Questões Sobre o Descritor D4 - Português - 9º ano
Descritor 04: Inferir uma informação implícita em um texto
Questão 1
Momento num café
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um, no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem e Estrela da manhã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
Nesse texto, o autor trabalha com o antagonismo entre vida e
- A) agitação.
- B) cotidiano.
- C) morte.
- D) traição.
A resposta correta é a letra C)
O poema "Momento num café" de Manuel Bandeira constrói um antagonismo central entre a vida e a morte, evidenciado pelo contraste de atitudes dos personagens diante do cortejo fúnebre. Enquanto a maioria dos homens saúda o morto de forma distraída e mecânica, "absortos na vida" e "confiantes na vida", um indivíduo se destaca por seu gesto deliberado e prolongado em direção ao esquife. Este personagem, que "sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade", reconhece a morte como a libertação definitiva da "alma extinta", estabelecendo assim o diálogo antagônico entre a existência terrena (vida) e seu término (morte). As demais opções - agitação, cotidiano e traição - são elementos que caracterizam a visão negativa da vida apresentada no texto, mas não constituem o polo oposto à vida desenvolvido pelo poeta.
Questão 2
A casa dos mil espelhos
Tempos atrás em um distante e pequeno vilarejo, havia um lugar conhecido como a casa dos 1000 espelhos. Um pequeno e feliz cãozinho soube deste lugar e decidiu visitar.
Lá chegando, saltitou feliz escada acima até a entrada da casa. Olhou através da porta de entrada com suas orelhinhas bem levantadas e a cauda balançando tão rapidamente quanto podia. Para sua grande surpresa, deparou-se com outros 1000 pequenos e felizes cãezinhos, todos com suas caudas balançando tão rapidamente quanto à dele. Abriu um enorme sorriso, e foi correspondido com 1000 enormes sorrisos.
Quando saiu da casa, pensou:
— Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre, um montão de vezes.
Neste mesmo vilarejo, um outro pequeno cãozinho, que não era tão feliz quanto o primeiro, decidiu visitar a casa. Escalou lentamente as escadas e olhou através da porta.
Quando viu 1000 olhares hostis de cães que lhe olhavam fixamente, rosnou e mostrou os dentes e ficou horrorizado ao ver 1000 cães rosnando e mostrando os dentes para ele.
Quando saiu, ele pensou:
— Que lugar horrível, nunca mais volto aqui.
Todos os rostos no mundo são espelhos.
Que tipo de reflexos você vê nos rostos das pessoas que você encontra?
Disponível em: http://br.geocities.com/Tradução Sergio Barros. Acesso em: 3 set. 2009.
Nesse texto, o primeiro cãozinho que visitou a casa era
- A) alegre.
- B) fujão.
- C) medroso.
- D) tranquilo.
A resposta correta é a letra A)
O primeiro cãozinho que visitou a casa dos mil espelhos era alegre, conforme demonstrado claramente no texto através de várias evidências comportamentais. O animal é descrito como "pequeno e feliz cãozinho" que "saltitou feliz escada acima", apresentando "orelhinhas bem levantadas e a cauda balançando tão rapidamente quanto podia". Sua atitude positiva é recompensada com a visão de "outros 1000 pequenos e felizes cãezinhos" que correspondem ao seu entusiasmo, confirmando que o espelho reflete sua própria alegria. A reação final do cão - "Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre" - reforça seu caráter alegre e otimista, contrastando completamente com a experiência negativa do segundo cão.
Questão 3
Na Grécia Antiga, contava-se a história do astuto Ulisses. Durante a sua viagem de volta a Ítaca, onde morava, viu-se obrigado a cruzar a perigosa terra das Sereias. Elas atraíam e matavam os homens com o seu canto. Acontece que Ulisses era atrevido e inteligente. Resolveu que ia conhecer o canto daquelas feiticeiras aquáticas e, para isso, seguiu os conselhos de sua amiga Circe: primeiro, tapou com cera os ouvidos de seus companheiros de viagem. Depois, pediu a eles que o amarrassem bem amarrado, no mastro do navio. Assim, graças a essas ações, o guerreiro passou pertinho das sereias e, maravilhado, quase enlouquecido, pôde admirar suas maravilhas e ouvir seu belo canto sem correr o risco de ser levado, antes do tempo, para o abismo da morte.
Fonte: AZEVEDO, Ricardo. Armazém do Folclore. São Paulo: Ática, 2000. Adapt.
De acordo com o texto, uma das características de Ulisses era ser um homem
- A) louco.
- B) surdo.
- C) cantor.
- D) inteligente.
A resposta correta é a letra D)
De acordo com o texto, Ulisses é descrito como "atrevido e inteligente", características que são fundamentais para compreender suas ações na narrativa. A inteligência de Ulisses é evidenciada pela forma como ele segue os conselhos de Circe: ele não apenas busca ouvir o canto das sereias, mas também toma precauções para garantir sua segurança e a de seus companheiros. Ao tapar os ouvidos de sua tripulação com cera e pedir para ser amarrado ao mastro, Ulisses demonstra planejamento estratégico e sagacidade, evitando o perigo mortal representado pelas sereias. Essa combinação de ousadia e astúcia é central para a trama, permitindo que ele experimente o canto encantador sem sucumbir a ele. Portanto, a característica que melhor define Ulisses, conforme o texto, é a inteligência, tornando a alternativa D a correta.
Questão 4
Uma lição de vida
Lembro-me de uma manhã em que descobri um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei algum tempo, mas estava demorando muito e eu tinha pressa.
Irritado e impaciente, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito. E o milagre começou a acontecer diante de mim num ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu, arrastando-se. Nunca hei de esquecer o horror que senti: suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu corpinho tremia, no esforço para desdobrá-las.
Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito. Em vão. Era necessária uma paciente manutenção e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se mostrar, antes do tempo, toda amarrotada. Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.
Acho que aquele pequeno cadáver é o peso maior que tenho na consciência. Hoje, entendo bem isso: é um pecado mortal forçar as grandes leis.
Não devemos nos apressar, nem ficar impacientes, mas seguir confiantes o ritmo eterno.
KAZANTZAKIS, Nikos. Disponível em: Acesso em: 13 mar. 10.
Como o narrador caracteriza a morte da borboleta?
- A) Paciente manutenção.
- B) Pecado mortal.
- C) Peso maior.
- D) Ritmo eterno.
A resposta correta é a letra C)
O narrador caracteriza a morte da borboleta como "o peso maior que tenho na consciência", conforme expresso no texto: "Acho que aquele pequeno cadáver é o peso maior que tenho na consciência". Esta expressão revela o profundo sentimento de culpa e remorso que o narrador carrega por ter interferido no processo natural de desenvolvimento da borboleta, resultando em sua morte prematura.
Embora o texto também mencione "pecado mortal" como uma reflexão posterior sobre o ato de forçar as leis naturais, a caracterização específica da morte em si é feita através da metáfora do "peso maior", que transmite a intensidade do arrependimento e a carga emocional que o narrador passa a carregar após o ocorrido.
Questão 5
O macaco perante o Juiz de Direito
Andavam um bando de macacos em troça, pulando de árvore em árvore, nas bordas de uma grota. Eis senão quando um deles vê no fundo uma onça que lá caíra. Os macacos se enternecem e resolvem salvá-la. Para isso, arrancaram cipós, emendaram-nos bem, amarraram a corda assim feita à cintura de cada um deles e atiraram uma das pontas à onça. Com o esforço reunido de todos, conseguiram içá-la e logo se desamarraram, fugindo. Um deles, porém, não o pôde fazer a tempo e a onça segurou-o imediatamente.
— Compadre macaco, disse ela, tenha paciência. Estou com fome e você vai fazer-me o favor de deixar-se comer.
O macaco rogou, instou, chorou; mas a onça parecia inflexível. Simão então lembrou que a demanda fosse resolvida pelo juiz de direito. Foram a ele, o macaco sempre agarrado pela onça. É juiz de direito, entre os animais, o jabuti, cujas audiências são dadas à borda dos rios, colocando-se ele em cima de uma pedra. Os dois chegaram e o macaco expôs as suas razões.
O jabuti ouviu e no fim ordenou:
— Bata palmas.
Apesar de seguro pela onça, o macaco pôde assim mesmo bater palmas.
Chegou a vez da onça, que também expôs suas razões e motivos.
— Bata palmas.
A onça não teve remédio senão largar o macaco que escapou, e também o juiz atirando-se na água.
Disponível em: Acesso em: 22 fev. 2010.
De acordo com esse texto, conclui-se que a onça era
- A) humilde.
- B) ingrata.
- C) paciente.
- D) vingativa.
A resposta correta é a letra B)
O texto "O macaco perante o Juiz de Direito" apresenta a onça como um personagem que demonstra ingratidão de forma evidente. Após ser salva pelos macacos que se uniram para resgatá-la do fundo da grota, a onça imediatamente agarra um dos macacos e declara sua intenção de devorá-lo, justificando-se pela fome. Essa atitude mostra uma completa falta de reconhecimento pelo auxílio recebido, caracterizando-a como ingrata.
A onça não demonstra humildade, pois age com arrogância ao exigir que o macaco se deixe comer; não é paciente, já que insiste em sua decisão apesar dos apelos do macaco; e tampouco age por vingança, pois sua motivação é puramente a satisfação imediata de sua fome, sem relação com nenhuma ofensa prévia. Portanto, a conclusão adequada é que a onça era ingrata, correspondendo à alternativa B.
Questão 6
Os Frutos
Os frutos derivam-se do ovário das flores. Após a fecundação dos óvulos em seu interior, o ovário inicia um crescimento, acompanhado de uma modificação de seus tecidos provocada pela influência de hormônios vegetais, que interferem na estrutura, consistência, cores e sabores, dando origem ao fruto. Os frutos mantêm-se fechados sobre as sementes até, pelo menos, o momento da maturação. Quando as sementes estão prontas para germinar, os frutos amadurecem, e podem se abrir, liberando as sementes ao solo, ou tornam-se aptos a serem ingeridos por animais, que depositarão as sementes após estas passarem por seu aparelho digestivo. Os frutos verdadeiros se originam do ovário da planta.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fruto (ultimo acesso em 18/11/2011)
O texto informa sobre
- A) a transformação do fruto depois de seu amadurecimento.
- B) os sabores de cada fruto existentes.
- C) as diversas formas de frutos.
- D) o processo de reprodução e evolução do fruto.
A resposta correta é a letra D)
O texto descreve o processo de reprodução e evolução do fruto, desde sua origem no ovário da flor até a liberação das sementes. Ele detalha como ocorre a fecundação, o crescimento do ovário influenciado por hormônios vegetais, as transformações durante o amadurecimento e as diferentes formas de dispersão das sementes (abertura natural ou ingestão por animais). Todas essas etapas representam o ciclo reprodutivo e evolutivo do fruto, o que torna a alternativa D a correta.
Questão 7
VISITA
Sobre a minha mesa, na redação do jornal, encontrei-o, numa tarde quente de verão. É um inseto que parece um aeroplano de quatro asas translúcidas e gosta de sobrevoar os açudes, os córregos e as poças de água. É um bicho do mato e não da cidade. Mas que fazia ali, sobre a minha mesa, em pleno coração da metrópole?
Parecia morto, mas notei que movia nervosamente as estranhas e minúsculas mandíbulas. Estava morrendo de sede, talvez pudesse salvá-lo. Peguei-o pelas asas e levei-o até o banheiro. Depois de acomodá-lo a um canto da pia, molhei a mão e deixei que a água pingasse sobre a sua cabeça e suas asas. Permaneceu imóvel. É, não tem mais jeito — pensei comigo. Mas eis que ele se estremece todo e move a boca molhada. A água tinha escorrido toda, era preciso arranjar um meio de mantê-la ao seu alcance sem contudo afogá-lo. A outra pia talvez desse mais jeito. Transferi-o para lá, acomodei-o e voltei para a redação.
Mas a memória tomara outro rumo. Lá na minha terra, nosso grupo de meninos chamava esse bicho de macaquinho voador e era diversão nossa caçá-los, amarrá-los com uma linha e deixá-los voar acima de nossa cabeça. Lembrava também do açude, na fazenda, onde eles apareciam em formação de esquadrilha e pousavam na água escura. Mas que diabo fazia na avenida Rio Branco esse macaquinho voador? Teria ele voado do Coroatá até aqui, só para me encontrar? Seria ele uma estranha mensagem da natureza a este desertor?
Voltei ao banheiro e em tempo de evitar que o servente o matasse. “Não faça isso com o coitado!” “Coitado nada, esse bicho deve causar doença.” Tomei-o da mão do homem e o pus de novo na pia. O homem ficou espantado e saiu, sem saber que laços de afeição e história me ligavam àquele estranho ser. Ajeitei-o, dei-lhe água e voltei ao trabalho. Mas o tempo urgia, textos, notícias, telefonemas, fui para casa sem me lembrar mais dele.
GULLAR, Ferreira. O menino e o arco-íris e outras crônicas. Para gostar de ler, 31. São Paulo: Ática, 2001. p. 88-89
A presença do inseto na redação do jornal provocou no homem
- A) curiosidade científica.
- B) lembranças da infância.
- C) medo de pegar uma doença.
- D) sensação de espanto.
A resposta correta é a letra B)
A presença do inseto na redação do jornal desencadeou no narrador um processo de rememoração afetiva de sua infância, conforme evidenciado no texto. O contato com o "macaquinho voador" transporta-o imediatamente para suas experiências infantis, como explicitado no trecho: "Lá na minha terra, nosso grupo de meninos chamava esse bicho de macaquinho voador e era diversão nossa caçá-los". Esta recordação não é meramente casual, mas carregada de significado emocional e nostalgia, representando um elo concreto entre seu presente urbano e seu passado rural.
O narrador não demonstra interesse científico pelo inseto (A), mas sim uma conexão emocional. Também não há indicativos de medo de doença (C), pois ele mesmo repreende o servente que tem esta preocupação. A sensação de espanto (D) existe inicialmente pela presença inusitada do inseto, mas rapidamente se transforma em uma reflexão sentimental sobre suas origens e seu distanciamento da natureza, culminando nas lembranças infantis que constituem o cerne da resposta.
Questão 8
Passa a bola, pai
Faço parte de um grupo que há muitos anos joga basquete. Ao longo desse tempo, as coisas mudaram.
Os garotos que jogavam conosco cresceram, casaram, tiveram filhos, e agora vários desses jovens entram na cancha junto com os pais. Nenhum deles diz passa a bola, pai como sugere o título acima, e certamente não o fazem por constrangimento. O fato, porém, é que os pais passam a bola para os filhos.
Passar a bola para o filho não é o mesmo que passar a bola para um outro parceiro qualquer. É um gesto simbólico. Junto com a bola vão as esperanças paternas, esperanças que começaram a ser nutridas quando o garoto estava no berço: vai lá, meu filho, faz uma cesta, faz uma grande cesta, prova que és um grande jogador, prova que és melhor do que teu pai. A paternidade é isso: um investimento afetivo no futuro, uma confiança enorme na capacidade do filho – como esportista, como profissional, como chefe de família ele mesmo.
Moacyr Scliar. Adaptado – Zero Hora, Revista ZH, 29/11/1998.
A passada de bola, de pai para filho, segundo o texto, é
- A) um gesto simbólico.
- B) prova de serem bons jogadores.
- C) um investimento no futuro.
- D) uma prova de confiança.
A resposta correta é a letra B)
A resposta correta para a questão é a letra A) um gesto simbólico, conforme explicitado no texto de Moacyr Scliar. O autor descreve que "passar a bola para o filho não é o mesmo que passar a bola para um outro parceiro qualquer. É um gesto simbólico". Esta passagem da bola representa a transmissão de esperanças, valores e confiança entre gerações, simbolizando o investimento afetivo dos pais no futuro dos filhos.
A alternativa B está incorreta porque o texto não apresenta a passada de bola como "prova de serem bons jogadores", mas sim como uma expressão simbólica das expectativas paternas. As demais alternativas (C e D), embora relacionadas aos conceitos apresentados no texto ("investimento no futuro" e "prova de confiança"), são consequências ou desdobramentos do gesto simbólico principal, não a definição central da ação descrita.
Questão 9
Fim do mundo
Carlos Drummond de Andrade
Aos sete anos de idade, imaginei que ia presenciar a morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um cometa mal-humorado visitava o espaço. Em certo dia de 1910, sua cauda tocaria a Terra; não haveria mais aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos.[…] Havia ainda a angústia da morte, o tranco final, com a cidade inteira (e a cidade, para o menino, era o mundo) se despedaçando — mas isso, afinal, seria um espetáculo. Preparei-me para morrer, com terror e curiosidade.
Fonte: http://portal.rpc.com.br /gazetadopovo/blog/certas/ palavras/?id=746167
O sentimento expresso no trecho “não haveria mais aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos” era de
- A) êxtase porque tudo iria mudar muito no futuro.
- B) curiosidade porque não se sabia claramente como seria o futuro.
- C) surpresa com as várias mudanças previstas para o futuro.
- D) alívio porque alguns deveres não existiriam no futuro.
A resposta correta é a letra D)
O sentimento expresso no trecho "não haveria mais aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos" era de alívio porque alguns deveres não existiriam no futuro.
Esta interpretação se justifica pelo contexto do texto, onde o narrador criança encara o fim do mundo com uma mistura de terror e curiosidade, mas também com certa expectativa de libertação das obrigações cotidianas que lhe eram impostas. A enumeração das atividades que deixariam de existir - aulas, missa, obediência - revela um aspecto positivo na perspectiva apocalíptica, sugerindo alívio diante da possibilidade de se ver livre desses compromissos.
As demais alternativas não se sustentam: não há êxtase (A), pois o texto fala em terror; não é apenas curiosidade (B), já que há um elemento específico de alívio; e não há surpresa (C), uma vez que o menino já estava preparado para o evento.
Questão 10
Teresa
Manuel Bandeira
A primeira vez que vi Teresa.
Achei que ela tinha pernas estúpidas.
Achei também que a cara parecia uma perna.
Quando vi Teresa de novo.
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo.
Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse.
Da terceira vez não vi mais nada.
Os céus se misturaram com a terra.
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuel bandeira01.html/>. Acesso em: 27 abr. 2016.
Infere-se pela leitura da última estrofe do poema que o eu poético em relação à Teresa desenvolveu um sentimento de
- A) amor.
- B) repúdio.
- C) desilusão.
- D) compaixão.
A resposta correta é a letra A)
O poema "Teresa" de Manuel Bandeira apresenta uma evolução dos sentimentos do eu lírico em relação à personagem título. Na última estrofe, o verso "Da terceira vez não vi mais nada" indica uma transcendência da percepção física, enquanto "Os céus se misturaram com a terra" e "o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas" remetem à criação bíblica, sugerindo um renascimento espiritual e emocional.
Essa linguagem cósmica e bíblica transmite uma sensação de completude e êxtase, característica do sentimento amoroso que supera a mera aparência física. As impressões iniciais negativas (pernas "estúpidas", rosto comparado a uma perna) são transcendidas por uma experiência quase mística, onde o eu lírico deixa de ver detalhes isolados para experimentar uma fusão cósmica - elemento típico da representação do amor pleno na poesia.
Portanto, a alternativa correta é a letra A) amor, pois a última estrofe descreve uma transformação radical da percepção, onde o sentimento desenvolvido ultrapassa a crítica inicial e alcança uma dimensão espiritual e totalizante, característica do amor profundo.