A história faz-se, sem dúvida, com documentos escritos, quando eles existem e, até mesmo, na sua falta, ela pode e deve fazer-se. A partir de tudo aquilo de que a engenhosidade do historiador pode lançar mão para fabricar o seu mel, na falta de flores usuais. Portanto, a partir de palavras e sinais; de paisagens e pedaços de argila; das formas de campos e de ervas daninhas; dos eclipses de lua e das coleiras de parelha; da perícia de pedras feita por geólogos e da análise de espadas metálicas por químicos. Em suma, a partir de tudo o que, pertencente ao homem, depende e está a serviço do homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, as preferências e as maneiras de ser do homem. Uma grande parte – e, sem dúvida, a mais apaixonante – de nosso trabalho de historiador não consistirá no esforço constante para que as coisas silenciosas se tornem expressivas, levá-las a exprimir o que elas são incapazes de dizer por si mesmas a respeito dos homens e das sociedades que as produziram, e, finalmente, para constituir entre elas essa ampla rede de solidariedade e ajuda mútua que supre a falta do documento escrito? Lucien Febvre [1953] Apud PROST, Antoine. Doze lições sobre a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p.77.Para Lucien Febvre, a parte mais apaixonante do ofício de historiador é fazer com que coisas silenciosas se tornem expressivas. Para que isso seja possível, de acordo com o texto citado, é preciso:
Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p.77.
- A)exaurir completamente os documentos por meio do método crítico.
- B)propor questões e submeter os documentos a diferentes métodos.
- C)elaborar uma narrativa histórica fazendo prevalecer a imaginação.
- D)ampliar a noção de documento, incluindo e relacionando materiais diversos.
- E)empreender extensa busca documental.
Resposta:
A alternativa correta é D)
O trecho de Lucien Febvre, citado por Antoine Prost, apresenta uma reflexão profunda sobre a natureza do trabalho do historiador. Segundo Febvre, a história não se limita apenas aos documentos escritos, mas se constrói a partir de uma multiplicidade de fontes que revelam a presença humana. O historiador, como um artesão, deve utilizar sua engenhosidade para extrair significado de elementos aparentemente silenciosos, como paisagens, objetos e até fenômenos naturais. Essa abordagem amplia consideravelmente o conceito de documento histórico, indo além dos registros escritos tradicionais.
A alternativa correta (D) reflete precisamente essa visão inovadora proposta por Febvre. Ao sugerir a ampliação da noção de documento e a relação entre materiais diversos, ela capta a essência do pensamento do autor. Febvre defende que o historiador deve estabelecer conexões entre diferentes tipos de evidências, criando uma rede de significados que permita compreender as sociedades do passado em sua complexidade. Essa perspectiva revolucionou a prática historiográfica, mostrando que a ausência de documentos escritos não é um obstáculo intransponível para a reconstrução histórica.
As outras alternativas não representam adequadamente o pensamento de Febvre. Enquanto algumas se limitam a abordagens tradicionais (A e E), outras sugerem métodos que não correspondem à proposta do autor (B e C). A verdadeira inovação de Febvre está justamente na valorização de fontes não convencionais e na capacidade de interpretá-las em conjunto, superando assim as limitações impostas pela escassez de documentos escritos.
Referência: PROST, Antoine. Doze lições sobre a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
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