Questões Sobre Toxicologia Básica e Clínica - Farmácia - concurso

Em relação aos praguicidas, assinale a afirmativa incorreta.

• A) A via cutânea ou dérmica é a mais comum para absorção de praguicidas líquidos.
• B) Alguns praguicidas são absorvidos pela via pulmonar.
• C) Os organoclorados podem causar efeito cancerígeno, mutagênico e neurotóxico.
• D) Praguicida teratogênico é aquele capaz de provocar câncer.
• E) A dose letal média (DL50) é aquela que provoca morte em 50% dos animais testados.

O gabarito correto é D), pois a definição apresentada está incorreta. Um praguicida teratogênico é aquele capaz de causar malformações congênitas no feto durante a gestação, e não câncer. As demais alternativas estão corretas em suas afirmações sobre absorção, toxicidade e efeitos dos praguicidas.

O sangue desempenha um papel fundamental no transporte de substâncias tóxicas pelo organismo. Para que um veneno alcance a corrente sanguínea, é necessário que ocorra sua absorção. Diversos fatores podem influenciar esse processo, acelerando ou facilitando a entrada da substância no sistema circulatório.

Entre as alternativas apresentadas, quatro delas descrevem condições que favorecem a absorção de venenos:

• A) O aumento da superfície de contato permite maior área para interação entre o veneno e o organismo.
• B) O aumento da vascularização proporciona mais vias de acesso ao sistema circulatório.
• C) A ingestão com estômago vazio acelera a passagem do veneno para o intestino, onde a absorção é mais eficiente.
• D) O massageamento do local após injeção intramuscular estimula a circulação local, facilitando a absorção.

A alternativa E), que menciona o aumento da hidrossolubilidade, é a exceção. Substâncias hidrossolúveis têm maior dificuldade em atravessar membranas celulares lipídicas, o que reduz sua absorção. Portanto, este é o fator que não contribui para a absorção de venenos, sendo a resposta correta.

Com relação às reações orgânicas a substâncias diversas, analise as afirmativas a seguir.

I. A arritmia cardíaca pode ser causa de morte induzida pelos excitantes do sistema nervoso central, como a niquetamida e a anfetamina.

II. A perda da consciência e a amnésia são sintomas frequentemente observados após crise convulsiva provocada pelos excitantes do sistema nervoso central.

III. O aumento da atividade simpática (palpitação e hipertensão arterial) e os delírios são sinais e sintomas que acompanham a intoxicação pela cetamina.

IV. As altas doses de cetamina causam a perda da consciência, a analgesia e a depressão respiratória.

Assinale:

• A) se somente a afirmativa I estiver correta.
• B) se somente as afirmativas II e IV estiverem corretas.
• C) se somente as afirmativas III e IV estiverem corretas.
• D) se somente as afirmativas I, II e III estiverem corretas.
• E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

O gabarito correto é E).

Em relação à Toxicologia, a alternativa que contém aspectos conceituais incorretos é a letra B).

A seguir, uma análise das alternativas:

• A) Correta. A toxicidade, de fato, refere-se à capacidade de uma substância química causar efeitos adversos em um organismo vivo.
• B) Incorreta. A Toxicologia experimental não se limita a estudar apenas os sinais de toxicidade em animais, mas também investiga os mecanismos de ação, doses tóxicas e efeitos em diferentes espécies, incluindo estudos in vitro e modelos computacionais.
• C) Correta. A Toxicologia clínica está voltada para o diagnóstico e tratamento de intoxicações, analisando os sinais e sintomas causados por toxicantes em humanos.
• D) Correta. A Toxicologia analítica tem como principal função identificar e quantificar substâncias tóxicas em amostras biológicas, auxiliando no diagnóstico e na pesquisa.
• E) Correta. A intoxicação representa o conjunto de reações indesejáveis desencadeadas pela exposição a substâncias químicas nocivas.

Portanto, a alternativa B está incorreta por apresentar uma definição reduzida e imprecisa da Toxicologia experimental, que abrange uma gama mais ampla de estudos além dos sinais de toxicidade em animais.

O lança-perfume é uma substância psicoativa ilegal no Brasil, cujo principal componente, o cloreto de etila, tem despertado preocupação devido ao aumento de apreensões pela polícia civil em diversos estados. Originário da Argentina, onde sua produção é legalizada, esse composto volátil integra uma categoria de drogas inalantes que afetam o sistema nervoso central. Diante das alternativas apresentadas, a correta é a letra A, que afirma que a maioria dos hidrocarbonetos voláteis age como depressor do sistema nervoso central.

A alternativa A está correta porque os hidrocarbonetos voláteis, incluindo o cloreto de etila, o tolueno e outros solventes, possuem efeito depressivo sobre o sistema nervoso central, podendo causar sedação, desinibição e, em casos extremos, perda de consciência. Esse mecanismo está relacionado à sua interação com receptores de neurotransmissores inibitórios, como o GABA, amplificando seus efeitos.

As demais alternativas apresentam informações incorretas ou imprecisas. A alternativa B está errada porque o benzeno, de fato, está associado ao desenvolvimento de leucemia mieloide aguda (LMA), entre outras neoplasias. A alternativa C descreve efeitos contraditórios, já que o tolueno, em vez de causar euforia e estado de alerta, provoca depressão do sistema nervoso central. A alternativa D é incorreta porque o cloreto de etila não apresenta banda de absorção intensa ao redor de 2.000 cm^-1 no espectro de infravermelho. Por fim, a alternativa E está equivocada, pois o clorofórmio é metabolizado principalmente por enzimas da família das citocromo P450, e não por desidrogenases.

Portanto, a resposta correta é a alternativa A, que sintetiza com precisão o efeito depressivo dos hidrocarbonetos voláteis sobre o sistema nervoso central, um padrão observado na maioria dessas substâncias.

A anilina, também conhecida como fenilamina, é um composto orgânico amplamente utilizado em diversas indústrias, como a de corantes, explosivos e vernizes. Sua exposição ocupacional pode levar a sérios problemas de saúde, especialmente a meta-hemoglobinemia (MetHb), condição em que a hemoglobina sofre alterações que prejudicam sua capacidade de transportar oxigênio. Quando os níveis de MetHb ultrapassam 60%, podem ocorrer sintomas graves, como perda de consciência, convulsões, coma e até mesmo a morte.

Dentre as alternativas apresentadas, a correta é a C), que afirma que a formação de MetHb após a exposição à anilina está relacionada à reatividade de seus metabólitos, especialmente a fenil hidroxilamina. Este composto é formado por uma reação de N-hidroxilação catalisada pelo citocromo P450, um sistema enzimático crucial no metabolismo de substâncias tóxicas.

As demais alternativas apresentam informações incorretas sobre o mecanismo da meta-hemoglobinemia. A alternativa A) menciona erroneamente uma "metilação" do anel protoporfirínico, enquanto a B) inverte os estados de oxidação do ferro (Fe2+ é o estado normal, e Fe3+ é o estado oxidado na MetHb). A alternativa D) descreve uma ligação incorreta da anilina ao anel protoporfirínico, e a E) comete um equívoco ao associar a MetHb com a hemólise dos eritrócitos.

Portanto, a resposta correta é C), pois explica de forma precisa o mecanismo bioquímico pelo qual a anilina induz a formação de MetHb, destacando o papel dos metabólitos reativos e do citocromo P450 nesse processo.

O chumbo é um metal amplamente utilizado em diversas indústrias, desde a produção de ligas metálicas até a fabricação de tintas e plásticos. Sua toxicidade é conhecida há milênios, tornando-o um dos mais antigos agentes tóxicos de relevância ocupacional. No organismo humano, o chumbo pode causar sérios danos, especialmente quando há exposição crônica. A análise da plumbemia, ou seja, da concentração de chumbo no sangue, é essencial para avaliar o grau de exposição e os possíveis riscos à saúde.

Entre as alternativas apresentadas, a correta é a D), que descreve com precisão a técnica de espectrofotometria de absorção atômica para determinação do chumbo no sangue. Esse método envolve a atomização da amostra em chama de ar-acetileno, permitindo a medição da absorção de luz em um comprimento de onda específico (217 nm), conforme a lei de Lambert-Beer. Esse procedimento é amplamente utilizado devido à sua sensibilidade e confiabilidade na detecção de metais pesados, como o chumbo.

As demais alternativas apresentam informações incorretas ou imprecisas. Por exemplo, a alternativa A) menciona um polimorfismo enzimático que não está corretamente associado à toxicocinética do chumbo. Já a alternativa B) descreve um protocolo de coleta excessivamente rigoroso, que não é necessário para a análise de plumbemia. A alternativa C) apresenta um valor incorreto para a concentração de chumbo associada ao aumento de ácido delta-aminolevulínico na urina. Por fim, a alternativa E) confunde o tipo de anemia causada pelo chumbo, que é microcítica e hipocrômica, e não megaloblástica.

Portanto, a técnica de espectrofotometria de absorção atômica, conforme descrito na alternativa D), é o método mais adequado e preciso para a avaliação da exposição ao chumbo, garantindo resultados confiáveis para o diagnóstico e monitoramento de intoxicações por esse metal.

Os agentes anticolinesterásicos são substâncias que desempenham um papel significativo tanto na medicina quanto na agricultura, mas também representam um risco considerável à saúde humana devido ao seu potencial tóxico. Esses compostos, que incluem organofosforados e carbamatos, atuam inibindo a enzima acetilcolinesterase, responsável pela degradação do neurotransmissor acetilcolina. Essa inibição leva ao acúmulo de acetilcolina nas sinapses, resultando em uma hiperestimulação do sistema nervoso colinérgico.

Historicamente, os anticolinesterásicos foram desenvolvidos inicialmente como armas químicas durante a Segunda Guerra Mundial, como os gases Tabun e Sarin. No entanto, após o conflito, essas substâncias foram adaptadas para uso em diversas áreas, incluindo a medicina, onde são empregados no tratamento de condições como miastenia gravis (fisostigmina e neostigmina), e na agricultura, como pesticidas e inseticidas.

O mecanismo de ação desses compostos envolve a ligação irreversível ou reversível ao sítio ativo da acetilcolinesterase, formando um complexo fosforilado estável no caso dos organofosforados. Essa ligação inativa a enzima, impedindo-a de desempenhar sua função normal. A recuperação da atividade enzimática é um processo lento, especialmente no caso dos organofosforados, o que contribui para a toxicidade prolongada dessas substâncias.

As intoxicações por anticolinesterásicos podem ocorrer de forma acidental, principalmente em ambientes de trabalho agrícola ou doméstico, ou intencional, em casos de tentativas de suicídio. O quadro clínico é caracterizado por sintomas como salivação excessiva, lacrimejamento, convulsões e, em casos graves, parada respiratória. O diagnóstico laboratorial é realizado através da medição da atividade da colinesterase no plasma ou nos eritrócitos, sendo esta última conhecida como acetilcolinesterase verdadeira, enquanto a pseudocolinesterase está presente no plasma.

Entre as alternativas apresentadas, a correta é a letra B, que descreve acuradamente o mecanismo de inibição enzimática pelos organofosforados e a formação de um complexo estável e inativo. As demais alternativas contêm informações incorretas, como a afirmação de que o "chumbinho" é um organoclorado (na verdade, refere-se a praguicidas anticolinesterásicos) ou que a pseudocolinesterase está presente nos eritrócitos (na verdade, está no plasma).

Portanto, o estudo dos agentes anticolinesterásicos é essencial tanto para o uso terapêutico adequado quanto para a prevenção e tratamento das intoxicações, que continuam a ser um problema de saúde pública relevante, especialmente em regiões com uso intensivo de pesticidas agrícolas.

A cocaína, um alcaloide derivado da planta Erythroxylum coca, é uma substância psicoativa com elevado potencial de dependência. Suas diferentes formas químicas — sal (cloridrato) e base livre (crack) — influenciam diretamente sua toxicocinética, padrões de uso e métodos de identificação forense. A questão apresentada explora essas características, destacando a importância do pH na determinação da forma química da cocaína.

O gabarito correto, alternativa E), explica que a forma da cocaína (sal ou base livre) é determinada pelo equilíbrio químico influenciado pelo pH do meio. Em condições ácidas, predomina a forma salina, hidrossolúvel, enquanto em meio básico, a cocaína se converte em base livre, lipossolúvel. Esse princípio é fundamental tanto para os processos de extração e refino quanto para análises forenses.

As demais alternativas apresentam equívocos:

• A) Incorreta: O crack é a cocaína na forma de base livre, não sal, e sua produção envolve a alcalinização do cloridrato.
• B) Incorreta: O tiocianato de cobalto reage com a cocaína base livre, não com o sal, produzindo coloração azul, não vermelho-tijolo.
• C) Incorreta: O cocaetileno é um metabólito formado apenas com o uso simultâneo de cocaína e álcool, não sendo específico para diferenciar formas de consumo.
• D) Incorreta: A via oral tem início de ação mais lento que a nasal, devido à necessidade de metabolização hepática ("efeito de primeira passagem").

Portanto, a alternativa E) é a única que corretamente descreve a relação entre pH, equilíbrio químico e as formas da cocaína, refletindo princípios fundamentais da química farmacêutica e forense.

O caso do juiz encontrado morto em sua residência, sem sinais de violência, mas com a presença de digoxina em excesso no tecido cardíaco, levanta questões importantes sobre o uso e os efeitos dessa substância. A digoxina é um fármaco com propriedades específicas, e a alternativa correta, conforme o gabarito, é a letra D).

A digoxina pertence à classe dos glicosídeos cardiotônicos e é amplamente utilizada no tratamento de insuficiência cardíaca e arritmias, como a fibrilação atrial. Sua principal ação é inotrópica positiva, ou seja, aumenta a força de contração do músculo cardíaco. Além disso, ela inibe a enzima adenosina trifosfatase (Na+/K+-ATPase), responsável pelo equilíbrio eletrolítico nas células cardíacas, o que contribui para seu efeito terapêutico.

Outro aspecto relevante é seu baixo índice terapêutico, o que significa que a diferença entre a dose eficaz e a dose tóxica é pequena. Isso explica por que o uso inadequado ou a superdosagem, como no caso em questão, pode levar a intoxicações graves e até mesmo à morte. A presença de antidepressivos e outros medicamentos no local também pode sugerir interações medicamentosas que potencializam os efeitos da digoxina, como o Hypericum perforatum (erva de São João), mencionado na alternativa C). No entanto, a alternativa D) é a que melhor descreve as características farmacológicas da substância.

Portanto, a análise correta do caso e das propriedades da digoxina reforça que a alternativa D) é a mais adequada, destacando seu mecanismo de ação, seu perfil de segurança limitado e sua relevância no contexto da morte do juiz.