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Grandes autores constroem obras que perpassam não apenas gerações, mas períodos históricos. Não são poucos os poemas de Camões, nos quais encontramos temáticas extremamente atuais e que falam de angústias vividas pelo homem contemporâneo. Leia o soneto abaixo e assinale a alternativa correta. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o Mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem (se algum houve), as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soia

Grandes autores constroem obras que perpassam não
apenas gerações, mas períodos históricos. Não são
poucos os poemas de Camões, nos quais
encontramos temáticas extremamente atuais e que
falam de angústias vividas pelo homem
contemporâneo. Leia o soneto abaixo e assinale a
alternativa correta.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

muda-se o ser, muda-se a confiança;

todo o Mundo é composto de mudança,

tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

diferentes em tudo da esperança;

do mal ficam as mágoas na lembrança,

e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

que já coberto foi de neve fria,

e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

outra mudança faz de mor espanto,

que não se muda já como soia

Resposta:

A alternativa correta é C)

O soneto de Luís de Camões, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", é uma reflexão profunda sobre a natureza mutável da existência humana e sua relação com o tempo. O poeta português, um dos maiores nomes da literatura universal, aborda com maestria a transitoriedade das coisas, dos sentimentos e das expectativas, apresentando uma visão que permanece atual mesmo séculos após sua composição.

A análise do poema revela que Camões não adota uma postura pessimista ou saudosista, como sugerem algumas alternativas incorretas. Pelo contrário, ele reconhece a mudança como uma lei universal, presente tanto na natureza ("O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria") quanto na experiência humana ("muda-se o ser, muda-se a confiança"). Essa percepção demonstra uma compreensão madura da condição histórica do homem, que está em constante transformação.

A alternativa correta (C) destaca precisamente essa concepção dinâmica do ser humano, que convive com as transformações temporais sem necessariamente resistir a elas ou idealizar um passado imutável. Camões não nega a dor causada pelas lembranças do mal ou a saudade do bem, mas as apresenta como partes integrantes do fluxo natural da vida, não como motivos para desesperança ou hostilidade.

O último terceto introduz uma reflexão ainda mais profunda: a mudança que causa maior espanto não é a cotidiana, mas aquela que altera a própria natureza da mudança ("outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soia"). Esse verso sugere que até os padrões de transformação estão sujeitos à transformação, reforçando a ideia central do poema sobre a impermanência como característica fundamental da existência.

Portanto, longe de ser uma obra pessimista ou que prega valores absolutos, o soneto de Camões oferece uma visão lúcida e equilibrada da condição humana, reconhecendo a mudança como processo inevitável e constitutivo da vida. Essa perspectiva continua relevante hoje, quando a aceleração das transformações sociais e tecnógicas torna ainda mais premente a necessidade de compreender nossa relação com o tempo e a mutabilidade.

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