Em nossa inevitável subordinação em relação ao passado, ficamos [portanto] pelo menos livres no sentido de que, condenados sempre a conhecê-lo exclusivamente por meio de [seus] vestígios, conseguimos todavia saber sobre ele muito mais do que ele julgara sensato nos dar a conhecer. [É, pensando bem, uma grande revanche da inteligência sobre o dado]. BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 78. Mas, à medida que a história foi levada a fazer dos testemunhos involuntários um uso cada vez mais frequente, ela deixou de se limitar a ponderar as afirmações [explícitas] dos documentos. Foi-lhe necessário também extorquir as informações que eles não tencionavam fornecer. BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 95. Analise esses textos de Bloch em relação à seguinte questão:Como é possível conhecer do passado muito mais do que ele julgara sensato nos dar a conhecer ou ainda, como é possível a revanche da inteligência sobre o dado? Considerando os textos, qual dentre as respostas a seguir é consistente com a questão acima?
- A)Por meio da aplicação do método crítico capaz de distinguir os testemunhos voluntários dos involuntários.
- B)Por meio da proposição de um questionário flexível o suficiente para incluir novos tópicos ao longo da investigação.
- C)Por meio da elaboração de uma narrativa capaz de expor informações não explícitas nos documentos.
- D)Por meio de uma investigação extensa, de modo a esgotar as fontes documentais.
- E)A partir do desenvolvimento de teorias capazes de compreender aquilo que é dado pelo documento, preenchendo suas lacunas.
Resposta:
A alternativa correta é B)
Os trechos de Marc Bloch em Apologia da História ou o Ofício do Historiador destacam a capacidade da inteligência humana de ir além das limitações impostas pelos vestígios do passado. O autor argumenta que, embora estejamos condicionados a conhecer a história apenas por meio de fragmentos, podemos extrair deles muito mais do que foi intencionalmente registrado. Essa "revanche da inteligência sobre o dado" ocorre porque o historiador não se limita a aceitar as informações explícitas dos documentos, mas busca interpretar também os testemunhos involuntários — aqueles que revelam aspectos não pretendidos pelos autores originais.
A questão central é: como esse processo se concretiza? Entre as alternativas apresentadas, a resposta mais alinhada ao pensamento de Bloch é a B), que propõe um "questionário flexível" capaz de incorporar novos tópicos durante a investigação. Essa abordagem reflete a dinâmica do método histórico defendido por Bloch, no qual o pesquisador não se prende a um roteiro rígido, mas adapta suas perguntas conforme interage com as fontes, extraindo delas tanto o explícito quanto o implícito. A flexibilidade metodológica permite capturar nuances que os documentos não pretendiam transmitir, realizando assim a "revanche da inteligência".
As demais alternativas, embora relevantes para o trabalho histórico, não expressam com a mesma precisão a ideia de superação crítica do dado. O método crítico (A) e a elaboração de narrativas (C) são ferramentas importantes, mas não enfatizam o caráter adaptável da investigação. Já a exaustividade (D) e o preenchimento teórico de lacunas (E) podem levar a anacronismos ou extrapolações, desviando-se da proposta de Bloch de decifrar o passado a partir de seus próprios indícios — voluntários ou não.
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