Questões Sobre Classificação dos Gêneros Literários - Literatura - concurso
Questão 1
meio da periodização literária articulada pelos
chamados estilos de época. Quanto a isso,
Domício Proença Filho lembra-nos o seguinte
conceito proposto por Hatzfeld:
surge com tendências análogas em arte, literatura,
música, arquitetura, religião, psicologia,
sociologia, formas de polidez, costumes,
vestuário, gestos etc. No que diz respeito à
literatura o estilo de época só pode ser avaliado
pelas contribuições da feição do estilo, ambíguas
em si mesmas, constituindo uma constelação que
aparece em diferentes obras e autores da mesma
era e parece informada pelos mesmos princípios
perceptíveis nas artes vizinhas.” (1969, p.60)
afirmarmos que os estilos de época na
literatura deveriam ser apresentados aos
alunos como:
- A)consequência das contribuições estéticas já antecipadas em outros campos artísticos
- B)traços estilísticos plurais que convergem nas obras de autores de determinadas épocas
- C)agrupamento de temas que se manifestam em intervalos de tempo bem delimitados
- D)contribuições de autores que sempre ratificam as tendências culturais de seu tempo
A alternativa correta é B)
O ensino de literatura, comumente, é feito por meio da periodização literária articulada pelos chamados estilos de época. A citação de Hatzfeld, apresentada por Domício Proença Filho, destaca que o estilo de época reflete uma atitude cultural ampla, manifestando-se não apenas na literatura, mas em diversas expressões artísticas e sociais de um determinado período. Essa visão integrada permite compreender a literatura como parte de um contexto maior, no qual traços estilísticos e temáticos convergem em obras de autores contemporâneos, mesmo que apresentem singularidades.
Diante disso, a alternativa correta é a B), pois os estilos de época devem ser apresentados aos alunos como traços estilísticos plurais que convergem nas obras de autores de determinadas épocas. Essa abordagem evita reducionismos, já que não se trata apenas de temas delimitados temporalmente (como sugere a alternativa C) ou de uma simples consequência de outras artes (alternativa A). Também não se pode afirmar que os autores sempre ratificam as tendências culturais de seu tempo (alternativa D), uma vez que muitos deles podem questionar ou subverter essas mesmas tendências.
Portanto, o estudo dos estilos de época deve considerar a complexidade e a diversidade das produções literárias, reconhecendo padrões estilísticos compartilhados sem ignorar as particularidades de cada autor. Essa perspectiva enriquece o aprendizado, permitindo que os alunos percebam a literatura como um fenômeno dinâmico e interligado com outras manifestações culturais.
Questão 2
Assinale a única alternativa que indica um gênero literário.
- A)Barroco
- B)Épico
- C)Naturalismo.
- D)Romantismo.
- E)Arcadismo.
A alternativa correta é B)
Assinale a única alternativa que indica um gênero literário.
- A) Barroco
- B) Épico
- C) Naturalismo
- D) Romantismo
- E) Arcadismo
O gabarito correto é B) Épico.
Questão 3
coisa. Fazia um tempo glorioso – melhor impossível,
e com toda probabilidade o último do gênero a se ver
por estas bandas durante muitos meses gelados -,
no entanto quase todos os carros que passavam
estavam com os vidros fechados. Todos aqueles
motoristas tinham ajustado o controle de temperatura
de seus veículos hermeticamente fechados para
criar um clima interno idêntico ao que já existia
no mundo exterior, e me ocorreu então que, no que
se refere ao ar fresco, os americanos perderam de
vez a cabeça, ou
Trad. De Beth Vieira. São Paulo: Companhia das
Letras, 2001. Fragmento)
de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha
liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade
da solidão. Quem não é perdido não conhece a
liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a
minha solidão, que, às vezes, se extasia como diante
de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma
certa glória íntima que, na solidão, pode se tornar dor. E a dor, silencia. Guardo o seu nome em
silêncio. Guardo o seu nome em segredo. Preciso de
segredo para viver. (Clarice Lispector)
gêneros literários, de acordo com suas respectivas
características textuais:
- A)Dramático; Descritivo.
- B)Lírico; Narrativo.
- C)Narrativo (estilo crônica); Lírico.
- D)Épico; Narrativo (estilo conto).
- E)Narrativo (estilo épico); Narrativo (estilo crônica).
A alternativa correta é C)
O texto I, de Bill Bryson, apresenta características típicas de uma crônica, um gênero narrativo que mescla observações cotidianas com reflexões pessoais. O autor descreve uma cena aparentemente simples – motoristas fechando os vidros dos carros em um dia bonito – e a utiliza como ponto de partida para uma crítica social leve e irônica. A linguagem é coloquial, próxima do leitor, e o tom sugere um diálogo informal, marcado pela subjetividade do narrador.
Já o texto II, de Clarice Lispector, pertence ao gênero lírico, evidenciado pela intensidade emocional e pela expressão de sentimentos profundos. A autora explora a solidão e a liberdade de forma introspectiva, utilizando uma linguagem poética e carregada de simbolismo. A estrutura fragmentada e o fluxo de consciência reforçam o caráter subjetivo e introspectivo do texto, típico da prosa lírica de Lispector.
Portanto, a alternativa correta é a C) Narrativo (estilo crônica); Lírico, pois o primeiro texto é uma narrativa em forma de crônica, enquanto o segundo é um exemplo de prosa lírica, focada na expressão de emoções e estados internos.
Questão 4
literário; foi dos primeiros a instituir na literatura
moderna um espaço privado, o espaço do “eu”, do texto
intimo. Ele cria um novo processo de escrita filosófica,
no qual hesitações, autocríticas, correções entram no
próprio texto.
- A)confissão, que relata experiências de transformação.
- B)ensaio, que expõe concepções subjetivas de um tema.
- C)carta, que comunica informações para um conhecido.
- D)meditação, que propõe preparações para o conhecimento.
- E)diálogo, que discute assuntos com diferentes interlocutores.
A alternativa correta é B)
O texto apresentado destaca a contribuição de Michel de Montaigne para a literatura moderna, especialmente pela criação de um novo gênero literário que privilegia a subjetividade e a expressão íntima do "eu". Esse gênero, conhecido como ensaio, é caracterizado por sua abordagem reflexiva e pessoal, na qual o autor explora ideias, experiências e opiniões de forma livre, sem a rigidez de tratados filosóficos ou científicos tradicionais. Montaigne incorpora ao texto suas hesitações, autocríticas e correções, tornando a escrita um processo aberto e dinâmico.
Entre as alternativas apresentadas, a que melhor define esse gênero é o ensaio (alternativa B), pois ele se distingue justamente por expor concepções subjetivas sobre um tema, sem a pretensão de esgotá-lo ou de apresentar verdades absolutas. Ao contrário da confissão, que se concentra em experiências de transformação pessoal, ou do diálogo, que pressupõe a interação entre diferentes vozes, o ensaio montaigniano é marcado por uma voz única que reflete de maneira introspectiva e questionadora.
Assim, a resposta correta é a alternativa B, que identifica o ensaio como o gênero literário inaugurado por Montaigne e que se consolidou como uma forma de expressão fundamental na literatura e na filosofia modernas.
Questão 5
Leia também este texto, para responder às questão.
ao encalço, mas já Brandãozinho, semelhante à chama, lhe cortou a avançada. A tarde de olhos radiosos se
fez mais clara para contemplar aquele combate, enquanto os agudos gritos e imprecações em redor
animavam os contendores. A uma investida de Cárdenas, o de fera catadura, o couro inquieto quase se foi
depositar no arco de Castilho, que com torva face o repeliu. Eis que Djalma, de aladas plantas, rompe entre os
adversários atônitos, e conduz sua presa até o solerte Julinho, que a transfere ao valoroso Didi, e este por sua
vez a comunica ao belicoso Pinga. (…)
Assim gostaria eu de ouvir a descrição do jogo entre brasileiros e mexicanos, e a de todos os jogos: à
maneira de Homero. Mas o estilo atual é outro, e o sentimento dramático se orna de termos técnicos.
Carlos Drummond de Andrade, Quando é dia de futebol. Rio: Record, 2002.
Ao narrar o jogo entre brasileiros e mexicanos “à maneira de Homero”, o autor adota o estilo
- A)épico.
- B)lírico.
- C)satírico.
- D)técnico.
- E)teatral.
A alternativa correta é A)
Ao narrar o jogo de futebol entre brasileiros e mexicanos "à maneira de Homero", Carlos Drummond de Andrade recria uma cena esportiva com características do estilo épico. O texto descreve os lances do jogo como se fossem combates heroicos, atribuindo aos jogadores qualidades mitológicas e usando uma linguagem grandiloquente, típica das narrativas homéricas.
A comparação dos atletas com figuras lendárias ("Bauer, o de pés ligeiros", "Djalma, de aladas plantas"), o tratamento do jogo como uma batalha épica ("combate", "contendores") e o tom elevado da narrativa são elementos que remetem diretamente à tradição épica. O autor inclusive menciona explicitamente seu desejo de descrever o jogo como Homero faria, reforçando a intenção épica do texto.
Embora o tema seja contemporâneo (um jogo de futebol), a abordagem transforma o evento esportivo em uma epopeia moderna, onde os jogadores assumem o papel de heróis homéricos. Essa transposição de estilo é o que caracteriza o texto como uma narrativa épica, diferenciando-se claramente dos estilos lírico, satírico, técnico ou teatral mencionados nas alternativas.
Questão 6
- A)O gênero literário dramático envolve questões que retratam a efemeridade da vida humana.
- B)A comédia é uma das formas específicas do drama em que Aristóteles deteve-se em sua análise.
- C)Na produção dos textos líricos, dentre as formas mais utilizadas estão: ode, soneto, elegia e écloga.
- D)O gênero lírico tem como principal característica o subjetivismo, ressaltando o chamado mundo interior.
A alternativa correta é A)
Análise das afirmativas sobre gêneros literários
Ao analisar as afirmativas apresentadas, percebe-se que a alternativa A) é a incorreta, conforme indica o gabarito. A justificativa para essa escolha baseia-se no fato de que a efemeridade da vida humana não é uma característica exclusiva do gênero dramático, podendo aparecer em outros gêneros literários. Essa temática está mais associada ao conteúdo das obras do que ao gênero em si.
As demais alternativas apresentam informações corretas sobre os gêneros literários. A alternativa B) está correta, pois a comédia é de fato uma das formas do drama estudada por Aristóteles em sua Poética. A alternativa C) também está correta, já que as formas mencionadas (ode, soneto, elegia e écloga) são tradicionalmente associadas ao gênero lírico. Por fim, a alternativa D) está correta, pois o subjetivismo e a expressão do mundo interior são características fundamentais do gênero lírico.
Portanto, a análise demonstra que apenas a afirmativa A) contém uma informação incorreta sobre os gêneros literários, confirmando a indicação do gabarito. Essa questão serve para reforçar a importância de compreender as características específicas de cada gênero literário e suas particularidades.
Questão 7
seguinte texto.
gêneros literários. Cada um deles reúne um conjunto de obras com características análogas ou
parecidas de forma e conteúdo. Tais gêneros se dividem, na classificação aristotélica, em épico,
lírico e dramático.
em poesia; quanto ao conteúdo, em narrativos, líricos e dramáticos. No gênero ___________ há a
presença de um _________, responsável por contar uma história em que os personagens atuam em
um determinado espaço e tempo. Já os textos do gênero __________ têm predominância da função
poética da linguagem. Os textos classificados como ___________ são próprios para a representação
ou encenação teatral e têm __________ como base.
- A)épico ou narrativo – eu lírico – lírico – dramáticos – os personagens
- B)épico ou narrativo – narrador – lírico – dramáticos – o diálogo
- C)narrativo – autor – lírico – dramáticos – o palco
- D)épico – herói – poético – narrativos – o narrador
- E)lírico – eu lírico – dramático – narrativos – as falas dos personagens
A alternativa correta é B)
O estudo dos gêneros literários é fundamental para a compreensão da literatura, e a classificação proposta por Aristóteles na Arte Poética ainda serve como base para análises contemporâneas. Originalmente, os gêneros eram divididos em épico, lírico e dramático, mas atualmente, a classificação evoluiu para abranger tanto a forma (prosa ou poesia) quanto o conteúdo (narrativo, lírico e dramático).
No gênero épico ou narrativo, há a presença de um narrador, figura essencial que relata os acontecimentos, descrevendo personagens, espaço e tempo. Esse gênero engloba romances, contos e outras narrativas em que a ação e a trama são centrais. Por outro lado, os textos do gênero lírico destacam-se pela função poética da linguagem, priorizando a expressão de emoções e subjetividades, muitas vezes por meio do eu lírico.
Já os textos dramáticos são aqueles concebidos para representação teatral, tendo o diálogo como elemento estrutural principal. Diferentemente da narrativa, que depende de um narrador, o gênero dramático se sustenta nas falas e interações entre personagens, sendo o diálogo sua base fundamental.
A alternativa correta, portanto, é a B), que preenche as lacunas de forma coerente com a classificação atual dos gêneros literários: épico ou narrativo – narrador – lírico – dramáticos – o diálogo. Essa resposta reflete com precisão as características distintivas de cada gênero, alinhando-se tanto com a tradição aristotélica quanto com as adaptações modernas da teoria literária.
Questão 8
Carvalho Rêgo e H. Dobal são três autores piauienses
que escreveram obras literárias em vários gêneros.
Qual dos gêneros abaixo não está contemplado nas
obras desses autores?
- A)Dramático
- B)Poesia Lírica
- C)Romance
- D)Crônica
- E)Epopeia
A alternativa correta é E)
Francisco Pereira da Silva, José Expedito de Carvalho Rêgo e H. Dobal são três importantes nomes da literatura piauiense, cada um contribuindo significativamente para a diversidade de gêneros literários em suas obras. Esses autores exploraram diferentes formas de expressão, desde o dramático até a poesia lírica, passando pelo romance e pela crônica. No entanto, um gênero que não está presente em suas produções é a epopeia, um estilo narrativo grandioso que geralmente celebra feitos heroicos ou eventos históricos de grande magnitude.
O gênero dramático, representado pela opção A, pode ser encontrado em algumas de suas obras, especialmente em peças teatrais que retratam aspectos da cultura e da sociedade. A poesia lírica, indicada na alternativa B, é uma marca forte principalmente em H. Dobal, conhecido por sua sensibilidade e profundidade poética. O romance, opção C, também está presente, especialmente nas narrativas que exploram temas regionais e humanos. Já a crônica, alternativa D, é um gênero cultivado por vários autores piauienses, incluindo os mencionados, que usam esse formato para capturar o cotidiano com leveza e reflexão.
A epopeia, por outro lado, não faz parte do repertório desses escritores. Esse gênero, caracterizado por sua extensão e tom elevado, não se alinha com as tendências literárias predominantes em suas obras, que tendem a focar em temas mais íntimos, regionais ou críticos. Portanto, a alternativa correta é a E, que aponta justamente para a ausência da epopeia na produção desses autores.
Questão 9
Em relação aos gêneros literários, é correto afirmar que
- A)a comédia define-se como peça teatral do gênero dramático na qual figuram nobres e procura levar a plateia a um estado de tensão devido ao final funesto.
- B)a origem do gênero lírico está em dois elementos até hoje indispensáveis para esse tipo de texto: a importância do público e a representação de papéis teatrais.
- C)as epopeias clássicas definem-se como gênero em que a voz particular do eu lírico manifesta a expressão do mundo interior e trata de sentimentos e emoções.
- D)os longos poemas narrativos em que um acontecimento histórico protagonizado por um herói é celebrado em estilo solene, grandioso, representam o gênero épico.
A alternativa correta é D)
Em relação aos gêneros literários, é correto afirmar que:
- A) A afirmação está incorreta, pois a comédia não se caracteriza por apresentar um final funesto ou por envolver personagens nobres, mas sim por seu tom humorístico e desfecho feliz, visando o entretenimento.
- B) Esta opção também está incorreta, já que o gênero lírico não depende da presença de um público ou da representação teatral, mas sim da expressão subjetiva do eu lírico, geralmente por meio de poemas que exploram sentimentos e reflexões íntimas.
- C) Essa alternativa é equivocada, pois as epopeias clássicas não se concentram na voz interior do eu lírico, mas sim em narrativas grandiosas que celebram feitos heroicos ou eventos históricos, características do gênero épico.
- D) Esta é a alternativa correta. O gênero épico, de fato, consiste em poemas narrativos extensos que exaltam acontecimentos históricos ou mitológicos, protagonizados por heróis, em um estilo solene e elevado, como observado em obras como "Ilíada" e "Odisseia".
Portanto, a resposta correta é a alternativa D), que define com precisão as características fundamentais do gênero épico.
Questão 10
TEXTO 1
– Leia o texto abaixo e responda à questão..
EUCLIDES DA CUNHA
Autor de “Os sertões” era, antes de tudo, um órfão sem
casa, um adolescente poeta e um cadete rebelde.
Entenda como sua formação única contribuiu para a
criação de um clássico.
No dia 4 de novembro de 1888, um domingo, o
ministro da Guerra de Dom Pedro II passava em revista as
tropas da Escola Militar da Praia Vermelha quando um
cadete tentou quebrar o próprio sabre e gritou: “Infames!
A mocidade livre, cortejando um ministro da monarquia!”
O rebelde republicano foi expulso, mas recebeu um
convite para escrever no jornal “A província de São Paulo”
(futuro “O Estado de S. Paulo”), onde ficaria célebre seu
nome, Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909).
Homenageado da 17ª Festa Literária Internacional de
Paraty (Flip), que começa na quarta-feira (10/07/19),
Euclides é autor de uma das mais potentes interpretações
do Brasil: “Os sertões” (1902). Baseado em reportagens do
autor, o livro narra o confronto entre soldados da jovem
República e sertanejos monarquistas liderados pelo beato
Antônio Conselheiro no interior da Bahia. Após quatro
expedições, o exército dizimou o arraial de Canudos, onde
viviam 25 mil pessoas.
Misto de ensaio, tratado científico e análise social com
caudalosa prosa poética, “Os sertões” é um livro que só
Euclides poderia escrever, graças à sua trajetória e a
interesses únicos. Como explica a crítica literária e
professora emérita da USP Walnice Nogueira Galvão,
estudiosa do autor:
—Ele é um escritor de estilo naturalista com
incrustações de parnasianismo, sobretudo nas descrições
da paisagem. O romantismo é fortíssimo nele e vem de
submersões literárias. É por isso que “Os sertões” é um
livro tão apaixonado.
UNIVERSIDADE NO QUARTEL
—Nascido em Cantagalo, no interior do Rio, o menino
Euclides pulou de casa em casa depois de perder a mãe,
aos anos. Primeiro, morou com uma tia, em Teresópolis.
Quando ela morreu, foi acolhido na fazenda de outra tia,
em São Fidélis, onde iniciou os estudos no Instituto
Colegial Fidelense. Aos 11 anos, morou com a avó paterna
em Salvador.
Euclides aportou no Rio em 1879, aos 13 anos, para
viver com um tio. Matriculou-se no Colégio Aquino, onde
teve Benjamin Constant como professor de matemática.
Veterano da Guerra do Paraguai, republicano e positivista
fervoroso, Constant colaboraria com o golpe que derrubou
a monarquia e foi ministro da Guerra e da Instrução
Pública no governo provisório. Suas lições transformaram
Euclides num republicano irredutível.
Mas nem tudo era militância. No Aquino, Euclides leu
os poetas românticos Fagundes Varela e Castro Alves. Seu
pai, que era guarda-livros, publicara versos em
homenagem ao poeta de “O navio negreiro”. Ainda
adolescente, Euclides preencheu um caderno com poemas.
Fã das imagens marítimas do francês Victor Hugo, deu-lhe
o título de “Ondas”. Mais tarde, publicou poemas na
revista editada pelos alunos da Praia Vermelha. Que fique
claro: os versos nem de longe lembram a beleza da prosa
de “Os sertões”:
—Euclides era um bom avaliador dos próprios méritos
e renegou sua poesia — conta Walnice Nogueira Galvão.
As leituras românticas compensavam a aridez da ciência
positivista.
—Virou lugar-comum associá-lo ao positivismo, mas
sua grande influência foi o romantismo —afirma Francisco
Foot Hardman, professor da Unicamp. — Ele pensava num
diálogo entre criação literária e conhecimento científico.
Esse diálogo vinha da Escola Militar. No Brasil imperial
e escravocrata, ela formava soldados comprometidos com
a República, a abolição e a filosofia positivista. Um dos
professores mais populares da Praia Vermelha era,
novamente, Benjamin Constant.
—Os próprios alunos chamavam a Escola Militar de
Tabernáculo da Ciência. Para eles, ciência era o positivismo
de Comte e os evolucionismos e biologismos de Darwin,
Spencer e Haeckel—diz o historiador José Murilo de
Carvalho, autor de “Forças armadas e política no Brasil”,
que tem um capítulo sobre o autor. — Era uma
universidade dentro de um quartel.
Um ano após aquele incidente dos gritos contra o
ministro monarquista a República foi proclamada e,
Euclides, reincorporado ao Exército. Em 1891, ingressou na
Escola Superior de Guerra. Na imprensa, defendia a
consolidação da República — mas não deixou de censurar
o mestre Constant, que, ao ser nomeado ministro,
distribuiu cargos a parentes. “Perdeu a auréola, desceu à
vulgaridade de um político qualquer”, denunciou, em carta
ao pai.
—Euclides era um republicano puro. A realidade da
política logo o levou a se desencantar com o novo regime e
com o próprio Constant – diz Carvalho. — E o crime
cometido em Canudos pelo Exército foi a gota d’água.
REVENDO CONCEITOS
Quando estourou a Guerra de Canudos, Euclides
considerava os sertanejos inimigos da ordem e do
progresso republicanos. Comparou o povo de Canudos aos
camponeses rebeldes que se opuseram à Revolução
Francesa.
Mudou de opinião depois de assistir ao massacre dos
sertanejos pelas forças republicanas. Em “Os sertões”,
registrou ou últimos defensores de Canudos: “eram quatro
apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na
frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados”.
O sucesso de “Os sertões” possibilitou o ingresso em
instituições que o credenciavam como homem da ciência e
da arte: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
e a Academia Brasileira de Letras (ABL). Passou a colaborar
com revistas científicas e literárias e, entre 1904 e 1906,
incursionou pela Amazônia como chefe da Comissão Mista
Brasil-Peru.
O sucesso, porém, durou pouco. Em 15 de agosto de
1909, Euclides invadiu a casa do tenente Dilermando de
Assis, amante de sua mulher, Anna, para vingar sua honra.
Acertou dois tiros no rival, que revidou e o matou
imediatamente. Notícias da Tragédia da Piedade
alastraram-se por todo o país. E o episódio virou até série
da Globo. Agora, 110 anos depois, o próprio autor e sua
obra ganham novos olhares.
GABRIEL, Ruan de Souza. O Globo, 06/07/2019, Segundo
Caderno, p. 1.
Para caracterizar o estilo e a grandeza literária de Euclides
da Cunha, o autor do texto 1, parte da afirmativa: “Misto
de ensaio, tratado científico e análise social com caudalosa
prosa poética, ‘Os sertões’ é um livro que só Euclides
poderia escrever, graças à sua trajetória e a interesses
únicos” (3º §), além de recorrer ao testemunho de
proeminentes professores. Com base nas informações
contidas no texto, quanto ao gênero literário, está correto
definir “
Os sertões” no gênero:
- A)lírico, em razão de o autor ter utilizado o lirismo para desenvolver o tema da Guerra de Canudos, com fortes traços de subjetivismo relacionados à natureza.
- B)épico, devido ao fato de o texto focalizar a epopeia do heroico povo de Canudos, em extensas narrativas imortalizando os acontecimentos narrados, visto serem de interesse mundial.
- C)narrativo, pelo fato de o livro narrar em prosa o fatídico confronto entre soldados do exército republicano brasileiro e os sertanejos monarquistas liderados pelo beato Antônio Conselheiro.
- D)dramático, em vista de o texto desenvolver um acontecimento ou situação com intensidade emocional, como foi a Guerra de Canudos, com o objetivo posterior de representação em teatro.
- E)narrativo em forma de romance, por se tratar de uma prosa extensa e complexa, sobre personagens fictícios que vivenciaram os acontecimentos relacionados a uma suposta Guerra de Canudos.
A alternativa correta é C)
Euclides da Cunha e a Complexidade de "Os Sertões"
A obra "Os Sertões", de Euclides da Cunha, é um marco na literatura brasileira, não apenas por seu conteúdo histórico e social, mas também pela complexidade de seu gênero literário. Como apontado no texto, trata-se de um "mistura de ensaio, tratado científico e análise social com caudalosa prosa poética". Essa fusão de elementos dificulta uma classificação simplista, mas, com base nas informações apresentadas, a alternativa correta é a C) narrativo.
A narrativa de "Os Sertões" se concentra no confronto entre as tropas republicanas e os sertanejos de Canudos, liderados por Antônio Conselheiro. Euclides da Cunha, inicialmente alinhado com a visão republicana, revê seus conceitos após testemunhar a brutalidade do massacre. Sua escrita, embora carregada de lirismo e análises científicas, tem como núcleo a narração dos fatos ocorridos, o que justifica sua classificação como texto narrativo.
Apesar de apresentar características líricas, épicas e até dramáticas, como destacam os críticos citados no texto, a essência da obra reside na reconstrução dos eventos de Canudos. A prosa de Euclides não se limita a relatar, mas também interpreta e emociona, criando um panorama único que só sua trajetória pessoal e intelectual poderia produzir. Portanto, embora transcenda rótulos, a classificação mais adequada, conforme o contexto apresentado, é a de uma narrativa em prosa.