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Questões Sobre o Descritor D8 - Português - 9º ano

Descritor 08: Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.

Questão 11

Em defesa da leitura sem vergonha

Danilo Venticinque

    O sucesso de A culpa é das estrelas nos cinemas e nas livrarias é uma notícia excelente para o mercado literário.

    Deveria ser comemorada por qualquer pessoa que acredite num futuro em que o hábito de ler seja mais difundido.

    Mas os pessimistas de sempre não perderam a chance de se manifestar. Para alguns críticos literários e leitores elitistas, qualquer notícia é má notícia. A popularidade dos livros juvenis, em vez de ser um alento, é um desastre irremediável.

    Um artigo publicado há algumas semanas pela revista digital americana Slate sintetiza a opinião da turma do contra. o título já diz tudo: “Adultos que leem livros para crianças deveriam se envergonhar”. Ao longo do texto, a jornalista Ruth Graham lista motivos pelos quais adultos não deveriam perder seu tempo com “A culpa é das estrelas” e outras obras do gênero. Diz que os livros são inocentes demais, incentivam uma leitura acrítica e oferecem uma gratificação instantânea. Para jovens leitores em formação, seriam um mal necessário. Mas os milhões de adultos que se emocionaram com a história narrada por John Green deveriam ter vergonha disso – e procurar um livro para adultos imediatamente.

    Ruth não está sozinha. Em qualquer conversa sobre literatura é possível encontrar leitores que manifestam, com ar de superioridade, opiniões semelhantes a essa.

    Histórias policiais, fantásticas ou romances adolescentes são vistos como subliteratura. Seus fãs, consequentemente, são subleitores. Bom mesmo é ler autores clássicos ou, na falta deles, uma meia dúzia de contemporâneos que tentam imitá-los.

    […]

    Basta olhar para as listas de mais vendidos para comprovar que as livrarias e editoras estariam em apuros sem o público conquistado por esses best-sellers supostamente inferiores. Ao dizer que romances juvenis só deveriam ser lidos por adolescentes, os críticos se esquecem do óbvio: nem todos começam a ler na adolescência. Para muitos adultos, as histórias acessíveis e cativantes contadas em romances juvenis são uma excelente introdução à literatura. Ninguém começa lendo James Joyce. Entre ler a obra completa de John Green e parar nas primeiras páginas de Ulysses, a primeira opção me parece mais saudável e promissora para quem está descobrindo a leitura.

    Mesmo que os fãs de autores juvenis não abram um só livro “adulto” em todas suas vidas, ainda assim sua experiência terá sido positiva. Ler um romance juvenil pode até ser menos enriquecedor do que ler um clássico da literatura, mas é muito melhor do que não ler livro algum.

    Parece bobagem, mas muitos críticos não entendem que essa escolha entre ler livros clássicos e ler livros populares não existe. Para a maioria das pessoas, a escolha é entre ler livros populares e fazer outra coisa: jogar videogame, assistir a um filme, passar a tarde no Facebook. A decisão de ler um livro, não importa o gênero, é uma vitória para a literatura.

[…]

Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs /danilo-venticinque/noticia/2014/07 /em-defesa-da-bleitura-sem-vergonhab.html. Acesso em: 11 jun. 2018 (adaptado).

Qual argumento sustenta a tese de que o importante é ler um livro independente do gênero?

  • A) “Mas os milhões de adultos que se emocionaram com a história narrada por John Green deveriam ter vergonha disso [...].”
  • B) “Bom mesmo é ler autores clássicos ou, na falta deles, uma meia dúzia de contemporâneos que tentam imitá-los.”
  • C) “[...] os livros são inocentes demais, incentivam uma leitura acrítica e oferecem uma gratificação instantânea.”
  • D) “Ler um romance juvenil pode até ser menos enriquecedor do que ler um clássico da literatura, mas é muito melhor do que não ler livro algum.”
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A resposta correta é a letra D)

A resposta correta é a letra D porque este argumento expressa diretamente a ideia central defendida pelo autor: que qualquer forma de leitura, mesmo que considerada menos sofisticada, é preferível à ausência total de leitura. O texto sustenta que o ato de ler em si é mais importante do que o gênero ou a complexidade da obra, posicionando-se contra a elitização literária.

O trecho "Ler um romance juvenil pode até ser menos enriquecedor do que ler um clássico da literatura, mas é muito melhor do que não ler livro algum" encapsula perfeitamente a tese principal do artigo, que defende a valorização de todas as formas de leitura sem distinção preconceituosa.

Questão 12

A economia da favelização

Gustavo Cerbasi

    Cidades em crescimento invariavelmente convivem com o problema do surgimento das favelas. Quando essas cidades se mostram como oportunidade de uma vida melhor, muitas famílias migram para elas, mas o crescimento das oportunidades não é infinito e parte do fluxo migratório se vê obrigado a viver abaixo das condições mínimas de dignidade.

    Ninguém decide viver em favela por opção. Esse movimento é resultado da falta de opções. Entretanto, a favelização é consequência direta da falta de planejamento público. Cidades em desenvolvimento deveriam aproveitar o crescimento na arrecadação e se antecipar ao fluxo migratório, ou então regular esse fluxo com ações de restrição.

    Uma vez iniciado o processo de favelização, a reversão desse quadro passa a ser difícil. Famílias em situação de desemprego ou de subemprego informal têm nas favelas uma condição muito favorável a sua sobrevivência. A economia popular típica das comunidades, em que moradores em situação de baixa renda criam uma rede de comércio e serviços informais para sua subsistência, passa a ser o único consumo viável.

    Essa economia se caracteriza por oferecer poucas expectativas a quem trabalha e pela informalidade (não pagamento de impostos), que resulta em produtos e serviços de preço muito mais baixo que nos negócios que seguem a economia de mercado. Nessa troca, em que pequenos comerciantes conseguem seu sustento enquanto cooperam com os vizinhos, cresce o conceito de comunidade. A favela adquire força e se consolida diante da ausência do Estado – ausência que se intensifica pela falta de interesse decorrente da falta de arrecadação de impostos.

    Cria-se um ciclo de fortalecimento da favelização. Em um país de riquezas e oportunidades mal distribuídas, o Estado arrecada menos, as favelas se formam rapidamente e se fortalecem à margem do Estado. O sentimento de cooperação comunitária passa a ser solo fértil para atividades não regulamentadas ou até ilícitas, justificadas pelo bem econômico supostamente feito a quem não é atendido pelo Estado.

    Programas sociais bancados pelos recursos públicos são então criados na tentativa de romper a omissão ou o atraso nas ações governamentais. Mas há sempre o risco de grande parte dos recursos dos programas sociais fortalecer principalmente a economia informal, sem trazer luz alguma no fim do túnel. Quando a comunidade é explorada com fins eleitoreiros por governos populistas, está sacramentada a economia da favelização. Vários interesses confluem para que o ciclo da pobreza nunca se rompa.

    Mudanças são possíveis, mas é preciso distribuir melhor as oportunidades que proporcionam ganhos reais. Isso dá trabalho e dilui votos de populistas. Leva décadas. Quem assumirá as rédeas?

Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/- gustavo-cerbasi/noticia/2016/09/economia-da-favelizacão html>. Acesso em: 22 maio 2017.

Qual é o argumento que melhor sustenta a tese do texto?

  • A) “Nessa troca, em que pequenos comerciantes conseguem seu sustento enquanto cooperam com os vizinhos, cresce o conceito de comunidade”.
  • B) “A favela adquire força e se consolida diante da ausência do Estado – ausência que se intensifica pela falta de interesse decorrente da falta de arrecadação de impostos”.
  • C) “O sentimento de cooperação comunitária passa a ser solo fértil para atividades não regulamentadas ou até ilícitas, justificadas pelo bem econômico supostamente feito a quem não é atendido pelo Estado”.
  • D) “A economia popular típica das comunidades, em que moradores em situação de baixa renda criam uma rede de comércio e serviços informais para sua subsistência, passa a ser o único consumo viável”.
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A resposta correta é a letra B)

O texto "A economia da favelização" de Gustavo Cerbasi desenvolve como tese central que o processo de favelização é consequência direta da falta de planejamento público e da ausência do Estado, criando um ciclo vicioso de fortalecimento das comunidades marginalizadas. Entre as alternativas apresentadas, a letra B é a que melhor sustenta essa tese porque captura a relação causal essencial exposta no texto: a consolidação das favelas ocorre precisamente devido à omissão estatal, que por sua vez é intensificada pela falta de arrecadação de impostos decorrente da informalidade econômica.

Esta alternativa articula o núcleo do argumento do autor, mostrando como a fragilidade institucional e o desinteresse governamental permitem que as favelas se fortaleçam à margem do sistema formal, perpetuando assim a economia da favelização. As demais opções, embora relacionadas ao tema, focam em aspectos secundários: a letra A destaca a cooperação comunitária, a letra C aborda a potencial ilegalidade decorrente dessa cooperação, e a letra D descreve a dinâmica econômica interna das favelas, mas nenhuma delas explicita o papel central da ausência do Estado como propulsora do problema, conforme defendido na tese principal.

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