Leia o texto a seguir.
“Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são dados de um mundo físico fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente percebido. Explicações mecanicistas são, todavia, insuficientes. É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa era globalizada. Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo veraz, o que é imposto aos espíritos é um mundo de fabulações, que se aproveita do alargamento de todos os contextos para consagrar um discurso único. Seus fundamentos são a informação e o seu império, que encontram alicerce na produção de imagens e do imaginário, e se põem ao serviço do império do dinheiro, fundado este na “economização” e na monetarização da vida social e da vida pessoal. De fato, se desejamos escapar à crença de que esse mundo assim apresentado é verdadeiro, e não queremos admitir a permanência de sua percepção enganosa, devemos considerar a existência de pelo menos três mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser: outra globalização”.
Sobre a globalização por fábula é correto afirmar que:
- A) um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemónicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal.
- B) fala-se, por exemplo, em aldeia global, pois a difusão instantânea de notícias informa as pessoas. Há um encurtamento das distâncias - houve um aumento das viagens internacionais - também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. O mundo está ao alcance das mãos.
- C) o desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades como a SIDA se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível.
- D) pode-se pensar na construção de um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir a globalização mais humana.
- E) considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, pode-se, em primeiro lugar, reconhecer certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças aos progressos da informação, a “mistura” de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu.
Resposta:
A alternativa correta é letra B) fala-se, por exemplo, em aldeia global, pois a difusão instantânea de notícias informa as pessoas. Há um encurtamento das distâncias - houve um aumento das viagens internacionais - também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. O mundo está ao alcance das mãos.
A questão aborda o livro "Por uma outra globalização" do geógrafo brasileiro Milton Santos. Conhecido por suas contribuições significativas para a compreensão da geografia urbana e da globalização, esse autor foi um dos principais pensadores latino-americanos nas discussões acerca desse tema em uma perspectiva crítica. Em sua obra, conforme o trecho em destaque na questão, destacam-se três percepções acerca do sistema-mundo global. Em síntese:
O mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula
- Apresenta a globalização como uma narrativa ilusória e simplificada, que mascara desigualdades e distorções.
- Destaca como conceitos como "aldeia global" e "mercado global" são promovidos para criar uma sensação de proximidade e uniformidade, embora na realidade as diferenças se aprofundem.
- Questiona se a ideologia da globalização atual não passa de uma fabulação que serve aos interesses hegemônicos.
O mundo como é: a globalização como perversidade
- Descreve a globalização como uma fonte de problemas sociais, como desemprego, pobreza, e degradação da qualidade de vida.
- Aponta para o aumento das desigualdades e o fortalecimento de comportamentos competitivos que geram malefícios à humanidade.
O mundo como pode ser: uma outra globalização
- Sugere a possibilidade de uma globalização mais humana, baseada em uma abordagem diferente das bases técnicas e do conhecimento global.
- Destaca a emergência de uma nova história, caracterizada pela mistura de povos, culturas e filosofias, e pela sociodiversidade.
- Propõe a construção de um novo discurso e uma nova metanarrativa que reconheçam a universalidade empírica e permitam escrever uma nova história.
Agora, conforme o comando da questão, vamos em busca do item que melhor corresponde a ideia da globalização como fábula. Acompanhe.
a) um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemónicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal.
ERRADO. Descreve a globalização como uma perversidade, destacando alguns dos aspectos negativos da globalização, como desemprego e pobreza.
b) fala-se, por exemplo, em aldeia global, pois a difusão instantânea de notícias informa as pessoas. Há um encurtamento das distâncias - houve um aumento das viagens internacionais - também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. O mundo está ao alcance das mãos.
CORRETO. Reflete a ideia de globalização como fábula, mencionando conceitos como "aldeia global" e "mercado global" que mascaram as desigualdades.
c) o desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades como a SIDA se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível.
INCORRETO. Descreve a perversidade da globalização ao destacar os impactos negativos desse fenômeno.
d) pode-se pensar na construção de um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir a globalização mais humana.
INCORRETO. Aqui menciona uma globalização mais humana, ou seja, como ela pode ser.
e) considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, pode-se, em primeiro lugar, reconhecer certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças aos progressos da informação, a “mistura” de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu.
INCORRETO. Descreva aspectos de uma nova história possível para a humanidade. Novamente, a globalização como possibilidade.
Portanto,
Texto na íntegra disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/sugestao_leitura/sociologia/outra_globalizacao.pdf
Deixe um comentário