Prova de História da Fuvest 2018 Resolvida
11) (FUVEST – 2018) Leia os textos e, em seguida, atenda ao que se pede.
Queridos amigos, conhecidos e estranhos, meus conterrâneos queridos e toda a humanidade: Em poucos minutos possivelmente uma nave espacial irá me levar para o espaço sideral. O que posso dizerlhes sobre estes últimos minutos? Toda a minha vida parece se condensar neste momento único e belo. Tudo que eu fiz e vivi foi para isso!
Yuri Gagarin. Cosmonauta russo da primeira missão tripulada da História, a bordo da Vostok 1, lançada no dia 12 de abril de 196
Ground Control to Major Tom
Your circuit’s dead, there’s something wrong
Can you hear me, Major Tom?
Can you hear me, Major Tom?
Can you hear me, Major Tom?
Can you…
Here I am floating ‘round my tin can
Far above the Moon
Planet Earth is blue
And there is nothing I can do “
Space Oddity”, David Bowie. LP Space Oddity, 1969
a) Indique a que conquista cada um dos autores se refere e seu significado simbólico no contexto internacional da época.
b) Explique de que maneira cada um dos textos representa a tensão política e os conflitos internacionais dos anos 1960.
a) Indique a que conquista cada um dos autores se refere e seu significado simbólico no contexto internacional da época.
A primeira declaração de Yuri Gagarin refere-se à primeira missão tripulada ao espaço realizada pelos soviéticos em 1961. Já a música de David Bowie está relacionada à viagem realizada pelos norte-americanos à lua em 1969. Tanto a declaração de Gagarin, tanto a música de Bownie estão no contexto da Guerra Fria, no qual EUA e URSS disputaram a corrida espacial. Liderar essa disputa tinha um forte efeito de propaganda, no qual representava a superioridade tecnológica e científica, bem como o sucesso dos respectivos sistemas político-ideológicos, o capitalismo norte-americano e o socialismo soviético.
b) Explique de que maneira cada um dos textos representa a tensão política e os conflitos internacionais dos anos 1960.
Ambos os textos refletem a tensão política e os conflitos internacionais dos anos 1960 nas disputas entre às duas superpotências (URSS e EUA) em decorrência da Guerra Fria. A declaração de Yuri Gagarin mostra uma exaltação à conquista soviética, no qual ele descreve como uma conquista pessoal, e, por meio do trecho final, “Tudo que eu fiz e vivi foi para isso”, é possível ver o esforço da URSS na corrida espacial. Por fim, na música de David Bowie, há referências da viagem à Lua como metáforas dos sentimentos de uma época, quando diz ‘’Aqui estou flutuando ao redor da minha latinha, Bem acima da Lua, O Planeta Terra é azul, E não há nada que eu possa fazer.’’
12) (FUVEST – 2018)
Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.
Vladimir Maiakóvski. Come ananás, 1917.
Cidadão fiscal de rendas! Desculpe a liberdade.
Obrigado… Não se incomode… Estou à vontade.
A matéria que me traz é algo extraordinária:
O lugar do poeta da sociedade proletária.
Ao lado dos donos de terras e de vendas estou também citado por débitos fiscais.
Você me exige 500 rublos por 6 meses e mais
(…)
Cidadão fiscal de rendas, eu encerro.
Pago os 5 e risco todos os zeros.
Tudo o que quero é um palmo de terra
ao lado dos mais pobres camponeses e obreiros.
Porém se vocês pensam que se trata apenas
de copiar palavras a esmo,
eis aqui, camaradas, minha pena,
podem escrever vocês mesmo!
Vladimir Maiakóvski. Conversa sobre poesia com o fiscal de rendas, 1926.
a) Indique duas características da produção cultural na Rússia, nos anos posteriores à Revolução de 1917.
b) Identifique e comente uma crítica e uma proposta de mudança presentes nos dois poemas.
a) Após a Revolução de 1917 e o início da experiência socialista na Rússia no que tange a produção cultural esta ficou voltada para propaganda e exaltação do novo regime. Neste cenário, a produção cultural foi caracterizada por ser voltada ao grande público apresentado um viés pedagógico, uma grande valorização do cotidiano e do próprio camponês. Há um forte perseguição ao que era considerado “burguês” e capitalista. A produção cinematográfica é forte. Vigora o chamado “Realismo Socialista” nas artes especialmente especialmente a partir de 1930 já no governo de Stalin com extrema exaltação do regime e do líder.
b) No primeira poema destaca-se a crítica a desigualdade social e ao dizer “Teu dia está prestes, burguês.” propõem a mudança da divisão desigual por uma sociedade mais justa.
O segundo poema já é datado de 1926 e uma obra também de Vladimir Maiakóvski que é considerado o poeta da revolução Russa. Entretanto, na era Stalin período da produção do poema Maiakóvski chocou-se com o governo principalmente devido às censuras e extrema burocratização do Estado. Observa-se um critica a posição do poeta na sociedade: “O lugar do poeta da sociedade proletária. /Ao lado dos donos de terras e de vendas estou também citado por débitos fiscais.” Como proposta de solução ele também propõem uma sociedade mais igualitária na qual o poeta será tratado assim como o camponês.
13) Em 14 de maio de 1930, um jornalista argentino compôs a seguinte crônica, referindo-se à abolição da escravidão no Brasil:
Hoje almoçando na companhia do senhor catalão cujo nome não vou dizer por razões que os leitores podem adivinhar, ele me disse:
-13 de maio é festa nacional…
Ah! É mesmo? Continuei botando azeite na salada.
-Festa da abolição da escravatura.
-Ah, que bom.
E como o assunto não me interessava especialmente, dedicava agora minha atenção a dosar a quantidade de vinagre que colocava na verdura.
-Semana que vem fará 42 anos que foi abolida a escravidão.
Dei tamanho pulo na cadeira, que metade da vinagreira foi parar na salada…
-Como disse? – repliquei espantado.
-Sim, 42 anos, sob a regência de dona Isabel de Bragança, aconselhada por Benjamin Constant. Dona Isabel era filha de Dom Pedro II.
-Quarenta e dois anos? Não é possível…
-13 de maio de 1888, menos 1930: 42 anos…
-Quer dizer que…
-Que qualquer negro de 50 anos que você encontrar hoje pelas ruas foi escravo até os 8 anos de idade; o negro de 60 anos, escravo até os 18 anos.
-Não será possível! O senhor deve estar enganado. Não será o ano de 1788… Olhe: acho que o senhor está enganado. Não é possível.
-Bom, se não acredita em mim, pode averiguar por aí.
Roberto Arlt. Águasfortes cariocas. Rio de Janeiro: Rocco, 2013. Tradução: Gustavo Pacheco.
a) Identifique e explique o estranhamento do cronista argentino.
b) Aponte e explique duas características do processo de abolição da escravidão no Brasil.
a) O estranhamento do cronista argentino ocorre devido a abolição tão recente da escravidão no Brasil visto que este foi o último país da América a abolir a escravidão. Ademais, a Argentina foi um país em que a escravidão perdurou por pouco tempo e em pequena quantidade quando comparada aos demais.
b) O processo de abolição da escravidão no Brasil ocorreu de forma lenta e gradual, passando pelas leis: Lei Eusébio de Queirós (1850), Lei do Ventre Livre (1871) e Lei dos
Sexagenários (1885) até a assinatura da Lei Áurea (1888).
A escravidão contou com uma forte oposição que adotou uma postura mais legalista e com diversas revoltas de escravos, entretanto, mesmo assim o Brasil foi o último país da América do Sul a abolir a escravidão.
14) Migrar, portanto, tem sempre um sentido ambíguo – como uma imposição das condições econômicas e sociais ou ambientais – e, nesse caso, ela aparece no mais das vezes como um dos mais fortes elementos que explicariam uma destinação do ser nordestino, mas também como uma escolha contra a miséria e a pobreza da vida no sertão. Migrar é, em última instância, dizer não à situação em que se vive, é pegar o destino com as próprias mãos, resgatar sonhos e esperanças de vida melhor ou mesmo diferente. O problema está no fato de que, numa vasta produção discursiva, retirou-se do migrante a sua condição de sujeito, como se migrar não fosse uma escolha, como se ele não tivesse vontade própria. Migrar pode ser entendido como estratégia não só para minimizar as penúrias do cotidiano, mas também para buscar um lugar social onde se possa driblar a exclusão pretendida pelas elites brasileiras através de seus projetos modernizantes.
Isabel C. M. Guillen. Seca e migração no Nordeste: Reflexões sobre o processo de banalização de sua dimensão histórica. Trabalhos para Discussão nº 111. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2001. Adaptado.
a) Cite uma obra literária e um filme que tenham tratado do fenômeno mencionado no texto.
b) Identifique as motivações dos fluxos migratórios de nordestinos para a região Norte, na segunda metade do século XIX, e para a região Sudeste, na segunda metade do século XX.
a) Obras literárias: Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, Os Sertões, de Euclides da Cunha Filmes: Central do Brasil, de Walter Salles, Guerra de Canudos
b) Na segunda metade do século XIX, entre 1870 e 1910, há o boom da borracha que fez da região norte um importante centro receptor de pessoas devido a grande demanda de mão de obra para o trabalho na extração do látex extraído na floresta Amazônica. Nesteperíodo há também uma grande seca no Nordeste (1870).Já a migração para o sudeste no século XX é justificada pelo processo de industrialização e urbanização no qual São Paulo e Rio de Janeiro tornaram-se grandes polos de atração.
15) A Índia exporta para a China vastas quantidades de ópio, para cujo cultivo possui facilidades peculiares. O ópio pode ser produzido em Bengala melhor e mais barato do que em qualquer outra parte do mundo; e a China oferece um mercado quase que ilimitado em suas dimensões. O gosto por essa droga espalhou-se pelo império, a despeito das severas regulações para sua exclusão, e se diz que ele entrou no próprio palácio. Não obstante o consumo desse estimulante pernicioso eventualmente ser reprimido de um ponto de vista moral, é certo que ele promove diversos objetos que são igualmente desejáveis tanto pela Índia como pela Inglaterra. A Índia, ao exportar ópio, auxilia o fornecimento de chá à Inglaterra. A China, ao consumir ópio, facilita as operações de receita entre a Índia e a Inglaterra. A Inglaterra, ao consumir chá, contribui para aumentar a demanda por ópio indiano.
Edward Thornton, India, its state and prospects. Londres: Parbury, Allen & Co., 1835. Adaptado.
a) Indique como o texto caracteriza a cadeia mercantil do ópio e qual sua importância para a economia inglesa do século XIX e para as relações coloniais entre Grã-Bretanha e Índia.
b) Identifique e explique um conflito posterior a 1835 que se relacione diretamente aos processos descritos no texto.
a) O ópio era produzido na Índia, parte do Império Britânico no período, este era vendido para China, grande consumidora do produto, gerando grandes lucros para Inglaterra que por sua vez compravam o chá Chinês o que garantia receita para que o chineses continuassem comprando o ópio. Esta era a cadeia mercantil caracterizada pelo texto como lucrativa, contudo, reprimida moralmente. A sua importância para Inglaterra era a garantia da balança comercial favorável com a China e a garantia da dominação sobre a Índia
b) Há em 1840 o início da Primeira Guerra do Ópio desencadeada pela Inglaterra quando a China proibiu a venda do produto em seu território