“Podemos até, antecipando-nos à leitura do soneto, anunciar o princípio de construção de que se serviu “o autor” no texto que vamos estudar: a extensão sintagmática das frases do poema, o léxico escolhido, o tom e sonoridades têm a medida – exata! – da profundidade da emoção experimentada pelo eu-lírico, numa estreita e regular correspondência (perdoem-nos mais uma vez o uso da palavra suspeita). Esse é, não percamos de vista, o fundamento que subjaz à organização do poema” (Roberto Sarmento Lima – O círculo e a palavra constantes do poema lírico). Soneto IV de Via-LácteaComo a floresta secular, sombria,Virgem do passo humano e do machado,Onde apenas, horrendo, ecoa o bradoDo tigre, cuja agreste ramaria.Não atravessa nunca a luz do dia,Assim também, da luz do amor privado,Tinhas o coração ermo e fechado,Como a floresta secular, sombria…Hoje, entre os ramos, a canção sonoraSoltam festivamente os passarinhos.Tinge o cimo das árvores a aurora…Palpitam flores, estremecem ninhos…E o sol do amor, que não entrava outrora,Entra dourando a areia dos caminhos.Pelas características apresentadas no texto e pelas encontradas no poema acima (rimas raras, preferência pelo rigor formal do soneto, medição das ideias, dentre outras), podemos afirmar que Roberto Sarmento Lima refere-se ao poeta ____________, ligado ao movimento denominado _______________, respectivamente.
“Podemos até, antecipando-nos à leitura do soneto, anunciar o princípio de construção de que se serviu “o autor” no texto que vamos estudar: a extensão sintagmática das frases do poema, o léxico escolhido, o tom e sonoridades têm a medida – exata! – da profundidade da emoção experimentada pelo eu-lírico, numa estreita e regular correspondência (perdoem-nos mais uma vez o uso da palavra suspeita). Esse é, não percamos de vista, o fundamento que subjaz à organização do poema” (Roberto Sarmento Lima – O círculo e a palavra constantes do poema lírico).
Soneto IV de Via-Láctea
Como a floresta secular, sombria,
Virgem do passo humano e do machado,
Onde apenas, horrendo, ecoa o brado
Do tigre, cuja agreste ramaria.
Não atravessa nunca a luz do dia,
Assim também, da luz do amor privado,
Tinhas o coração ermo e fechado,
Como a floresta secular, sombria…
Hoje, entre os ramos, a canção sonora
Soltam festivamente os passarinhos.
Tinge o cimo das árvores a aurora…
Palpitam flores, estremecem ninhos…
E o sol do amor, que não entrava outrora,
Entra dourando a areia dos caminhos.
Pelas características apresentadas no texto e pelas encontradas no poema acima (rimas raras, preferência pelo rigor formal do soneto, medição das ideias, dentre outras), podemos afirmar que Roberto Sarmento Lima refere-se ao poeta ____________, ligado ao movimento denominado _______________, respectivamente.
- A)Cruz e Sousa – Simbolismo
- B)Castro Alves – Romantismo
- C)Olavo Bilac – Parnasianismo
- D)Gregório de Matos – Barroco
- E)Décio Pignatari – Concretismo
Resposta:
A alternativa correta é C)
O ensaio a seguir analisa o trecho crítico de Roberto Sarmento Lima e o Soneto IV de Via-Láctea, relacionando-os ao contexto literário brasileiro.
No excerto, Sarmento Lima destaca a construção poética marcada pela precisão formal: a extensão sintagmática, a escolha lexical e a sonoridade refletem a profundidade da emoção lírica. Essa descrição alinha-se ao Parnasianismo, movimento que valorizava o rigor métrico, a objetividade e o apuro estético. O soneto em análise confirma essas características: as rimas raras ("sombria/ramaria", "sonora/aurora"), a estrutura clássica (quartetos e tercetos) e a contenção emocional, filtrada por imagens naturais (floresta, tigre, aurora).
A comparação inicial entre o coração "ermo e fechado" e a floresta secular revela um eu-lírico que domina a subjetividade através da forma. Já a segunda estrofe, com seus pássaros, flores e sol, mantém a mesma disciplina verbal mesmo ao tratar da transformação afetiva. Essa contenção, aliada ao preciosismo descritivo ("tinge o cimo", "palpitam flores"), é típica de Olavo Bilac, maior expoente do Parnasianismo no Brasil.
As alternativas incorretas podem ser descartadas: Cruz e Sousa (A) priorizava a sugestão simbolista; Castro Alves (B) adotava o tom passionista romântico; Gregório (D) explorava o contraste barroco; Pignatari (E) pertencia à vanguarda concretista. Portanto, a correlação exata é Olavo Bilac – Parnasianismo, como indica o gabarito.
Conclui-se que o texto de Sarmento Lima capta a essência parnasiana: emoção contida, forma impecável e correspondência exata entre recursos poéticos e experiência lírica.
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