“Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal, [esse silogismo] parecera-lhe, durante toda a sua vida, correto em relação a Caio, mas de modo algum em relação a ele.” TOLSTOI, Lev. A morte de Ivan Ilitch. São Paulo: Editora 34, 2006. Exceção entre os animais, o homem é o único que carrega consigo a certeza da sua própria morte. Esse conhecimento antecipado serve tanto de medida e restrição para as ambições da vida quanto de combustível para atos que garantam algum tipo de imortalidade. De maneira geral, ao defrontar-se com a morte, o ser humano tem noção dos seus limites e daquilo que é possível fazer enquanto está vivo. Planos, viagens, sonhos são marcos postos entre cada um e seu próprio fim. Nesta prova você se deparará com textos que refletem sobre esse tema.Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. “– “Morto! morto!” dizia consigo. E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o voo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, – a imaginação dessa senhora também voou por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil… Deixá-la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos primeiros anos. Agora, quero morrer tranquilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra e lodo, e coisa nenhuma. Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.” Com base na obra de Machado de Assis, preencha os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Tanto Dom Casmurro quanto Memórias Póstumas de Brás Cubas têm em comum o fato de serem livros narrados em primeira pessoa. Além disso, ambos os personagens pertencem à elite carioca do século XIX. ( ) O livro Memórias Póstumas de Brás Cubas encerra-se com um capítulo todo feito de negativas, no qual o narrador enumera uma série de faltas de que sofreu em vida, entre elas o fato de não ter tido filhos e, assim, não ter transmitido a ninguém a herança de nossa miséria.( ) Há um consenso entre os críticos quanto a Dom Casmurro ser um romance baseado nas memó- rias sinceras de um homem traído.( ) Machado atuou em diversas áreas das Letras brasileiras. O autor escreveu romances, contos, crítica literária; porém, deixou de lado o teatro e a poesia.A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
é mortal, [esse silogismo] parecera-lhe, durante toda
a sua vida, correto em relação a Caio, mas de modo
algum em relação a ele.”
Editora 34, 2006.
Exceção entre os animais, o homem é o único que
carrega consigo a certeza da sua própria morte.
Esse conhecimento antecipado serve tanto de medida
e restrição para as ambições da vida quanto de
combustível para atos que garantam algum tipo de
imortalidade. De maneira geral, ao defrontar-se com
a morte, o ser humano tem noção dos seus limites e
daquilo que é possível fazer enquanto está vivo. Planos,
viagens, sonhos são marcos postos entre cada
um e seu próprio fim. Nesta prova você se deparará
com textos que refletem sobre esse tema.
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
um ilustre viajante viu desferirem o voo desde o
Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas
e dos tempos, – a imaginação dessa senhora também
voou por sobre os destroços presentes até às
ribas de uma África juvenil… Deixá-la ir; lá iremos
mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos
primeiros anos. Agora, quero morrer tranquilamente,
metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as
falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas
folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de
uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à
porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra
da morte foi muito menos triste do que podia parecer.
De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A
vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de
vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia
à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me
planta, e pedra e lodo, e coisa nenhuma.
foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa
e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor
me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe
sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.”
os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).
de Brás Cubas têm em comum o fato de
serem livros narrados em primeira pessoa. Além
disso, ambos os personagens pertencem à elite
carioca do século XIX.
encerra-se com um capítulo todo feito de negativas,
no qual o narrador enumera uma série de
faltas de que sofreu em vida, entre elas o fato de
não ter tido filhos e, assim, não ter transmitido a
ninguém a herança de nossa miséria.
Casmurro ser um romance baseado nas memó-
rias sinceras de um homem traído.
( ) Machado atuou em diversas áreas das Letras
brasileiras. O autor escreveu romances, contos,
crítica literária; porém, deixou de lado o teatro e
a poesia.
de cima para baixo, é
- A)V – V – F – F
- B)V – V – V – F
- C)V – F – F – V
- D)F – V – V – F
- E)F – F – V – V
Resposta:
A alternativa correta é A)
O trecho apresentado, extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, ilustra de maneira singular a reflexão sobre a morte e a condição humana. A obra, narrada em primeira pessoa por um defunto autor, Brás Cubas, subverte as convenções literárias ao apresentar um protagonista que já está morto, mas que relata sua vida com ironia e distanciamento crítico. Essa abordagem inovadora permite ao leitor confrontar-se com temas como a efemeridade da existência, a vaidade humana e a busca por um legado que transcenda a morte.
A análise das afirmações sobre a obra machadiana revela aspectos importantes de sua produção literária. A primeira afirmação é verdadeira, pois tanto Dom Casmurro quanto Memórias Póstumas de Brás Cubas são narrados em primeira pessoa e retratam personagens da elite carioca do século XIX, refletindo as contradições e os valores dessa classe social. A segunda afirmação também é verdadeira, já que o último capítulo de Memórias Póstumas é marcado por um tom de negatividade, no qual Brás Cubas enumera suas frustrações, incluindo a ausência de filhos e a impossibilidade de perpetuar sua linhagem.
Por outro lado, a terceira afirmação é falsa, pois não há consenso entre os críticos sobre Dom Casmurro ser uma narrativa baseada em memórias sinceras de um homem traído. A ambiguidade da obra, especialmente em relação à suposta traição de Capitu, é justamente um dos elementos que a tornam tão discutida e engenhosa. Por fim, a quarta afirmação é falsa, uma vez que Machado de Assis também escreveu poesia e peças teatrais, embora seja mais reconhecido por seus romances e contos.
Assim, a sequência correta é V – V – F – F, conforme a alternativa A. A obra de Machado de Assis, especialmente Memórias Póstumas de Brás Cubas, desafia o leitor a refletir sobre a vida, a morte e as ilusões humanas, mantendo sua relevância e profundidade mais de um século após sua publicação.
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