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Questões Sobre o Descritor D4 - Português - 9º ano

Descritor 04: Inferir uma informação implícita em um texto

Questão 11

Papagaio congelado

Ricardo Azevedo

    Um dia, um sujeito ganhou de presente um papagaio.

    O bicho era uma praga. Não demorou muito, logo se espalhou pela casa.

    Atendia telefone.

    Gritava e falava sozinho nas horas mais inesperadas.

    Dava palpite nas conversas dos outros.

    Discutia futebol.

    Fumava charuto.

    Pedia café, tomava, cuspia, arregalava os olhos, esparramava semente de girassol e cocô por todo lado, gargalhava e ainda gritava para o dono de casa: “Ô seu doutor, vê se não torra faz favor!”

    Uma noite, a família recebeu uma visita para jantar.

    O papagaio não gostou da cara do visitante e berrou: “Vai embora, ratazana!” e começou a falar cada palavrão cabeludo que dava medo.

    Depois que a visita foi embora, o dono da casa foi até o poleiro. Estava furioso:

    — Seu mal-educado, sem-vergonha de uma figa! Estou cheio! Agora você vai ver o que é bom pra tosse.

    Agarrou o papagaio pelo cangote e atirou dentro da geladeira:

    — Vai passar a noite aí de castigo!

    Depois, fechou a porta e foi dormir.

    No dia seguinte, saiu atrasado para o trabalho e esqueceu o coitado preso dentro da geladeira.

    Só foi lembrar do bicho à noite, quando voltou para casa.

    Foi correndo abrir a geladeira.

    O papagaio saiu trêmulo e cabisbaixo, com cara arrependida, cheio de pó gelado na cabeça.

    Ficou de joelhos.

    Botou as duas asas na cabeça.

    Rezou.

    Disse pelo amor de Deus.

    Reconheceu que estava errado.

    Pediu perdão.

    Disse que nunca mais ia fazer aquilo.

    Jurou que nunca mais ia fazer coisa errada, que nunca mais ia atender telefone e interromper conversa, nem xingar nenhuma visita.

    Jurou que nunca mais ia dizer palavrão nem “vai embora, ratazana”.

    Depois, examinando o homem com os olhos arregalados, espiou dentro da geladeira e perguntou:

    — Queria saber só uma coisa: o que é que aquele franguinho pelado, deitado ali no prato, fez?

Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/ 3210/papagaio-congelado>. Acesso em: 05 mar. 2018.

Conclui-se que, o papagaio prometeu mudar de comportamento, pelo fato de, em relação ao homem, ter um sentimento de

  • A) expectativa.
  • B) ansiedade.
  • C) revolta.
  • D) medo.
FAZER COMENTÁRIO

A resposta correta é a letra D)

O texto "Papagaio Congelado" de Ricardo Azevedo apresenta uma narrativa onde o papagaio, após ser punido pelo dono ao ser trancado na geladeira por uma noite inteira, demonstra uma mudança radical de comportamento. Ao ser liberado, o animal aparece trêmulo, cabisbaixo, com cara arrependida e cheio de pó gelado, ajoelha-se, reza, pede perdão e promete nunca mais repetir suas ações inadequadas.

Essa transformação repentina não é motivada por uma reflexão genuína ou arrependimento espontâneo, mas sim por um sentimento de medo intenso. O papagaio testemunhou as consequências de seu comportamento ao ver o frango congelado dentro da geladeira, associando a punição a um possível destino fatal. Seu temor em relação ao homem é evidente em suas ações submissas e nas promessas feitas sob o impacto da experiência traumática.

As alternativas podem ser analisadas da seguinte forma:

  • A) Expectativa: Não se aplica, pois o papagaio não demonstra esperança ou antecipação positiva, mas sim receio.
  • B) Ansiedade: Embora possa estar presente, não é o sentimento predominante; o medo é mais específico e intenso.
  • C) Revolta: O papagaio não mostra indignação ou resistência, mas sim submissão completa.
  • D) Medo: Correta, pois a reação do papagaio é claramente baseada no temor de sofrer novamente a punição ou algo pior.

Questão 12

Prova Falsa

Stanislaw Ponte Preta

    Quem teve a ideia foi o padrinho da caçula — ele me conta. Trouxe o cachorro de presente e logo a família inteira se apaixonou pelo bicho. Ele até que não é contra isso de se ter um animalzinho em casa, desde que seja obediente e com um mínimo de educação.

    — Mas o cachorro era um chato — desabafou.

    Desses cachorrinhos de raça, cheio de nhém-nhém-nhém, que comem comidinha especial, precisam de muitos cuidados, enfim, um chato de galocha. E, como se isto não bastasse, implicava com o dono da casa.

    — Vivia de rabo abanando para todo mundo, mas, quando eu entrava em casa, vinha logo com aquele latido fininho e antipático de cachorro de francesa.

    Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos políticos da oposição, que espinafram o ministro, mas quando estão com o ministro ficam mais por baixo que tapete de porão. Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependência da casa, o desgraçado rosnava ameaçador, mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho, fingindo-se seu amigo.

    — Quando eu reclamava, dizendo que o cachorro era um cínico, minha mulher brigava comigo, dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu é que implicava com o “pobrezinho”.

    Num rápido balanço poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias suas, roeu a manga de um paletó de casimira inglesa, rasgara diversos livros, não podia ver um pé de sapato que arrastava para locais incríveis. A vida lá em sua casa estava se tornando insuportável. Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianças e uma espinafração da mulher.

    — Você é um desalmado — disse ela, uma vez.

    Venceu a guerra fria com o cachorro graças à má educação do adversário. O cãozinho começou a fazer pipi onde não devia. Várias vezes exemplado, prosseguiu no feio vício. Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez duas na boneca da filha maior. Quatro ou cinco vezes fez nos brinquedos da caçula. E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido novo de sua mulher.

    — Aí mandaram o cachorro embora? — perguntei.

    — Mandaram. Mas eu fiz questão de dá-lo de presente a um amigo que adora cachorros. Ele está levando um vidão em sua nova residência.

    — Ué… mas você não o detestava? Como é que arranjou essa sopa pra ele?

    — Problema da consciência — explicou: — O pipi não era dele.

    E suspirou cheio de remorso.

Disponível em: http://ww.releituras.com/spontepreta_ Prova.asp>. Acesso em: 22 maio 2017.

Pode se inferir do texto que o

  • A) cachorro era mal educado.
  • B) homem era implicado com o cachorro.
  • C) homem fez xixi no vestido novo de sua mulher para culpar o cachorro.
  • D) cachorro fingia ser amigo do homem quando a mulher estava por perto.
FAZER COMENTÁRIO

A resposta correta é a letra C)

Pode-se inferir do texto que o homem fez xixi no vestido novo de sua mulher para culpar o cachorro. Esta conclusão é sustentada pela revelação final do narrador, quando ele confessa: "O pipi não era dele", referindo-se ao cachorro, seguido por um suspiro cheio de remorso. Essa admissão indireta, somada ao fato de que o homem detestava o animal e buscava uma forma de se livrar dele, evidencia que ele próprio cometeu o ato para incriminar o cachorro e finalmente conseguir sua expulsão de casa.

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