Para a questão, considere o fragmento abaixo, extraído de Vidas secas, de Graciliano Ramos. O pequeno sentou-se, acomodou-se nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender. (Graciliano Ramos. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 57.) No romance Vidas secas, a alteridade é construída ficcionalmente. Isso porque o narrador
Para a questão, considere o fragmento abaixo, extraído de Vidas secas, de Graciliano Ramos.
O pequeno sentou-se, acomodou-se nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender.
(Graciliano Ramos. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 57.)
No romance Vidas secas, a alteridade é construída ficcionalmente. Isso porque o narrador
- A)impõe seu ponto de vista sobre a miséria social das personagens, desconsiderando a luta dessas personagens por uma vida mais digna.
- B)permite conhecer o ponto de vista de cada uma das personagens e manifesta um juízo crítico sobre o drama da miséria social e econômica.
- C)relativiza o universo social das personagens, uma vez que elas estão privadas da capacidade de comunicação.
- D)analisa os dilemas de todas as personagens e propõe, ao final da narrativa, uma solução para o drama da miséria social e econômica.
Resposta:
A alternativa correta é B)
No romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, a construção da alteridade é um elemento central para compreender a dinâmica entre as personagens e o mundo que as cerca. O fragmento apresentado ilustra a relação entre o menino e a cachorra Baleia, marcada por uma comunicação que transcende as limitações da linguagem verbal. Essa cena revela como o narrador permite que o ponto de vista de cada personagem seja conhecido, sem impor uma visão unilateral, mas também sem deixar de criticar a realidade social em que estão inseridos.
A alternativa correta, B), destaca justamente essa capacidade do narrador de apresentar múltiplas perspectivas enquanto mantém um juízo crítico sobre a miséria social e econômica vivida pela família retirante. Graciliano Ramos não romantiza a pobreza, mas também não reduz suas personagens a meras vítimas passivas. O menino, apesar de seu vocabulário limitado, estabelece um diálogo afetivo com Baleia, demonstrando que mesmo na precariedade existem formas de conexão e resistência.
As outras alternativas não correspondem à proposta narrativa de Vidas secas. O narrador não impõe seu ponto de vista de forma autoritária (A), nem relativiza o universo das personagens como se fossem incapazes de comunicação (C). Também não cabe ao romance oferecer soluções prontas para o drama social (D), mas sim expor as contradições e complexidades da vida no sertão nordestino.
Portanto, a construção da alteridade em Vidas secas se dá justamente pela capacidade do narrador de equilibrar a apresentação das subjetividades das personagens com uma postura crítica diante da realidade que as oprime. Essa abordagem permite ao leitor compreender a humanidade dos retirantes sem perder de vista as estruturas sociais que os marginalizam.
Deixe um comentário