“A cidade-Estado clássica parece ter sido criada paralelamente pelos gregos e pelos etruscos e/ou romanos. No caso destes últimos, a influência grega foi inegável, embora difícil de avaliar ou medir. No entanto, apesar de traços comuns, o desenvolvimento da cidade-Estado grega e o da etrusco-romana, mesmo admitindo a grande heterogeneidade de evoluções perceptível também na própria Grécia, mostram desde o início fortes especificidades que autorizam a suposição, não de uma simples difusão, mas de uma criação paralela” (CARDOSO, C. A Cidade. Rio de Janeiro: Editora Ática, 1987, p. 7)
Sobre a importância da Cidade-Estado na antiguidade clássica podemos afirmar que:
- A) é correta essa imagem privilegiada — verdadeiro paradigma científico — que insiste no caráter explicativo central que atribui à cidade-Estado (pólis em grego, civitas em latim) acerca das questões econômicas.
- B) a especificidade da economia clássica, definida como a economia da cidade-Estado, surge de sua oposição à economia dos Estados e impérios do antigo Oriente Próximo, centrada nos templos e palácios.
- C) a cidade-Estado foi o elemento organizador do mundo greco-romano ao longo da integralidade dos dois milênios de sua história, em que podemos considerar a Grécia Micênica e o Império Romano.
- D) A cidade-Estado era um centro de consumo que vivia em uma relação até certo ponto parasitária para com o campo circundante e as comunidades estrangeiras exploradas, em que desempenhava importante atividades industriais.
- E) a política econômica praticada pelos Estados clássicos existia de forma extremamente desenvolvida, como em matéria fiscal, procurando garantir o financiamento dos órgãos públicos e da guerra através da apropriação de excedentes.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) a especificidade da economia clássica, definida como a economia da cidade-Estado, surge de sua oposição à economia dos Estados e impérios do antigo Oriente Próximo, centrada nos templos e palácios.
Gabarito: ALTERNATIVA B
“A cidade-Estado clássica parece ter sido criada paralelamente pelos gregos e pelos etruscos e/ou romanos. No caso destes últimos, a influência grega foi inegável, embora difícil de avaliar ou medir. No entanto, apesar de traços comuns, o desenvolvimento da cidade-Estado grega e o da etrusco-romana, mesmo admitindo a grande heterogeneidade de evoluções perceptível também na própria Grécia, mostram desde o início fortes especificidades que autorizam a suposição, não de uma simples difusão, mas de uma criação paralela” (CARDOSO, C. A Cidade. Rio de Janeiro: Editora Ática, 1987, p. 7)
Sobre a importância da Cidade-Estado na antiguidade clássica podemos afirmar que:
- a) é correta essa imagem privilegiada — verdadeiro paradigma científico — que insiste no caráter explicativo central que atribui à cidade-Estado (pólis em grego, civitas em latim) acerca das questões econômicas.
Primeiro, é muito impreciso se falar em "paradigma científico" dentro das ciências humanas, que raramente são movidas por grandes consensos sólidos. Além disso, a vida econômica durante a Antiguidade Clássica foi movida tanto por dinâmicas internas da cidade-Estado quanto pelas redes de comércio que integravam as diversas regiões, inclusive com diferentes civilizações. Por exemplo, o mundo grego na Antiguidade Clássica contava com rotinas de comércio relativamente bem estabelecidas entre as diferentes cidades-Estado. Portanto, resumir ao âmbito da cidade-Estado todas as questões econômicas seria um erro grave, já que a vida marítima era uma realidade estabelecida durante o período abordado. Alternativa errada.
- b) a especificidade da economia clássica, definida como a economia da cidade-Estado, surge de sua oposição à economia dos Estados e impérios do antigo Oriente Próximo, centrada nos templos e palácios.
De fato, como comentado acima, a Antiguidade Clássica esteve em contato com outras civilizações pelas redes comerciais estabelecidas no Mediterrâneo. No Oriente Próximo como um todo, não vicejaram as formas da cidade-Estado, mas sim dos Estados e dos Impérios com uma administração relativamente centralizada sobre várias cidades e por longa faixa territorial. Talvez o exemplo mais potente disso tenha sido o Egito Antigo, que contava com uma autoridade central e todo um corpo administrativo relativamente bem estabelecido ao mesmo tempo em que os templos também movimentavam parte importante da vida como um todo. A experiência do mundo grego, ainda que tenha reverberado sobre a península itálica, não pode ser generalizada para a Antiguidade Oriental, que consolidou formas organizacionais mais complexas e de maior alcance territorial. ALTERNATIVA CORRETA.
- c) a cidade-Estado foi o elemento organizador do mundo greco-romano ao longo da integralidade dos dois milênios de sua história, em que podemos considerar a Grécia Micênica e o Império Romano.
No caso grego, o sistema de cidades-Estado seria definitivamente comprometido com a fulminante ascensão da Macedônia no século IV a.C. durante o reinado de Alexandre, o Grande. Apesar de ter ocorrido a conservação de vários aspectos cruciais do período clássico, o mundo grego foi unificado sob o império de Alexandre, que se estenderia até o Médio Oriente e ao Egito. Por sua vez, Roma, apesar da sua origem de cidade-Estado, assumiu uma complexidade e uma extensão que transbordou os limites estreitos da sua formação original. Já no período republicano, Roma expandiu suas fronteiras conquistando áreas por toda a Europa, pela Ásia e pelo Norte da África. Séculos antes do início do período imperial, Roma já se estendera sobre outros povos e muitas outras colônias. Alternativa errada.
- d) A cidade-Estado era um centro de consumo que vivia em uma relação até certo ponto parasitária para com o campo circundante e as comunidades estrangeiras exploradas, em que desempenhava importante atividades industriais.
O caminho mais fácil de eliminar essa alternativa seria observar a expressão "importantes atividades industriais". Ora, a Revolução Industrial se daria apenas na segunda metade do século XVIII; cerca de dois milênios após o apogeu das cidades-Estado da Antiguidade Clássica. A formação da cidade-Estado pressupunha o estabelecimento de regiões agricultáveis ao seu redor, cujas terras normalmente pertenciam às elites dirigentes da cidade em si. Portanto, é um tanto quanto exagerado se falar que se tratava de uma relação parasitária, já que as intersecções entre as duas áreas eram bastante profundas. Além disso, havia um comércio estabelecido com outras comunidades, o que não permite dizer que se tratava de uma exploração. Alternativa errada.
- e) a política econômica praticada pelos Estados clássicos existia de forma extremamente desenvolvida, como em matéria fiscal, procurando garantir o financiamento dos órgãos públicos e da guerra através da apropriação de excedentes.
Como apontado acima, era comuníssimo que as elites dirigentes das cidades-Estado fossem oriundas das principais famílias proprietárias de terra. Ou seja, ideias como a "apropriação de excedentes" não eram exatamente populares entre essas elites. Além disso, a realidade política dessas unidades eram bastante diversas entre si, sendo impossível generalizar uma excelente organização estatal como uma realidade estabelecida. Com diferentes ênfases em suas formas de organização, cada cidade-Estado seguia uma lógica própria de financiamento e de prioridades quanto a guerra. Alternativa errada.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA B.
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