Nossa aventura histórica é singular. Por isso e por realizar-senos trópicos, ela é inteiramente nova. Se nossas classes dominantes serevelam infecundas, o mesmo não se passa com o povo, no seuprocesso de autocriação. E é com essa vantagem de sermos mestiços,que vamos chegar ao futuro.Foi, aliás, em busca do futuro que passamos todo um século aindagar quem somos, e o que queremos ser, e a projetar imagens denós mesmos, espelho contra espelho. A cada sístole e a cada diástoledesses cem anos corresponderam visões otimistas e pessimistas,barrocas e contidas, esperançosas e desalentadas. Pois cada momento- o da Belle Époque, o da Revolução de 30, o do Estado Novo, o daredemocratização, o do dia seguinte ao suicídio de Getúlio Vargas, odo desenvolvimentismo dos anos 50, o do regime militar e o dasegunda redemocratização – refez o retrato do Brasil. Mudou, aolongo do tempo, a linguagem com que nos descrevemos. E mudoutambém o país acerca do qual se dissertava. Lidos um após outro, osnossos evangelistas soam dissonantes, mas, juntos, se corrigem oupolifonicamente se completam.Alberto da Costa e Silva. Quem fomos nós no século XX: as grandes interpretações doBrasil. In: Carlos Guilherme Mota (org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira(1500-2000) – a grande transação. São Paulo: SENAC, 2000, p. 38, (com adaptações).A partir da análise contida no texto apresentado e considerandoaspectos significativos da trajetória republicana brasileira, julgue ositens que se seguem. Entre 1946 e 1964, período em que o autor destaca a redemocratização, o dia seguinte ao suicídio de Vargas e o desenvolvimentismo dos anos 50, o Brasil avançou em termos de participação política, experimentou uma das mais altas e rápidas taxas de urbanização conhecidas no mundo contemporâneo e, em especial sob os governos Gaspar Dutra e Juscelino Kubistchek, praticou uma política externa altiva, que possibilitou ao país passar ao largo da Guerra Fria e adiar sobremaneira a internacionalização de sua economia.
Nossa aventura histórica é singular. Por isso e por realizar-se
nos trópicos, ela é inteiramente nova. Se nossas classes dominantes se
revelam infecundas, o mesmo não se passa com o povo, no seu
processo de autocriação. E é com essa vantagem de sermos mestiços,
que vamos chegar ao futuro.
Foi, aliás, em busca do futuro que passamos todo um século a
indagar quem somos, e o que queremos ser, e a projetar imagens de
nós mesmos, espelho contra espelho. A cada sístole e a cada diástole
desses cem anos corresponderam visões otimistas e pessimistas,
barrocas e contidas, esperançosas e desalentadas. Pois cada momento
– o da Belle Époque, o da Revolução de 30, o do Estado Novo, o da
redemocratização, o do dia seguinte ao suicídio de Getúlio Vargas, o
do desenvolvimentismo dos anos 50, o do regime militar e o da
segunda redemocratização – refez o retrato do Brasil. Mudou, ao
longo do tempo, a linguagem com que nos descrevemos. E mudou
também o país acerca do qual se dissertava. Lidos um após outro, os
nossos evangelistas soam dissonantes, mas, juntos, se corrigem ou
polifonicamente se completam.
Alberto da Costa e Silva. Quem fomos nós no século XX: as grandes interpretações do
Brasil. In: Carlos Guilherme Mota (org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira
(1500-2000) – a grande transação. São Paulo: SENAC, 2000, p. 38, (com adaptações).
A partir da análise contida no texto apresentado e considerando
aspectos significativos da trajetória republicana brasileira, julgue os
itens que se seguem.
Entre 1946 e 1964, período em que o autor destaca a redemocratização, o dia seguinte ao suicídio de Vargas e o desenvolvimentismo dos anos 50, o Brasil avançou em termos de participação política, experimentou uma das mais altas e rápidas taxas de urbanização conhecidas no mundo contemporâneo e, em especial sob os governos Gaspar Dutra e Juscelino Kubistchek, praticou uma política externa altiva, que possibilitou ao país passar ao largo da Guerra Fria e adiar sobremaneira a internacionalização de sua economia.
- C) CERTO
- E) ERRADO
Resposta:
A alternativa correta é E)
O texto de Alberto da Costa e Silva apresenta uma reflexão sobre a complexidade da identidade brasileira ao longo do século XX, destacando como diferentes momentos históricos moldaram interpretações variadas sobre o país. O autor enfatiza a constante reinvenção do Brasil, marcada por oscilações entre otimismo e pessimismo, e como cada período político produziu novas narrativas sobre a nação.
No trecho em análise, que aborda o período entre 1946 e 1964, o autor menciona três momentos significativos: a redemocratização pós-Estado Novo, o impacto do suicídio de Vargas e o desenvolvimentismo da década de 1950. Embora o texto reconheça a importância desses eventos na construção da identidade nacional, ele não endossa a visão de que o Brasil tenha conseguido manter uma posição completamente autônoma no cenário internacional durante esse período.
A afirmação de que o Brasil "praticou uma política externa altiva" e conseguiu "passar ao largo da Guerra Fria" é questionável. Na realidade, o país foi profundamente afetado pelo contexto da Guerra Fria, especialmente após o golpe militar de 1964. Além disso, a internacionalização da economia brasileira já estava em curso durante o governo JK, com seus planos desenvolvimentistas que dependiam fortemente de investimentos estrangeiros.
Quanto à participação política, embora tenha havido avanços com a redemocratização de 1946, o período foi marcado por limitações significativas, como a cassação do PCB em 1947 e as tensões políticas que culminariam no golpe de 1964. A urbanização acelerada de fato ocorreu, mas isso não significa que o país tenha conseguido manter completa autonomia em suas políticas externa e econômica.
Portanto, a alternativa correta é E) ERRADO, pois a afirmação apresenta uma visão idealizada desse período histórico que não corresponde completamente à realidade dos fatos, especialmente no que diz respeito à política externa e à internacionalização da economia.
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