Questões Sobre o Descritor D19 - Português - 9º ano
Descritor 19: Reconhecer o efeito decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos.
Questão 1
O burrinho pedrês
As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atrito de couros, estalos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado Junqueira, de chifre imenso, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão…
…] Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando… Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito. Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando… […]
Pouco a pouco, porém, os rostos se desempenam e os homens tomam gesto de repouso nas selas, satisfeitos. Que de trinta, trezentos ou três mil, só está quase pronta a boiada quando as alimárias se aglutinam em bicho inteiro – centopeia –, mesmo prestes assim para surpresas más.
ROSA, João Guimarães. O burrinho pedrês. In: Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. Fragmento. *Adaptado: Reforma Ortográfica.
Nesse texto, a construção “… as alimárias se aglutinam em bicho inteiro – centopeia…” (último parágrafo) foi empregada para
- A) comparar a formação da boiada a uma centopeia.
- B) destacar a importância da centopeia no cortejo.
- C) indicar o caráter negativo das centopeias.
- D) informar que havia bois e centopeias na manada.
A resposta correta é a letra A)
O texto de Guimarães Rosa apresenta uma construção linguística rica em imagens e metáforas, característica marcante de sua obra. A expressão "as alimárias se aglutinam em bicho inteiro - centopeia" serve como uma analogia poética para descrever o movimento unificado do gado durante a formação da boiada.
Através desta comparação, o autor estabelece um paralelo entre a organização coletiva dos animais e a figura de uma centopeia - criatura conhecida por seu movimento coordenado e aparente unidade corporal. A imagem evoca não apenas a forma alongada do rebanho em movimento, mas também a noção de que múltiplos elementos se tornam uma única entidade funcional.
Esta interpretação se sustenta no contexto narrativo: o trecho anterior descreve o caótico movimento inicial do gado, enquanto o parágrafo em questão marca a transição para a organização da boiada. A centopeia serve assim como metáfora visual para esta transformação do grupo disperso em unidade coordenada, preparada para enfrentar os perigos da jornada.
Questão 2
Era a primeira vez que eu pisava naquele lugar. Nas minhas andanças pelas redondezas, jamais fora além do vale. Mas nesse dia, sem nenhum cansaço, transpus a colina e cheguei ao campo. Que calma! E que desolação. Tudo aquilo — disso estava bem certa — era completamente inédito pra mim. Mas por que então o quadro se identificava, em todas as minúcias, a uma imagem semelhante lá nas profundezas da minha memória?
Voltei-me para o bosque que se estendia à minha direita. Esse bosque eu também já conhecera com sua folhagem cor de brasa dentro de uma névoa dourada. “Já vi tudo isto, já vi… Mas onde? E quando?”
Na frase “Já vi tudo isso, já vi… Mas onde?” o uso das reticências sugere
- A) impaciência.
- B) impossibilidade.
- C) incerteza.
- D) irritação.
A resposta correta é a letra D)
Na frase "Já vi tudo isso, já vi... Mas onde?" do texto apresentado, o uso das reticências sugere irritação (alternativa D).
As reticências neste contexto expressam um estado de frustração e exasperação da personagem, que reconhece a paisagem mas não consegue identificar a origem dessa familiaridade. A interrupção do pensamento marcada pelas reticências reflete a dificuldade em acessar a memória específica, criando uma pausa carregada de tensão emocional.
Esta escolha pontual transmite a irritação crescente da narradora diante do paradoxo entre o reconhecimento imediato da cena e a impossibilidade temporária de localizar a lembrança. As reticências capturam precisamente esse momento de exasperação que precede a pergunta retórica "Mas onde?", reforçando o tom de frustração que permeia o trecho.
Questão 3
O último poema
Manuel Bandeira
Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Disponível em http://www.celipoesias.net/manuel-bandeira/poesia1.htm, acessado em 07 de novembro de 2012.
A repetição do termo “que” no 2º, 3º e 4º versos do poema, produz o efeito de
- A) ênfase
- B) continuidade
- C) dúvida.
- D) hesitação.
A resposta correta é a letra A)
A repetição do termo "que" nos versos do poema "O último poema", de Manuel Bandeira, produz um efeito de ênfase. Essa construção anafórica (repetição de palavra no início de frases ou versos) serve para intensificar e destacar cada uma das qualidades que o poeta deseja para seu último poema: ternura, ardor, beleza sutil, pureza e paixão inexplicável. A reiteração confere ritmo e força expressiva ao texto, elevando a importância de cada característica enumerada, o que caracteriza claramente uma função enfática rather than indicando continuidade, dúvida ou hesitação.
Questão 4
Direitos da criança e do adolescente
Toda criança e o adolescente tem direito à proteção e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas.
Toda criança e o adolescente tem direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas.
Toda criança e o adolescente tem direito a ser criado e ser educado no sei de sua família.
Toda criança e o adolescente tem direito à educação. Visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa.
Toda criança e o adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos como adequados a sua faixa etária.
Texto adaptado do ECA/CEDCA-GO 2002
Usando o termo “Toda” no início de cada frase, o texto
- A) enfatiza a idéia de universalidade.
- B) estabelece independência com o termo “criança”.
- C) estabelece maior vínculo com o leitor.
- D) faz uma repetição sem necessidade.
A resposta correta é a letra A)
A repetição do termo "Toda" no início de cada afirmação sobre os direitos da criança e do adolescente cumpre uma função retórica específica no texto. Essa construção linguística reforça o caráter universal e inclusivo dos direitos mencionados, deixando claro que nenhuma criança ou adolescente está excluída dessas garantias fundamentais.
A alternativa A está correta porque a palavra "Toda" opera como um quantificador universal, assegurando que cada direito enumerado se aplica a absolutamente todas as crianças e adolescentes, sem exceção. Esta repetição intencional cria um efeito de ênfase e reforça o princípio da igualdade de direitos previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.
As demais alternativas não se sustentam: a repetição não estabelece independência com o termo "criança" (B), pois ambos os termos estão intrinsicamente ligados; não cria vínculo especial com o leitor (C), mas sim com a universalidade do direito; e longe de ser desnecessária (D), a repetição cumpre função estilística e jurídica essencial para enfatizar a abrangência total dos direitos.
Questão 5
O MÁGICO ERRADO
Arquibaldo era um mágico. Exatamente. Um homem capaz de realizar maravilhas. Ou de maravilhar outras pessoas, se preferir. Mas havia um probleminha. E probleminha é modo de dizer, porque ele achava um proble-mão. Arquibaldo era um mágico diferente. Um mágico às avessas, sei lá como dizer.
Esse era o problema de Arquibaldo. Ele não sabia. Não conseguia, por mais que se concentrasse. Ele tirava bichos da cartola e do lenço. Era capaz de passar o dia inteirinho tirando bichos. Mas, se falasse: “Vou tirar…” Pronto! Tirava tudo que era bicho, menos o bicho anunciado. Por isso, andava tristonho da vida.
Arquibaldo recordava-se dos espetáculos no circo. Embora preferisse nem lembrar. O apresentador apresentava com ar solene e voz emocionada.
— E agora, com vocês, Ar-qui-bal-do, o maior mágico do mundo!
Fonte: GALDINO, Luiz. O mágico errado. São Paulo: FTD, 1996. Adaptado. Fonte: SARESP, 2010.
Observe: “— E agora, com vocês, Ar-qui-bal-do, (último parágrafo) o maior mágico do mundo!”
A palavra grifada foi dividida em sílabas para
- A) imitar o modo como o apresentador fala em circo.
- B) explicar direito como se pronuncia o nome Arquibaldo.
- C) criar uma dúvida sobre os poderes do mágico.
- D) indicar que a mágica será muito perigosa.
A resposta correta é a letra A)
A palavra "Ar-qui-bal-do" foi dividida em sílabas no texto para imitar o modo como o apresentador fala em circo. Essa estratégia narrativa reproduz a entonação teatral e dramática típica dos mestres de cerimônia circenses, que costumam anunciar os artistas com pausas exageradas e ênfase silábica para criar expectativa no público. A divisão não tem função explicativa de pronúncia (como na opção B), pois o nome Arquibaldo segue as regras normais de silabação do português. Também não está relacionada aos poderes do mágico (opção C) ou ao perigo da mágica (opção D), mas sim à caracterização cênica do momento da apresentação, reforçando o clima de espetáculo e a ironia do contexto - já que se anuncia "o maior mágico do mundo" justamente quando ele demonstra sua incompetência mágica.
Questão 6
Grampo na linha
Me grampearam! A voz era cavernosa:
— Senhor Domingos?
— Sim.
— Nós grampeamos seu telefone.
— O quê? Quem está falando?
— O senhor vai receber a fita já-já.
Desligou, e eu ainda estava pensando quem poderia me passar um trote assim, tocou a campainha. Era um mototaxista, que nem tirou o capacete:
— Senhor Domingos? Para o senhor.
Me deixou nas mãos uma caixinha e se foi. Abri, é uma fita que começa com a voz cavernosa avisando: você vai ouvir agora trechos selecionados de algumas conversas ao telefone. Ouça bem se não são conversas com-pro-me-te-do-ras… — a voz solta amplas reticências, em seguida vêm as gravações: […]
Conspiração
— Pellegrini?
— Não, o papa! Você não ligou pro Vaticano? Sabe que hora é?
— Certo, certo…
(Atenção — a voz cavernosa interrompe a conversa. — É claro que essa história de papa e Vaticano é uma senha, pois o assunto é grave, é coisa de sociedade secreta ou grupo terrorista! E continua a conversa… […]
— Hein, Pellegrini? — a voz cavernosa e vitoriosa. — Quanto acha que vale essa fita? E o que acha que a gente devia fazer com ela?…
PELLEGRINI, Domingos. Ladrão que rouba ladrão e outras crônicas. In: Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 2005. V. 33. * Adaptado:Reforma Ortográfica.
Nesse texto, a escrita da palavra “com-pro-me-te-do-ras” (9° parágrafo) sugere
- A) crítica.
- B) gravidade.
- C) hesitação.
- D) musicalidade.
A resposta correta é a letra B)
A escrita da palavra "com-pro-me-te-do-ras" com hifens e sílabas separadas sugere gravidade, pois imita a entonação solene e dramática da voz cavernosa que apresenta as supostas conversas comprometedoras. Esta forma de escrita transmite uma pronúncia pausada e enfática, criando um clima de seriedade e importância para o conteúdo que será revelado, alinhando-se com o tom de suspense e gravidade que permeia toda a narrativa da chantagem.
Questão 7
— As árvores se comunicam entre si, não importa a distância. Na verdade, nenhuma árvore está sozinha. Ninguém está sozinho.
Jamais. Lembre-se disso.
No trecho “Ninguém está sozinho. Jamais. Lembre-se disso. “as frases curtas produzem o efeito de
- A) continuidade.
- B) dúvida.
- C) ênfase.
- D) hesitação.
A resposta correta é a letra C)
O uso de frases curtas no trecho "Ninguém está sozinho. Jamais. Lembre-se disso." produz um efeito de ênfase, que corresponde à alternativa C. Essas estruturas sintáticas breves e diretas criam um ritmo marcante e intensificam a mensagem, conferindo-lhe maior peso e convicção. Cada frase funciona como uma afirmação autônoma e impactante, reforçando a ideia central de que a solidão é inexistente no contexto da comunicação entre as árvores, conforme sugerido no texto. Diferentemente de continuidade, dúvida ou hesitação, as pausas curtas e o tom peremptório destacam a importância da mensagem e buscam fixá-la na mente do leitor.
Questão 8
Galinha ao molho pardo
Fernando Sabino
Ao chegar da escola, dei com a novidade: uma galinha no quintal.
O quintal de nossa casa era grande, mas não tinha galinheiro, como quase toda casa de Belo Horizonte naquele tempo. Tinha era uma porção de árvores: um pé de manga sapatinho, outro de manga coração-de-boi, um pé de gabiroba, um pé de goiaba branca, outro de goiaba vermelha, um pé de abacate e até um pé de fruta-de-conde. […]
Pois no fundo do quintal que eu vi a galinha, toda folgada, ciscando na caixa de areia. Havia sido comprada por minha mãe para o almoço de domingo: Dr. Junqueira ia almoçar em casa e ela resolveu fazer Galinha ao molho pardo.
Eu já tinha visto a Alzira matar galinha, uma coisa terrível. Agarrava a coitada pelo pescoço, agachava, apertava o corpo dela entre os joelhos, torcia com a mão esquerda a cabecinha assim para um lado, e com a direita, zapt! Passava o facão afiado, abrindo um talho no gogó. O sangue esguichava longe. Ela aparava logo o esguicho com uma bacia, deixando que escorresse ali dentro até acabar. E a bichinha ainda viva, estrebuchando nas mãos da malvada.
Como se fosse a coisa mais natural deste mundo, a Alzira me contou o que ia acontecer com a nova galinha.
Revoltado, resolvi salvá-la. […]
SABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1992.
No trecho, “E a bichinha ainda viva, estrebuchando nas mãos da malvada.”, o diminutivo empregado na palavra “bichinha” sugere
- A) pena.
- B) crítica.
- C) deboche.
- D) impaciência.
A resposta correta é a letra A)
No trecho "E a bichinha ainda viva, estrebuchando nas mãos da malvada", o emprego do diminutivo "bichinha" sugere um sentimento de pena em relação à galinha. Esta interpretação se sustenta através de elementos contextuais presentes no texto.
O narrador, uma criança, demonstra claramente sua repulsa pelo processo de abate descrito anteriormente, caracterizando-o como "uma coisa terrível". A descrição vívida do sofrimento animal - "sangue esguichando", "estrebuchando" - reforça a perspectiva sensível do narrador. A oposição entre "bichinha" (com sua carga afetiva) e "malvada" (referindo-se à pessoa que realiza o abate) cria um contraste deliberado que evidencia a simpatia do narrador pela ave.
O diminutivo em português frequentemente transmite afeto, familiaridade ou, como neste caso, comiseração. Ao reduzir a galinha a uma "bichinha", o narrador minimiza simbolicamente o animal, apresentando-o como ser vulnerável e digno de compaixão, o que corrobora a alternativa A como correta.
Questão 9
Poeminha do Contra
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão,
Eu passarinho!
QUINTANA, Mário. Antologia poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
O uso do substantivo “passarinho” como se fosse verbo sugere
- A) lamento.
- B) orgulho.
- C) permanência.
- D) tristeza.
A resposta correta é a letra C)
O poema "Poeminha do Contra" de Mário Quintana apresenta uma construção linguística peculiar onde o substantivo "passarinho" é utilizado com função verbal na expressão "Eu passarinho!". Esta escolha poética carrega um significado profundo que se contrapõe à ideia de transitoriedade expressa em "Eles passarão".
Analisando as alternativas:
A) Lamento - Não se aplica, pois o tom do poema é de leveza e esperança, não de lamentação.
B) Orgulho - Embora haja certa altivez na voz poética, não é esta a principal conotação.
C) Permanência - Esta é a alternativa correta. O uso de "passarinho" como verbo sugere um estado permanente de ser, em contraste com a passagem transitória dos outros. O pássaro simboliza liberdade, continuidade e uma existência que transcende o efêmero.
D) Tristeza - Incompatível com a leveza e o caráter lúdico da expressão.
A genialidade quintaniana está precisamente nesta subversão gramatical que transforma um substantivo em ação permanente, criando a oposição entre o passageiro ("passarão") e o permanente ("passarinho" como estado de ser).
Questão 10
Direitos da criança e do adolescente
Toda criança e o adolescente tem direito à proteção e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas.
Toda criança e o adolescente tem direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas.
Toda criança e o adolescente tem direito a ser criado e ser educado no seio de sua família.
Toda criança e o adolescente tem direito à educação. Visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa.
Toda criança e o adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos como adequados a sua faixa etária.
Texto adaptado do ECA/CEDCA-GO:2002
Usando o termo “Toda” no início de cada frase, o texto
- A) enfatiza a idéia de universalidade.
- B) estabelece independência com o termo "criança".
- C) estabelece maior vínculo com o leitor.
- D) faz uma repetição sem necessidade.
A resposta correta é a letra A)
A resposta correta é a letra A porque o uso repetitivo do termo "Toda" no início de cada frase serve para enfatizar a universalidade dos direitos apresentados. Esta construção linguística reforça que nenhuma criança ou adolescente está excluída dessas garantias, destacando o caráter absoluto e inclusivo das proteções estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A repetição não é meramente estilística, mas cumpre uma função retórica de universalização, assegurando que cada direito se aplica integralmente a todo e qualquer indivíduo nesta faixa etária, sem exceções ou restrições.