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“Durante a ditadura, os operários da Volkswagen sofreram com contenção salarial, perda de direitos e práticas repressivas. Em uma época em que o Brasil era líder mundial de acidentes de trabalho, eles também eram recorrentes nas fábricas da montadora. Só no primeiro semestre de 1970, operários relataram a morte de cinco trabalhadores na unidade de São Bernardo por acidentes de trabalho. Isso consta em panfleto apreendido pela empresa e encaminhado ao DEOPS. Além de repassar panfletos como o mencionado, o órgão da empresa elaborava fichas dos seus funcionários que traziam dados como período em que atuou na empresa e atividades políticas desempenhadas pelo trabalhador, como engajamento no sindicato, empenho em greves e distribuição de panfletos. É interessante notar como na Volkswagen – a exemplo de outras várias empresas -, os agentes responsáveis pela segurança interna e pela vigilância sobre os operários era militares de formação. Assim, em 1970, o major Ademar Rudge era chefe da segurança industrial da empresa e recebeu um agente do DEOPS na fábrica, entregando-lhe documentos com relatos sobre as atividades políticas dos seus funcionários”.

Adaptado de SILVA, M., CAMPOS, P., COSTA, A. A Volkswagen e a ditadura, in Revista Brasileira de História, 89, 2022.

Assinale a afirmativa que descreve corretamente as relações entre desenvolvimento capitalista, relações trabalhistas e a ditadura brasileira, com base no trecho.

Resposta:

A alternativa correta é letra A)  A colaboração entre a companhia automotiva e os agentes da ditadura é um exemplo do apoio de setores empresariais ao golpe.

Gabarito: Letra A

 

A colaboração entre a companhia automotiva e os agentes da ditadura é um exemplo do apoio de setores empresariais ao golpe.

   

O trecho trazido pela questão é parte de uma série de pesquisas na área de história que possuem como temática central a de discutir a participação de empresas e empresários como colaboradores financeiros, ideológicos e até mesmo repressivos da Ditadura Civil-Militar e que para muitas pesquisadores também pode receber a alcunha de Ditadura Empresarial-Civil-Militar, dada essa associação entre essas empresas e o regime.

 

No caso da Volkswagen, a colaboração ocorria das seguintes formas: contratação de agentes do Estado para a segurança e fiscalização dos trabalhadores, elaboração de fichas e relatórios de atividades suspeitas de trabalhadores que eram entregues pela companhia aos órgãos de repressão, demissão de funcionários que participavam de greves e até mesmo a disponibilização de espaços dentro da fábrica para a ocorrência de interrogatórios e torturas dos trabalhadores suspeitos de práticas subversivas.

   

Por que as demais estão incorretas?

 

Letra B: A elevada ocorrência de acidentes de trabalho na fábrica indica a decadência do sistema produtivo da indústria automobilística nos anos 1970.

 

O autor aponta que durante a década de 1970, o Brasil era líder mundial em acidentes de trabalho, o que denota a falta de preocupação das empresas com a saúde de seus funcionários. Mas isso não foi um impedimento para a paralisação da produção automobilística. Ao mesmo tempo em que ocorrem os acidentes, a produção automobilística se mantinha em alta em função do projeto político do regime militar que consistia na utilização do transporte rodoviário como principal meio de locomoção e também por causa do acelerado processo de urbanização.

   

Letra C: As estratégias de vigilância e punição dentro da fábrica eram executadas por militares da ativa, a mando do governo, para proteger o parque industrial de ataques subversivos.

 

As estratégias de vigilância e punição dentro da fábrica da Volkswagen eram executadas por militares da ativa que eram contratados pela montadora para observar, proteger e relatar aos agentes do Estado qualquer indício de subversão dos trabalhadores.

   

Letra D: A atuação dos órgãos de repressão se dava de forma centralizada, vinculada Ministério do Exército.

 

A atuação dos órgãos de repressão ocorria por parte do DEOPS, que era o Departamento de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo. A empresa produzia uma série de registros e boletins sobre seus funcionários e suspeitas de ações subversivas e encaminhava ao órgão do estado de São Paulo.

   

Letra E: A instalação da indústria alemã Volkswagen no Brasil nos anos 1970 foi facilitada pelo governo brasileiro, em troca da colaboração da montadora com o sistema repressivo vigente.

 

A instalação da indústria alemã Volkswagen no Brasil ocorreu na década de 1950. Em 1953, a empresa se instalou no país com uma unidade que fazia a importação de peças e a montagem dos veículos Kombi e Fusca e quatro anos mais tarde houve a fundação de uma unidade industrial em São Bernardo do Campo. Durante o regime militar, a empresa se tornou a maior maior montadora e empresa privada do país, maior que qualquer empresa nacional e só inferior em termos de faturamento às companhias estatais, como a Petrobrás e também uma importante colaboradora do regime ao criar um sistema de controle e punição sobre os trabalhadores da fábrica e de fornecer informações sobre os trabalhadores aos órgãos de repressão, além do fornecimento de veículos aos participantes da Operação bandeirantes, que buscava perseguir os integrantes da resistência armada à ditadura e que utilizava métodos como detenções ilegais, tortura e assassinato dos opositores do regime.

   

Referência:

 

SILVA, Marcelo Almeida de, CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira., COSTA, Alessandra. A Volkswagen e a ditadura: a colaboração da montadora alemã com a repressão aos trabalhadores durante o regime civil-militar brasileiro. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 42, nº 89, 2022.

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