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Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da BahiaA cada canto um grande conselheiro,que nos quer governar a cabana, e vinha,não sabem governar sua cozinha,e podem governar o mundo inteiro.Em cada porta um frequentado olheiro,que a vida do vizinho, e da vizinhapesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,para a levar à Praça, e ao Terreiro.Muitos mulatos desavergonhados,trazidos pelos pés os homens nobres,posta nas palmas toda a picardia.Estupendas usuras nos mercados,todos, os que não furtam, muito pobres,e eis aqui a cidade da Bahia. (MENDES, 1998, p. 27). A partir do estudo crítico de Cleise Mendes, em Senhora Dona Bahia, pode-se afirmar:A poesia satírica de Gregório de Matos inclui ataques pessoais a seus inimigos.

Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia
A cada canto um grande conselheiro,
que nos quer governar a cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia. (MENDES, 1998, p. 27).
 A partir do estudo crítico de Cleise Mendes, em Senhora Dona Bahia, pode-se afirmar:

A poesia satírica de Gregório de Matos inclui ataques pessoais a seus inimigos.

Resposta:

A alternativa correta é C)

O Retrato Satírico da Bahia Colonial na Poesia de Gregório de Matos

O poema em análise, atribuído a Gregório de Matos, oferece uma visão ácida e crítica da sociedade baiana do século XVII. Conhecido como "Boca do Inferno" por sua linguagem mordaz, o autor utiliza a sátira para expor as contradições e vícios da elite colonial, revelando um ambiente marcado pela hipocrisia, fofoca e corrupção.

A primeira estrofe destaca a presença de "grandes conselheiros" que, incapazes de administrar suas próprias vidas, pretendem governar os outros - uma clara crítica à classe dirigente da época. A imagem da cabana e da cozinha serve como metáfora para mostrar como esses indivíduos, sem competência para resolver questões domésticas, arrogam-se o direito de controlar assuntos maiores.

O segundo quarteto pinta um cenário de vigilância constante, onde "frequentados olheiros" bisbilhotam a vida alheia para depois espalhar fofocas nos espaços públicos. Essa descrição revela uma sociedade obcecada pela aparência e pelo controle social, onde a vida privada se torna objeto de escrutínio público.

O poema atinge seu tom mais contundente ao descrever a inversão de valores sociais: "mulatos desavergonhados" humilhando nobres, enquanto o comércio é dominado por práticas usuriárias. A conclusão - "e eis aqui a cidade da Bahia" - sintetiza essa crítica social, mostrando uma colônia onde a ganância e a falsa moralidade predominam.

Como aponta Cleise Mendes em "Senhora Dona Bahia", a poesia de Gregório de Matos de fato inclui ataques pessoais contra seus desafetos, característica que marcou sua produção literária. O poeta não poupava nem autoridades nem figuras públicas em suas críticas, usando seu talento literário como arma contra aqueles que considerava hipócritas ou corruptos. Portanto, a afirmação está correta: sua sátira frequentemente incluía ataques pessoais, tornando-se um registro valioso, ainda que parcial, da sociedade colonial brasileira.

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