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Questões Sobre o Descritor D10 - Português - 9º ano

Descritor 10: Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.

11) Qual dos trechos apresenta o tempo da narrativa? A) “Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.”B) “No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo.”.C) “Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho.”. D) “O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico.”.

  • A) "Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.”
  • B) “No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo.”.
  • C) “Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho.”.
  • D) “O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico.”.
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A resposta correta é a letra B)

A resposta correta é a letra B) porque apresenta o uso correto da crase na expressão "à porta", conforme exige a norma culta da língua portuguesa.

  • A crase é obrigatória antes de palavras femininas que indiquem lugar, quando há ideia de movimento ou direção, como no caso de "porta".
  • As demais alternativas não apresentam casos de crase: a letra A usa a preposição "com" normalmente; a letra C não exige crase; a letra D emprega o artigo definido sem preposição.
  • A construção "à porta" segue a regra da crase antes de substantivos femininos que especificam locais, com verbo que indica movimento ("estar" implícito na situação).

Questão 12

Felicidade clandestina

Clarice Lispector

    […]

    Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

    Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

    No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

    Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.

    E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

    Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

    […]

Disponível: http://pagina-de-vida.blogspot.com /2007/05/felicidade-clandestina-clarice.html. Acesso em 14 nov. 2018.

Quem narra esse texto é

  • A) distante dos fatos narrados.
  • B) indiferente aos fatos narrados.
  • C) observador dos fatos narrados.
  • D) participante dos fatos narrados.
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A resposta correta é a letra D)

A narradora do texto "Felicidade Clandestina" é claramente participante dos fatos narrados, conforme indicado pela alternativa D. Esta conclusão baseia-se em várias evidências textuais que demonstram seu envolvimento direto e emocional com os eventos.

Em primeiro lugar, a narrativa é conduzida em primeira pessoa, com a protagonista referindo-se a si mesma através de pronomes como "eu" e "meu", como em: "Disse-me que eu passasse pela sua casa" e "eu me transformei na própria esperança". Esta perspectiva subjetiva coloca a narradora como centro da ação, vivenciando diretamente cada momento.

Além disso, a narradora expressa intensas emoções e reações físicas aos acontecimentos, demonstrando profundo envolvimento: "literalmente correndo", "com um sorriso e o coração batendo", "sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados". Estas descrições mostram que ela não apenas observa, mas experimenta fisicamente e emocionalmente os fatos.

O texto também revela que a narradora é a protagonista da história que se desenrola - é ela quem deseja o livro, quem vai diariamente à casa da colega, quem sofre com o adiamento repetido e quem finalmente reflete sobre o significado desta experiência em sua vida. Sua participação é ativa e central em toda a trama.

As outras alternativas podem ser descartadas: a narradora não é distante (A), pois está emocionalmente envolvida; não é indiferente (B), já que demonstra forte expectativa e frustração; e não é apenas observadora (C), mas sim protagonista que vivencia os eventos diretamente.

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