Em 1937, Vargas dizia que:
“(…) não se oferecia outra alternativa além da que foi tomada, instaurando-se um regime forte, de paz, de justiça e de trabalho. Quando os meios de governo não correspondem mais às condições de existência de um povo, não há outra solução senão mudá-los, estabelecendo outros moldes de ação.” (FENELON, D. 50 textos de História do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1974, p. 159.)
Tendo em vista o Estado Novo, podemos considerar INCORRETO que:
- A) o Estado Novo se constituiu em decorrência de uma política de massas que se foi definindo no Brasil a partir da Revolução de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
- B) esse tipo de política, voltada para as classes populares, desenvolveu-se no período entre as guerras a partir das críticas ao sistema liberal, considerado incapaz de solucionar os problemas sociais.
- C) uma das soluções propostas era a do controle social através da presença de um Estado forte comandado por um líder carismático, capaz de conduzir as massas no caminho da ordem.
- D) o crescimento de movimentos sociais e políticos na década de 1920 fez com que o fantasma da Revolução Russa assombrasse setores das elites intelectuais e políticas brasileiras. A questão social passou a ser debatida intensamente sendo 1937 uma consequência direta de 1917.
- E) a mudança política produziu um redimensionamento do conceito de democracia norteada por uma concepção particular de representação política e de cidadania, sem intermediários e a revisão do papel do Estado.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) o crescimento de movimentos sociais e políticos na década de 1920 fez com que o fantasma da Revolução Russa assombrasse setores das elites intelectuais e políticas brasileiras. A questão social passou a ser debatida intensamente sendo 1937 uma consequência direta de 1917.
Gabarito: ALTERNATIVA D
Em 1937, Vargas dizia que:
“(...) não se oferecia outra alternativa além da que foi tomada, instaurando-se um regime forte, de paz, de justiça e de trabalho. Quando os meios de governo não correspondem mais às condições de existência de um povo, não há outra solução senão mudá-los, estabelecendo outros moldes de ação.” (FENELON, D. 50 textos de História do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1974, p. 159.)
Tendo em vista o Estado Novo, podemos considerar INCORRETO que:
- a) o Estado Novo se constituiu em decorrência de uma política de massas que se foi definindo no Brasil a partir da Revolução de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
Ao contrário das oligarquias da Primeira República (1889-1930), Getúlio Vargas buscou nas massas e no esforço de urbanização a criação de novos apoios para o seu governo, principalmente a partir da segunda metade da década de 1930. A modernização do país, naquela visão, passava por um esforço de industrialização a partir de substituição de importações, o que demandava a urbanização e pressionava a formação de um novo operariado nas grandes cidades. A política de massas de Vargas viu nisso uma janela de oportunidade única para compor uma nova base de sustentação e usou da imagem pessoal do presidente para criar um vínculo direto entre o político e as massas. O Estado Novo, com a claríssima guinada autoritária de Vargas, exigia essas novas bases, já que havia um divórcio grave com as oligarquias tradicionais sob o regime de partido único. A sustentação do regime autoritário estava umbilicalmente ligada ao surgimento desses novos apoios populares. Sem erros na alternativa.
- b) esse tipo de política, voltada para as classes populares, desenvolveu-se no período entre as guerras a partir das críticas ao sistema liberal, considerado incapaz de solucionar os problemas sociais.
A crise do sistema liberal no mundo é anterior à ascensão varguista no Brasil, mas suas consequências ainda nos alcançariam em pouco tempo. A crise econômica de 1929 e suas graves consequências por todo o mundo geravam dúvidas sobre a capacidade do pensamento liberal de prover a vida social de características básicas. Mais grave, as propostas totalitárias viam nas instituições liberais fontes de enfraquecimento da coletividade pelo dissenso interno, abrindo espaço para supostas conspirações internacionais e "infiltração do comunismo". Esse discurso foi bastante absorvido elo varguismo no Brasil ao longo da década, mas teria sua expressão mais avançada no golpe do Estado Novo. Naquele momento, Vargas argumentava que se deveria estabelecer uma relação direta com as massas, colocando o personalismo e o mandonismo acima das instituições tradicionais. A solução dos problemas sociais passavam a ser emanadas diretamente do presidente e os conflitos sociais eram tragados para dentro do Estado, que passava a ser a grande instância de mediação. Os meios tradicionais para tal eram dados como ineficientes e enfraquecedores da sociedade, valorizando o Estado forte como a grande chave a para superação das dificuldades. Sem erros na alternativa.
- c) uma das soluções propostas era a do controle social através da presença de um Estado forte comandado por um líder carismático, capaz de conduzir as massas no caminho da ordem.
Como comentado acima, o Estado Novo tinha por vocação tragar a sociedade e seus conflitos para dentro do Estado, que seria robustecido e modernizado sob a figura carismática de Vargas. Havia, de fato, uma mobilização das massas, mas não para criar consciência de classe ou algo que o valha, e sim para ordenar a vida social sob os princípios do regime. Organizações como sindicatos e escolas foram, de fato, fortalecidas por Vargas, mas não como espaços de disputa de diferentes grupos sociais, e sim como reprodutores de discursos oficiais e garantidores da ordem social. A defesa da modernização passava por dentro de um arcabouço profundamente autoritário, no qual os processos seriam impostos pelo novo governo até a base da pirâmide sob um poderoso (e renovado) aparato de repressão. Sem erros na alternativa.
- d) o crescimento de movimentos sociais e políticos na década de 1920 fez com que o fantasma da Revolução Russa assombrasse setores das elites intelectuais e políticas brasileiras. A questão social passou a ser debatida intensamente sendo 1937 uma consequência direta de 1917.
Ainda que houvesse um nascente movimento trabalhista brasileiro na década de 1910, a urbanização do país era extremamente rarefeita para que se pensasse em mobilizações de massa. Além disso, a repressão contra as greves gerais do período foram brutais e enfraqueceram decisivamente essas mobilizações. O tenentismo se configurou como uma importante força política no Brasil ao longo da década de 1920, que foi marcada no país pelos levantes liderados pelos jovens oficiais do Exército. Esses militares entendiam que o esforço positivista dos militares que implantaram a República no país foi traído pela ascensão oligárquica, que consagrou seus redutos de poder à custa do aprofundamento do subdesenvolvimento e do enfraquecimento do Estado. Esse setor, portanto, defendia uma modernização geral do Estado como indutora da transformação social, o que passaria diretamente pelo reforço do projeto republicano original, profundamente marcado pelo pensamento positivista. Assim, era profundo o sentimento antioligárquico entre esse jovem oficialato, que mirava nas bases dessas elites para iniciar a transformação do Estado e da sociedade. Em 1937, o movimento comunista no Brasil já estava completamente debelado desde o débil levante da Intentona Comunista de 1935, que não levou nenhum risco de fato aos poderes constituídos. A narrativa do golpe de 1937 foi forjada para supostamente impedir a infiltração comunista no Brasil, tanto que se apresentou a falsa conspiração do Plano Cohen, documento forjado pelo próprio governo para dizer que havia sido descoberta uma conspiração comunista. Por ser a única a apresentar erro, esta é a ALTERNATIVA CORRETA.
- e) a mudança política produziu um redimensionamento do conceito de democracia norteada por uma concepção particular de representação política e de cidadania, sem intermediários e a revisão do papel do Estado.
Como explicado acima, o Estado Novo pressupunha a conexão direta entre o mando e as massas, enfraquecendo decisivamente importantes instituições de representação. Esse período ficou caracterizado pelo regime de partido único e pela centralização do poder, o que alterava drasticamente a representação política e a construção da cidadania como um todo. Emanava do poder federal parte significativa das organizações sociais e da mediação de conflitos, estabelecendo relações diretas dos agentes com o Estado e quase sempre em posição de dependência. Sem erros na alternativa.
Sem mais, a única a apresentar erro é a ALTERNATIVA D.
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