Globalitarismos e totalitarismos
Como as técnicas hegemônicas atuais são, todas elas, filhas da ciência, e como sua utilização se dá a serviço do mercado, esse amálgama produz um ideário da técnica e do mercado que é santificado pela ciência, considerada, ela própria, infalível. Essa, aliás, é uma das fontes do poder do pensamento único. Tudo o que é feito pela mão dos vetores fundamentais da globalização parte de ideias científicas, indispensáveis à produção, aliás acelerada, de novas realidades, de tal modo que as ações assim criadas se impõem como soluções únicas. Nas condições atuais, a ideologia é reforçada de uma forma que seria impossível ainda há um quarto de século, já que, primeiro as ideias e, sobretudo, as ideologias se transformam em situações, enquanto as situações se tornam entre si mesmas “ideias”, “ideias do que fazer”, “ideologia”, e impregnam, de volta, a ciência cada vez mais redutora e reduzida, mais distante da busca da “verdade”. Desse conjunto de variáveis decorrem, também, outras condições da vida contemporânea, fundadas na matematização da existência, carregando consigo uma crescente sedução pelos números, um uso mágico das estatísticas.
Fonte: SANTOS, M. Por uma outra globalização. 13 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2006.
A partir das ideias do texto, compreende-se que o processo de globalização é
- A) assegurado pelas tecnologias de transporte e comunicação e permite o acúmulo de capital em nível global e a difusão de um modus vivendi capitalista, em seu sentido amplo.
- B) pautado nos mecanismos de mercado e nas inovações da ciência e promove uma integração global das relações econômicas e o aprofundamento das crises sociais e éticas.
- C) possibilitado pelas tecnologias, que permitem avanços em diferentes áreas e garante as várias possibilidades de conexões e a formação do chamado “cidadão do mundo”.
- D) alicerçado nas tecnologias originadas em todas as partes do globo e se caracteriza pela difusão de capital, mercadorias, ideias e pela objetificação do homem comum.
- E) resultado da integração mundial, ultrapassando o simples fluxo global de mercadorias e informações e atinge níveis de relações que apontam para uma democracia global.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) pautado nos mecanismos de mercado e nas inovações da ciência e promove uma integração global das relações econômicas e o aprofundamento das crises sociais e éticas.
GABARITO LETRA B
Fonte: SANTOS, M. Por uma outra globalização. 13 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2006.
A partir das ideias do texto, compreende-se que o processo de globalização é
a) assegurado pelas tecnologias de transporte e comunicação e permite o acúmulo de capital em nível global e a difusão de um modus vivendi capitalista, em seu sentido amplo.
ERRADA. A definição descrita pela alternativa não se relaciona com as ideias do texto que fala sobre as técnicas hegemônicas, ideias científicas e ideologias como vetores da globalização.
Na obra Por Uma Outra Globalização, Milton Santos descreve a globalização em seus vários aspectos e a classifica como “o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista”. O autor estabelece uma linha de pensamento em que alia o progresso das técnicas com o crescimento da economia de mercado e o avanço das empresas transnacionais que são o motor do capitalismo, ou seja, estamos na era da Universalização das trocas, universalização do capital e de seu mercado, a universalização da mercadoria, dos preços se do dinheiro como mercadoria-padrão.
b) pautado nos mecanismos de mercado e nas inovações da ciência e promove uma integração global das relações econômicas e o aprofundamento das crises sociais e éticas.
CORRETA. A globalização internacionalizou as economias de raízes nacionais, para um processo mais generalizado de integração económica em escala mundial, ou seja, interligou os mercados, as operações financeiras e os processos produtivos. A globalização também aprofundou crises sociais e éticas e provocou mudanças negativas para o sistema capitalista, como por exemplo, estagnação econômica, instabilidade dos mercados financeiros, intensa especulação, descontrole monetário, recessão.
No campo social, a globalização aumentou as taxas de desemprego devido a modernização da produção – novas tecnologias e novas formas de organização do trabalho (automação). No campo ético, a globalização passou a permitir o maior contato entre as diferenças. No entanto, tem sido observado o surgimento de conflitos e intolerâncias referentes ao contato de tradições diversas.
c) possibilitado pelas tecnologias, que permitem avanços em diferentes áreas e garante as várias possibilidades de conexões e a formação do chamado “cidadão do mundo”.
ERRADA. No processo de globalização, as questões econômicas, sociais, ecológicas e políticas deixaram de ser apenas nacionais e tornaram-se globais. É nesse contexto que nasce hoje o conceito de cidadão do mundo, que participa coletiva e democraticamente das tomadas de decisões em âmbito planetário. No entanto, essa não é a ideia de globalização adotada pelo texto e nem por Milton Santos.
Para Santos (2004) a globalização está inserida na fase atual do capitalismo formada por uma sociedade mergulhada dentro da ideologia consumista, fazendo com que o cidadão enfraqueça sua convivência social e institua uma sociedade composta de consumidores individualistas e egoístas que visam de qualquer forma prosperar e “vencer na vida”. Para ele, “em lugar do cidadão formou-se um consumidor, que aceita ser chamado de usuário”
d) alicerçado nas tecnologias originadas em todas as partes do globo e se caracteriza pela difusão de capital, mercadorias, ideias e pela objetificação do homem comum.
ERRADA. A globalização pode ser compreendida como o sistema de técnicas que são comandadas pelas da informação, sendo também resultado de ações que convergem para a emergência de um mercado dito global, onde as diferenças locais são aprofundadas.
Milton Santos apresenta três definições de globalização: como fábula, como perversidade e como possibilidade. A globalização como fábula remete à ideia de aldeia global (tentando fazer acreditar que as pessoas são hoje informadas), do encurtamento das distâncias (mas nem todos podem chegar a todos os lugares), da morte do Estado (quando na verdade ele se fortalece para atender as finanças e os interesses das grandes empresas). A globalização como perversidade enfoca a violência do dinheiro e da informação na busca da mais-valia universal; e por fim, a globalização como possibilidade, ou seja, uma outra globalização a serviço da cidadania.
e) resultado da integração mundial, ultrapassando o simples fluxo global de mercadorias e informações e atinge níveis de relações que apontam para uma democracia global.
ERRADA. Os efeitos da globalização têm sido, díspares, ora promovendo valores democráticos, estabilidade e crescente interdependência, ora sugerindo fragmentação, traduzida na recusa de alinhamento com o modelo de democracia e na preservação de práticas políticas, económicas ou sociais.
Para Milton Santos, a globalização é caracterizada pelo avanço da ciência que aprimora as técnicas, disseminadas pelo espaço e evoluídas através da informática (período técnico-cientifico-informacional). O autor acredita que uma nova globalização se faz necessária, de forma diferente da atual globalização perversa e excluidora. Uma globalização para os pobres, globalização da inclusão, com o objetivo da valorização do homem frente ao mundo do dinheiro.
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