Conta o médico Fernandes Figueira, no livro “Velaturas” (com o pseudônimo de Alcides Flávio), que seu amigo Aluísio de Azevedo o consultou, durante a composição de “O homem”, sobre o envenenamento por estricnina; mas não seguiu as indicações recebidas. Apesar do escrúpulo informativo do naturalismo, desrespeitou os dados da ciência e deu ao veneno uma ação mais rápida e mais dramática, porque necessitava que assim fosse para o seu desígnio. (CANDIDO, 2000, p. 12.) Em “Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária”, Antônio Candido evoca o episódio envolvendo o escritor que introduziu o naturalismo na literatura brasileira para elucidar que:
Conta o médico Fernandes Figueira, no livro “Velaturas” (com o pseudônimo de Alcides Flávio), que seu amigo Aluísio de Azevedo o consultou, durante a composição de “O homem”, sobre o envenenamento por estricnina; mas não seguiu as indicações recebidas. Apesar do escrúpulo informativo do naturalismo, desrespeitou os dados da ciência e deu ao veneno uma ação mais rápida e mais dramática, porque necessitava que assim fosse para o seu desígnio. (CANDIDO, 2000, p. 12.) Em “Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária”, Antônio Candido evoca o episódio envolvendo o escritor que introduziu o naturalismo na literatura brasileira para elucidar que:
- A)A mimese (ou imitação do real) nem sempre é uma forma de poesia.
- B)A fantasia às vezes modifica a ordem do mundo para torná-la mais insignificante.
- C)Existe uma relação arbitrária e deformante estabelecida pelo trabalho artístico com a realidade.
- D)Basta aferir a obra com a realidade exterior para entender a produção literária sem incorrer em simplificação causal.
Resposta:
A alternativa correta é C)
No ensaio "Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária", Antônio Candido utiliza um episódio envolvendo Aluísio de Azevedo para discutir a relação entre arte e realidade. O escritor, conhecido por introduzir o naturalismo na literatura brasileira, consultou o médico Fernandes Figueira sobre os efeitos do envenenamento por estricnina durante a composição de "O homem". No entanto, apesar de buscar informações científicas, Azevedo optou por alterar os dados, atribuindo ao veneno uma ação mais rápida e dramática para atender às necessidades de sua narrativa.
Esse exemplo ilustra a complexa dinâmica entre representação artística e realidade. Candido demonstra que, mesmo em movimentos literários que prezam pela fidelidade ao real, como o naturalismo, a arte não se limita a reproduzir mecanicamente os fatos. O trabalho criativo estabelece uma relação transformadora com o mundo, modificando aspectos da realidade em função de exigências estéticas e narrativas.
A alternativa correta (C) aponta justamente para essa característica fundamental da produção artística: "Existe uma relação arbitrária e deformante estabelecida pelo trabalho artístico com a realidade". A arte não copia passivamente o real, mas o reelabora através de escolhas conscientes do artista, que podem incluir distorções e adaptações em função de seus objetivos criativos.
O episódio relatado por Candido revela como a literatura, mesmo quando pretende ser fiel à realidade, acaba estabelecendo com ela uma relação mediada pela subjetividade e pelas necessidades da obra. Essa perspectiva nos ajuda a compreender que a produção literária não pode ser reduzida a uma simples reprodução do mundo exterior, mas constitui uma reconstrução ativa que segue suas próprias leis e finalidades.
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