O relato a seguir é parte da biografia de um homem que passou sua infância no atual Mali. Em novembro de 1918, a África, como a metrópole, festejou o fim da Grande Guerra Mundial e a vitória da França e seus aliados (…). Estávamos orgulhosos do papel desempenhado pelos soldados africanos na frente de batalha. (…) Os sobreviventes que voltaram em 1918- 1919 foram a causa de um novo fenômeno social que influiu na evolução da mentalidade nativa. Estou falando do fim do mito do homem branco como ser invencível e sem defeitos. (Amadou Hampâté Bâ, Amkoullel, o menino fula. São Paulo: Palas Athena/Casa das Áfricas, 2003, p. 312-313.) Considerando o relato acima, é correto afirmar que
O relato a seguir é parte da biografia de um homem que passou sua infância no atual Mali.
Em novembro de 1918, a África, como a metrópole, festejou o fim da Grande Guerra Mundial e a vitória da França e seus aliados (…). Estávamos orgulhosos do papel desempenhado pelos soldados africanos na frente de batalha. (…) Os sobreviventes que voltaram em 1918- 1919 foram a causa de um novo fenômeno social que influiu na evolução da mentalidade nativa. Estou falando do fim do mito do homem branco como ser invencível e sem defeitos.
(Amadou Hampâté Bâ, Amkoullel, o menino fula. São Paulo: Palas Athena/Casa das Áfricas, 2003, p. 312-313.)
Considerando o relato acima, é correto afirmar que
- A)a presença dos soldados africanos contribuiu para construir uma identidade africana sustentada nos princípios bélicos do imperialismo europeu.
- B)a presença de soldados africanos nos conflitos contribuiu para o questionamento do mito da superioridade do homem branco.
- C)o autor, ao apresentar a fragilidade do homem branco, instaurou um discurso inverso de superioridade dos africanos.
- D)o autor, ao apresentar o norte da África como parte da França, exaltou o projeto imperialista francês e suas estratégias de integração cultural.
Resposta:
A alternativa correta é B)
O relato de Amadou Hampâté Bâ em sua biografia Amkoullel, o menino fula oferece uma perspectiva valiosa sobre as consequências da participação africana na Primeira Guerra Mundial. O trecho destacado revela como o retorno dos soldados africanos após o conflito contribuiu para uma transformação significativa na mentalidade das populações colonizadas, especialmente no que diz respeito à percepção do colonizador europeu.
O autor descreve o orgulho sentido pelos africanos diante do papel desempenhado por seus combatentes na guerra, mas também aponta para um fenômeno social crucial: a desconstrução do mito da invencibilidade e perfeição do homem branco. Os sobreviventes que retornaram trouxeram consigo experiências que permitiram às comunidades africanas questionar a suposta superioridade racial dos europeus, já que haviam testemunhado sua vulnerabilidade e humanidade nos campos de batalha.
A alternativa B) é a correta porque capta precisamente essa mudança de perspectiva mencionada no texto. A participação dos soldados africanos no conflito não reforçou os princípios imperialistas (como sugere a alternativa A), mas sim permitiu o surgimento de questionamentos sobre a hierarquia racial imposta pelo colonialismo. O relato de Bâ não propõe uma inversão de superioridade (alternativa C), mas sim a percepção da humanidade compartilhada, nem exalta o projeto imperialista (alternativa D), já que seu enfoque está justamente na mudança da visão dos colonizados sobre os colonizadores.
Portanto, o texto de Hampâté Bâ ilustra como a experiência bélica contribuiu para um processo de descolonização mental, antecedendo as lutas políticas pela independência que marcariam o continente africano nas décadas seguintes.
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