Com pouco dinheiro, mas fora do eixo revolucionário do mundo, ignorando o Manifesto Comunista e não querendo ser burguês, passei naturalmente a ser boêmio. (…) Continuei na burguesia, de que mais que aliado, fui índice cretino, sentimental e poético. (…) A valorização do café foi uma operação imperialista. A poesia Pau Brasil também. Isso tinha que ruir com as cornetas da crise. Como ruiu quase toda a literatura brasileira “de vanguarda”, provinciana e suspeita, quando não extremamente esgotada e reacionária.(Oswald de Andrade. Prefácio a Serafim Ponte Grande, 1933.)O texto de Oswald de Andrade
O texto de Oswald de Andrade
- A)expõe o anseio do autor de que a literatura e as demais formas artísticas fossem controladas pelo Estado e escapassem, assim, da tutela da classe social hegemônica.
- B)revela algumas das principais características do movimento modernista de 1922, como a busca da identidade nacional e a adesão a projetos político-partidários dedireita.
- C)indica o afastamento gradual dos participantes da Semana de Arte Moderna em relação aos componentes ideológicos de esquerda que caracterizaram o movimento.
- D)explicita a preocupação dos setores políticos e sociais dominantes frente à crise econômica provocada pela alta do preço do café e sua tentativa de regulamentar o setor.
- E)demonstra a defesa, pelo autor, da politização da produção literária e o abandono de parte dos princípios estéticos que guiaram sua obra na década anterior.
Resposta:
A alternativa correta é E)
O trecho de Oswald de Andrade, retirado do prefácio de Serafim Ponte Grande (1933), revela uma reflexão crítica sobre sua própria trajetória e o contexto cultural e político do Brasil no início do século XX. O autor, um dos principais nomes do Modernismo brasileiro, reconhece sua posição ambígua: distante tanto do proletariado revolucionário quanto da burguesia, mas ainda assim vinculado a ela de forma "sentimental e poética". Sua análise aponta para a falência de certas expressões artísticas que, apesar de se autoproclamarem vanguardistas, acabaram reproduzindo estruturas provincianas e reacionárias.
A alternativa correta, E), destaca a defesa de uma literatura politizada e o abandono parcial dos princípios estéticos que marcaram sua fase anterior, como o Manifesto Pau-Brasil (1924). Oswald critica a "literatura brasileira de vanguarda" por seu caráter superficial e alienado, sugerindo a necessidade de ruptura com modelos esgotados. Sua autocrítica indica uma evolução ideológica, alinhando-se a um discurso mais engajado, em sintonia com as transformações sociais e econômicas do período pós-1929.
As demais alternativas não se sustentam no texto: não há menção ao controle estatal da arte (A), nem adesão a projetos de direita (B), tampouco um afastamento genérico dos modernistas em relação à esquerda (C). A crise do café é citada como pano de fundo simbólico, não como foco de preocupação dos dominantes (D). Oswald, portanto, reafirma aqui seu compromisso com uma arte crítica, distante tanto do elitismo burguês quanto do vanguardismo vazio.
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