. As esperanças integralistas quanto ao Estado Novo estavam em pleno declínio, principalmente por Vargas ter banido a AIB sob o regime de partido único sem ter adotado integralmente a sua ideologia para compor o Estado Novo. Em 1938, os integralistas tentariam dois levantes armados contra o governo e foram derrotados em ambos pelas forças policiais, o que culminaria com a partida de Plínio Salgado para o exílio. Assim, observemos as alternativas propostas.
- a) o apoio ao
liberalismo, ao socialismo e às oligarquias agrárias nordestinasde cunho nacionalista.
Como explicado acima, o integralismo, assim como o nazifascismo, tinha no anticomunismo uma de suas bases mais elementares, entendendo que os movimentos de extrema-esquerda eram uma ameaça profunda aos valores como família e propriedade privada. Já o liberalismo era visto pelos integralistas como um elemento de corrupção dentro das sociedades ocidentais. Após a crise de 1929, havia uma desconfiança importante quanto à capacidade do liberalismo de dar respostas às demandas da sociedade e, acima disso, assegurar a ordem social. Esse pensamento totalitário via na democracia e nas instituições liberais uma nascente dos dissensos dentro da sociedade, fragilizando-a ao invés de fortalecê-la sob o discurso de uma sociedade unificada e orientada. Ainda que seja correto se atribuir o pensamento nacionalista aos integralistas, não se pode ver uma aliança com as oligarquias agrárias do nordeste, uma vez que essas eram entendidas como um elemento de atraso brasileiro. Alternativa errada.
- b) a aliança com fileiras da Igreja das
comunidades eclesiais de base, apoiando a reforma agrária.
A reforma agrária era um dos temas que mais causava ojeriza ao integralismo. Na visão desse grupo, a pauta da reforma agrária continha as sementes elementares do socialismo, uma vez que poderia enfraquecer a propriedade privada e os valores tradicionais de organização social. A noção de justiça social era, nesse entendimento, uma corrupção da ordem "natural" da sociedade, que deveria ser reforçada por um discurso reacionário de ordem, e não de equidade. Ainda que o integralismo fosse profundamente religioso e especialmente próximo a setores conservadores da Igreja Católica no Brasil, não guardava qualquer relação com as agendas de base e de contato efetivo com as massas. Alternativa errada.
- c) o antissemitismo
exacerbado, aliado aos comunistas.
O antissemitismo, apesar de ser extremado no nazismo, não era algo muito marcante no integralismo, ainda que presente - afinal, os integralistas tinham maior repulsa aos ateus do que qualquer grupo religioso. No entanto, o erro absoluto da questão está na possibilidade de aliança integralista com os comunistas brasileiros, uma vez que a negação absoluta do comunismo era algo definidor do integralismo. Alternativa errada.
- d) o controle do Estado sobre a economia, sinalizando para os princípios: Deus, Pátria e Família.
Como explicado acima, o integralismo tinha grande aversão ao liberalismo, entendendo que o dirigismo estatal deveria ser o vetor de organização da economia, mas sempre em associação direta com a burguesia nacional. Ou seja, não se tratava de uma economia planificada à maneira soviética, que pretendia abolir o mercado; mas sim um pensamento segundo o qual o Estado deveria ter condições de intervenção na vida econômica de maneira a orientar as linhas gerais do seu rumo ao mesmo tempo em que estava aliado com os setores produtivos e preservando algum grau de liberdade econômica no mercado doméstico. Por fim, conforme já explicado, o lema do integralismo era "Deus, pátria e família". ALTERNATIVA CORRETA.
- e) o ufanismo nacionalista aliado aos
setores ligados ao capital financeiro.
De fato, o nacionalismo era uma marca profunda do integralismo, entendo que a exaltação dos valores e das tradições nacionais deveria ser um ponto de convergência e de hierarquização de toda a sociedade. No entanto, não faz sentido se falar de uma aliança com o capital financeiro, uma vez que este estava muito associado ao liberalismo. Para o integralismo, era fundamental garantir o desenvolvimento brasileiro pela melhor alocação de recursos a partir dos interesses organizados pelo Estado. Portanto, a volatilidade especulativa dos capitais financeiros eram antes compreendidos como formas de enfraquecimento nacional do que como uma força favorável ao desenvolvimento. Alternativa errada.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA D.?
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