Em 1532, na cidade quéchua de Cajamarca, atual Peru, ocorreram os fatos descritos no fragmento de documento que segue: “… como sabia o frade que seu Deus dos Cristãos havia criado o mundo? Frei Vicente respondeu que o dizia aquele livro, e deu-lhe seu Breviário. Atahualpa abriu-o, folheou-o e dizendolhe que a ele nada lhe dizia daquilo, atirou-o ao chão.”Fonte: GOMORA, F. L. História general de las índias y vida de Hernán Cortés. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1979. Tradução nossa. Por causa desse ato, o frade conclamou os soldados espanhóis à guerra. Eles invadiram o recinto, prenderam o Inca Atahualpa e a conquista espanhola dos Andes teve início. A situação descrita no excerto do documento mostra
ocorreram os fatos descritos no fragmento de documento que
segue:
o mundo? Frei Vicente respondeu que o dizia aquele livro, e
deu-lhe seu Breviário. Atahualpa abriu-o, folheou-o e dizendolhe que a ele nada lhe dizia daquilo, atirou-o ao chão.”
Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1979. Tradução nossa.
Por causa desse ato, o frade conclamou os soldados
espanhóis à guerra. Eles invadiram o recinto, prenderam o Inca
Atahualpa e a conquista espanhola dos Andes teve início.
- A)as diferentes percepções da realidade, culturalmente explicadas nos quadros das culturas quéchua-Inca e espanhola-cristã.
- B)a aceitação do cristianismo por parte dos grupos indígenas andinos, representados aqui por Atahualpa.
- C)a estratégia de negociação dos indígenas perante a religiosidade espanhola na época da conquista.
- D)a apropriação indígena da cultura escrita durante o processo da conquista espanhola na região andina.J
Resposta:
A alternativa correta é A)
O episódio ocorrido em Cajamarca em 1532, descrito no fragmento documental, revela um choque profundo entre duas visões de mundo radicalmente distintas. A reação de Atahualpa ao breviário cristão - folheá-lo e descartá-lo por não encontrar significado em suas páginas - simboliza muito mais que um simples desentendimento religioso: trata-se do encontro traumático entre sistemas culturais incompatíveis em seus fundamentos epistemológicos.
A cultura inca, baseada em tradição oral e numa cosmologia onde o sagrado se manifestava na natureza e nos ritos ancestrais, confrontava-se com a cultura espanhola medieval, fundamentada na autoridade escrita das Escrituras e na concepção de um Deus transcendente. Quando Atahualpa afirma que o livro "nada lhe dizia", evidencia-se que os códigos simbólicos cristãos eram literalmente ilegíveis dentro do universo mental quéchua.
A violenta reação espanhola ao gesto do imperador inca demonstra igual incompreensão. Para os conquistadores, o ato de atirar o breviário ao chão constituía blasfêmia imperdoável, enquanto para Atahualpa provavelmente representava apenas a constatação da inutilidade daquele objeto estranho. Este episódio microcósmico anteciparia o violento processo de imposição cultural que marcaria a conquista dos Andes.
A alternativa correta (A) capta precisamente esta essência do encontro como colisão de percepções da realidade culturalmente determinadas. As demais opções falham ao sugerir aceitação, estratégia ou apropriação por parte indígena, quando o fragmento demonstra justamente a incompatibilidade inicial entre esses universos culturais.
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