A charge a seguir se refere à gestão de Delfim Netto à frente do Ministério da Fazenda no período conhecido como “milagre econômico” (1969-1973), quando ele teria afirmado ser necessário “fazer o bolo crescer para, depois, dividi-lo”.
As opções a seguir relacionam corretamente a mensagem da charge com o “milagre brasileiro”, à exceção de uma. Assinale-a.
- A) A charge ironiza a crença ufanista no progresso, que se beneficiou de uma situação econômica favorável, caracterizada por uma ampla disponibilidade de recursos na forma de empréstimos externos.
- B) A charge se refere às medidas de crescimento econômico de grande investimento e impacto, como o projeto da rodovia Transamazônica, cujo objetivo foi assegurar o controle brasileiro da região e permitir sua colonização.
- C) A charge critica a política de valorização do salário mínimo dos trabalhadores, como sendo populista, por ter estabelecido artificialmente índices de aumento salarial acima do nível da inflação.
- D) A charge indica que a fórmula do “milagre” privilegiou a acumulação de capitais, o que ocorreu mediante uma política de investimento para determinados setores industriais e uma redução de tributos para a exportação.
- E) A charge aponta o fracasso da distribuição social da riqueza, na medida em que o crescimento do PIB não expressou uma efetiva distribuição de renda nem a qualidade dos serviços coletivos oferecidos à população.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) A charge critica a política de valorização do salário mínimo dos trabalhadores, como sendo populista, por ter estabelecido artificialmente índices de aumento salarial acima do nível da inflação.
Gabarito: Letra C
A questão quer saber qual das alternativas é a incorreta.
A charge é uma crítica ao programa econômico desenvolvido por Delfim Netto, ministro da Fazenda do governo Médici bem como da equipe econômica por detrás da realização do chamado Milagre Brasileiro. Ao ministro Delfim é atribuída a frase: "´é preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo", sugerindo que era necessário aguardar o crescimento da economia para depois realizar a divisão de renda.
Uma consequência negativa do crescimento econômico brasileiro foi que houve um crescimento sem equidade, onde as reformas promovidas pelo governo não beneficiaram os grupos mais vulneráveis, concentrando a renda no país.
Assim, o bolo cresceu, mas não foi dividido entre aqueles que ganhavam um salário ou menos. Os números desse período apontam que o bolo só foi dividido entre os grupos da classe média alta e a classe alta.
Portanto, a charge não faz uma crítica à política de valorização do salário-mínimo dos trabalhadores. Na verdade, ocorreu uma política anti-inflacionária que promoveu a desvalorização do salário dos trabalhadores.
Encontrando a alternativa errada vamos comentar as corretas.
Letra A: A charge ironiza a crença ufanista no progresso, que se beneficiou de uma situação econômica favorável, caracterizada por uma ampla disponibilidade de recursos na forma de empréstimos externos.
A charge ironiza a ideia do milagre como um progresso, que colocaria o Brasil na fila das grandes nações desenvolvidas. O Milagre permitiu um crescimento econômico no patamar das nações desenvolvidas e isso foi possível graças à disponibilidade de capital internacional fruto de uma expansão das operações cambiais da década de 1960. Aproveitando-se da conjuntura internacional que ofertava capitais para serem utilizados por governos que queriam desenvolver suas economias, os capitais internacionais foram captados pelo governo militar para serem utilizados em programas do governo, em especial aqueles ligados à indústria siderúrgica, naval, construção civil e energia elétrica.
Letra B: A charge se refere às medidas de crescimento econômico de grande investimento e impacto, como o projeto da rodovia Transamazônica, cujo objetivo foi assegurar o controle brasileiro da região e permitir sua colonização.
Aproveitando-se da conjuntura internacional que ofertava capitais para serem utilizados por governos que queriam desenvolver suas economias, os capitais internacionais foram captados pelo governo militar para serem utilizados em programas do governo como na área de transportes. Um importante exemplo foi a construção da Rodovia Transamazônica, projeto que visava a integração da região norte com o restante do Brasil, além de garantir o controle da Floresta Amazônica através da presença de projetos de colonização.
Letra D: A charge indica que a fórmula do “milagre” privilegiou a acumulação de capitais, o que ocorreu mediante uma política de investimento para determinados setores industriais e uma redução de tributos para a exportação.
A base do Milagre era a política de investimento em setores da indústria, como a siderúrgica, naval, construção civil, transportes e energia elétrica. Outro ponto importante do milagre foram os subsídios e créditos concedidos pelo governo para as exportações brasileiras, bem como uma desburocratização de procedimentos de exportação que facilitaram que produtos nacionais fossem comercializados no mercado internacional.
Letra E: A charge aponta o fracasso da distribuição social da riqueza, na medida em que o crescimento do PIB não expressou uma efetiva distribuição de renda nem a qualidade dos serviços coletivos oferecidos à população.
A charge apresenta exatamente isso. O PIB brasileiro cresceu na casa dos 10% ao ano durante o governo de Médici, mas esse crescimento foi sem equidade, já que não houve distribuição efetiva da renda, assim como a qualidade dos serviços coletivos oferecidos à população.
Referência:
PRADO, Luiz Carlos Delorme e EARP, Fábio Sá. "O milagre brasileiro: crescimento acelerado, integração nacional e concentração de renda (1967-1973). In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Orgs.) O Brasil Republicano. O tempo da ditadura: regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Volume 4. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
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