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Questões Sobre Construção de Estados e o Absolutismo - História - concurso

Questão 51

Leia o texto a seguir.

O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, bastando que aparente
possuir tais qualidades. […] Um príncipe não pode observar todas as coisas a que são obrigados
os homens considerados bons, sendo frequentemente forçado, para manter o governo, a agir
contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião […]. O príncipe não deve se desviar do bem, se
possível, mas deve estar pronto a fazer o mal, se necessário.

MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1986.

Sobre o pensamento político de Maquiavel e o contexto histórico em que se insere, assinale a alternativa correta.

  • A)Os reis precisavam de autonomia e não poderiam estar submetidos a nenhuma instituição para alcançar a plenitude política.
  • B)Os princípios da representação popular e dos ideais democráticos eram amplamente defendidos.
  • C)A ação violenta por parte dos governantes contra os seus súditos era censurada.
  • D)A política estava desvinculada dos princípios cristãos, mantendo-se a legitimidade dos reis pelos princípios da representatividade.
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A alternativa correta é A)

O pensamento político de Maquiavel, expresso em sua obra O Príncipe, reflete um momento de transformação na Europa do século XVI, marcado pela formação dos Estados nacionais e pela necessidade de centralização do poder. A alternativa correta, que afirma que "os reis precisavam de autonomia e não poderiam estar submetidos a nenhuma instituição para alcançar a plenitude política", está em sintonia com as ideias maquiavelianas.

Maquiavel rompeu com a tradição medieval que subordinava o poder secular à autoridade religiosa, defendendo que o governante deveria agir de acordo com as exigências da realidade política, mesmo que isso significasse afastar-se de valores morais ou religiosos. Sua visão pragmática enfatizava a eficácia do poder, independentemente de sua submissão a instituições como a Igreja. A autonomia do príncipe era essencial para a estabilidade e a unidade do Estado, especialmente em um contexto de fragmentação política e conflitos constantes.

As demais alternativas não correspondem ao pensamento de Maquiavel ou ao contexto histórico da época. A representação popular e os ideais democráticos (B) não eram centrais em sua obra, que focava na figura do governante. A ação violenta (C) não era censurada, mas sim considerada um instrumento legítimo quando necessária. Por fim, a política ainda estava vinculada aos princípios cristãos (D), embora Maquiavel defendesse sua separação prática em nome da razão de Estado.

Portanto, a alternativa A é a que melhor sintetiza o pensamento maquiaveliano e o cenário político do período, no qual a consolidação do poder real exigia independência frente a outras instituições.

Questão 52

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
afirmações abaixo, sobre a expansão de
Portugal e a formação do império ultramarino
entre os séculos XV e XVIII.

( ) O principal resultado da dinâmica
expansionista de Portugal foi a
homogeneização de todas as regiões que
compunham o território imperial,
tornando-as plenamente dependentes da
metrópole e desprovidas de autonomia
política e econômica.

( ) A formação do Império português,
iniciada no contexto do Renascimento
europeu, deu-se a partir da constituição
de um ideário predominantemente
clássico, que rompeu com as tradições
medievais de governo.

( ) O reino de Portugal, do ponto de vista
econômico, estava amplamente ligado ao
comércio atlântico, tendo como uma das
principais fontes de renda as receitas
obtidas pelo tráfico ultramarino.

( ) A Igreja Católica, marcada pela
dependência em relação à Coroa por meio
do padroado régio, desempenhou um
importante papel unificador do Império ao
longo da expansão territorial portuguesa.

A sequência correta de preenchimento dos
parênteses, de cima para baixo, é

  • A)V – V – F – V.
  • B)V – F – V – F.
  • C)F – V – F – V.
  • D)F – V – V – F
  • E)F – F – V – V.
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A alternativa correta é E)

O texto apresenta quatro afirmações sobre a expansão de Portugal e a formação do império ultramarino entre os séculos XV e XVIII, solicitando que sejam classificadas como verdadeiras (V) ou falsas (F). A análise das afirmações e a sequência correta são fundamentais para compreender o contexto histórico desse período.

A primeira afirmação, que sugere a homogeneização das regiões do império e sua total dependência da metrópole, é falsa (F). O império português era marcado por diversidades regionais e certa autonomia em várias colônias, especialmente no Brasil, onde as capitanias hereditárias e depois o governo-geral permitiram flexibilidade.

A segunda afirmação, que relaciona a formação do império a um ideário clássico renascentista, rompendo com tradições medievais, também é falsa (F). A expansão portuguesa manteve elementos medievais, como a cruzada religiosa e o espírito de conquista, mesclados com inovações náuticas e comerciais, mas sem uma ruptura completa com o passado.

A terceira afirmação, que destaca a ligação econômica de Portugal com o comércio atlântico e o tráfico ultramarino, é verdadeira (V). O tráfico de escravizados e o comércio de especiarias, açúcar e outros produtos foram pilares da economia portuguesa durante o período colonial.

Por fim, a quarta afirmação, que ressalta o papel unificador da Igreja Católica no império, é verdadeira (V). O padroado régio garantiu à Coroa controle sobre as atividades eclesiásticas, usando a Igreja como instrumento de dominação e integração cultural nas colônias.

Portanto, a sequência correta é F – F – V – V, correspondente à alternativa E.

Questão 53

Pode-se afirmar que os reis ingleses da Dinastia
Tudor (1485-1603) exerceram o poder de forma
absolutista graças à prosperidade econômica e à
habilidade com que trataram o Parlamento.

Assinale a alternativa correta.

  • A)A exploração econômica das Treze Colônias americanas – monocultura da cana de açúcar – foi fundamental para a manutenção do absolutismo da monarquia inglesa.
  • B)A cobrança excessiva de impostos sem a autorização do Parlamento foi uma importante fonte de renda para a monarquia inglesa.
  • C)O crescimento da manufatura de lã e a política mercantilista foram importantes fatores que propiciaram aos reis desta dinastia governar de forma absoluta.
  • D)Os Atos de Navegação aprovados por Henrique VIII, nos quais determinavam que as mercadorias negociadas com a Inglaterra só poderiam ser transportadas por navios daquele país, fortaleceram a sua economia e ajudaram os reis a governar de forma absoluta.
  • E)Durante o governo dos monarcas da dinastia Tudor, os membros do Parlamento tinham uma grande influência na direção dos assuntos de Estado, chegando mesmo a controlar as atividades dos reis.
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A alternativa correta é C)

Pode-se afirmar que os reis ingleses da Dinastia Tudor (1485-1603) exerceram o poder de forma absolutista graças à prosperidade econômica e à habilidade com que trataram o Parlamento.

Assinale a alternativa correta.

  • A) A exploração econômica das Treze Colônias americanas – monocultura da cana de açúcar – foi fundamental para a manutenção do absolutismo da monarquia inglesa.
  • B) A cobrança excessiva de impostos sem a autorização do Parlamento foi uma importante fonte de renda para a monarquia inglesa.
  • C) O crescimento da manufatura de lã e a política mercantilista foram importantes fatores que propiciaram aos reis desta dinastia governar de forma absoluta.
  • D) Os Atos de Navegação aprovados por Henrique VIII, nos quais determinavam que as mercadorias negociadas com a Inglaterra só poderiam ser transportadas por navios daquele país, fortaleceram a sua economia e ajudaram os reis a governar de forma absoluta.
  • E) Durante o governo dos monarcas da dinastia Tudor, os membros do Parlamento tinham uma grande influência na direção dos assuntos de Estado, chegando mesmo a controlar as atividades dos reis.

O gabarito correto é C).

Questão 54

Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, e Thomas
Hobbes, autor do livro Leviatã, são personagens associados à (ao):

  • A)Fascismo.
  • B)Capitalismo.
  • C)Absolutismo.
  • D)Imperialismo.
  • E)Revolução Francesa.
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A alternativa correta é C)

Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes são figuras centrais no pensamento político ocidental, frequentemente associados ao conceito de absolutismo. Maquiavel, em sua obra O Príncipe, defende a ideia de que o governante deve agir com pragmatismo, priorizando a manutenção do poder e a estabilidade do Estado, mesmo que isso implique ações moralmente questionáveis. Sua visão reforça a centralização do poder nas mãos do soberano, um princípio fundamental do absolutismo.

Thomas Hobbes, por sua vez, em Leviatã, argumenta que os seres humanos, em seu estado natural, vivem em constante conflito ("guerra de todos contra todos"). Para evitar o caos, ele propõe um contrato social no qual os indivíduos cedem seus direitos a um governante absoluto, que garante a ordem e a segurança. Essa teoria legitima o poder ilimitado do Estado, característica essencial do absolutismo.

Embora suas abordagens sejam distintas, ambos os pensadores justificam a concentração de poder como necessária para a organização política, afastando-se de ideologias como fascismo, capitalismo ou imperialismo. A Revolução Francesa, por outro lado, representou justamente a rejeição ao absolutismo, tornando a alternativa C) Absolutismo a correta.

Questão 55

As ideias messiânicas foram apropriadas por Fernão Lopes, que construiu a imagem de D. João
como uma espécie de chefe messiânico, cujas atitudes são sancionadas por Deus. As suas
ações possuem proximidade com os reis do Antigo Testamento e a própria figura de do Mestre de
Avis tem analogias a Cristo, sendo Nuno Álvares, seu comandante militar, associado a S. Pedro,
que levaria o povo eleito, a uma terra de leite e mel. Esse messias é incondicionalmente apoiado
pelo povo português, o “povo do Messias de Lisboa”. Os que são partidários do Mestre, neste
discurso são os bons cristãos e considerados “bons portugueses”: a população de Lisboa e os
nobres segundos. Já a nobreza tradicional e o rei de Castela, que por sua vez apoia o papa de
Avignon, passam a ser apresentados no discurso do cronista como o “outro”, a representação do
Mal. D. João é visto como o verdadeiro “protetor” da nacionalidade portuguesa, com apoio de
Deus e do povo português.

O cronista Fernão Lopes (1385-1460) foi contratado oficialmente para escrever sobre a vida dos
reis portugueses da Dinastia de Avis, especialmente a respeito de Dom João I, o Mestre de Avis.

Sobre esse tipo de discurso, considerando o contexto histórico português, é CORRETO afirmar: 

  • A)A Revolução de Avis foi questionada, o que levou o governo português a forjar uma história oficial mítica, com o objetivo de encerrar uma guerra civil provocada pela ascensão ao poder do monarca considerado pelos inimigos como ilegítimo.
  • B)O autor busca transformar o monarca bastardo como símbolo da identidade portuguesa, relacionando-o a elementos religiosos e ao povo português, como forma de legitimar o primeiro rei da linhagem de Avis.
  • C)O cronista procurou criar a teoria do direito divino dos reis como forma de legitimar o governo absolutista nascente, idealizando Dom João como protetor na nação portuguesa, como se fosse apoiado por Deus e pelo povo.
  • D)A associação entre Dom João I e o messianismo foi a estratégia adotada pelo cronista para enfraquecer a nobreza tradicional e a de Castela, para garantir a vitória da Revolução de Avis e consolidar a nascente dinastia.
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A alternativa correta é B)

A análise do discurso de Fernão Lopes sobre D. João I revela uma estratégia narrativa cuidadosamente elaborada para legitimar a ascensão do Mestre de Avis ao trono português. Ao associar o monarca a elementos messiânicos e figuras bíblicas, o cronista constrói uma imagem sagrada do rei, apresentando-o como escolhido por Deus e apoiado pelo povo. Essa representação não apenas justifica a Revolução de Avis, mas também estabelece uma nova identidade nacional centrada na figura do soberano.

A opção correta (B) destaca precisamente como Fernão Lopes transformou um monarca de origem questionável (por ser filho ilegítimo de D. Pedro I) em símbolo da nacionalidade portuguesa. Ao vincular D. João I a valores religiosos e ao apoio popular, o cronista superou o obstáculo da ilegitimidade dinástica, criando uma narrativa que unificava o reino em torno do novo soberano. Essa construção ideológica serviu como base para consolidar a Dinastia de Avis no poder.

As demais alternativas apresentam distorções históricas: a Revolução de Avis não foi questionada a ponto de exigir uma guerra civil prolongada (A); a teoria do direito divino dos reis não era o objetivo principal de Fernão Lopes (C); e o messianismo não foi usado especificamente para enfraquecer a nobreza tradicional, mas sim para legitimar o novo regime (D). A genialidade de Fernão Lopes reside precisamente em ter criado uma mitologia política que transformou um rei de origem controversa no arquétipo do soberano português ideal.

Questão 56

“É preciso que os soberanos possam dar a lei aos súditos e
anular ou revogar as leis inúteis para fazer outras; o que
não pode ser feito por aquele que está submetido às leis
ou por aquele que está sob o comando de outrem […]
todos os príncipes da Terra estão submetidos à lei divina e
não têm poder de contrariá-la, se não querem ser culpados
de crime de lesa majestade, fazendo guerra contra Deus”
(BODIN, Jean. Os seis livros da república. Livro I. São Paulo, Editora Icone,
pp.191-3).

Jean Bodin é um teórico típico do sistema político
conhecido na história como:

  • A)Antigo Regime.
  • B)Absolutismo.
  • C)Mercantilismo.
  • D)Aristocracia.
  • E)Fisiocracia.
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A alternativa correta é B)

O trecho apresentado de Jean Bodin, em Os Seis Livros da República, reflete claramente os princípios fundamentais do Absolutismo. Bodin defende a ideia de que o soberano deve ter o poder supremo de legislar e revogar leis, desde que não contradiga a lei divina. Essa noção de autoridade ilimitada, porém subordinada apenas a Deus, é característica central do pensamento absolutista, que predominou na Europa entre os séculos XVI e XVIII.

O Absolutismo, representado pela alternativa B), consistia em um sistema político em que o monarca concentrava todos os poderes, justificando seu governo como uma autoridade divina. Bodin, como teórico desse modelo, argumentava que o príncipe estava acima das leis humanas, mas devia obediência às leis de Deus. Essa visão contrasta com outras formas de governo, como a Aristocracia ou o Mercantilismo, que não envolviam a centralização do poder de maneira tão absoluta.

Portanto, a análise do excerto e do contexto histórico confirma que a resposta correta é a alternativa B) Absolutismo, pois Bodin é um dos principais teóricos dessa corrente política, que defendia a soberania indivisível e inquestionável do rei.

Questão 57

Dentro do fenômeno histórico denominado Estado-Nação, se desenvolveu um aspecto importante, também de natureza histórica que é a cidadania. Nessa perspectiva, a construção da cidadania tem a ver com a relação das pessoas com o Estado e com a Nação.” 

(Carvalho, J.M. Cidadania do Brasil: O longo caminho. In: Civilização Brasileira. Rio de Janeiro) 
De acordo com o pensamento do autor, assinale a alternativa que apresenta um exemplo relacionado à construção da cidadania: 

  • A)D. Pedro II concedeu amplos direitos sociais aos trabalhadores, posteriormente ampliados no período da Ditadura Militar no Brasil.
  • B)O período regencial do Brasil abriu caminhos para a democracia e para a liberdade, ampliando o direito de voto para as mulheres.
  • C)A Constituição de 1988, pela primeira vez na história do Brasil, definiu o racismo como crime inafiançável e imprescindível, alargando o alcance dos direitos civis.
  • D)Os direitos civis foram amplamente prejudicados na Constituição de 1988, ao restabelecer o voto censitário, já eliminado na Constituição anterior.
  • E)O Código de Defesa do Consumidor foi amplamente debatido na Constituição de 1988, para reforçar esse direito civil previsto desde a primeira Constituição Republicana do Brasil.
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A alternativa correta é C)

O trecho citado de José Murilo de Carvalho destaca a relação intrínseca entre a construção da cidadania e a evolução do Estado-Nação, enfatizando como os direitos civis, políticos e sociais se desenvolvem historicamente. Dentre as alternativas apresentadas, a opção C) é a que melhor exemplifica esse processo, pois demonstra um avanço concreto na consolidação da cidadania no Brasil.

A Constituição de 1988 representou um marco na história brasileira ao criminalizar o racismo como um delito inafiançável e imprescritível. Essa medida não apenas ampliou os direitos civis, mas também reforçou o princípio de igualdade perante a lei, um dos pilares da cidadania. Ao reconhecer a gravidade da discriminação racial e estabelecer punições rigorosas, a Carta Magna buscou corrigir injustiças históricas e promover a inclusão social, refletindo uma maior maturidade democrática.

As demais alternativas apresentam informações incorretas ou anacrônicas. A concessão de direitos trabalhistas por D. Pedro II (A) é um equívoco histórico, assim como a extensão do voto às mulheres no período regencial (B). A alternativa (D) contradiz o caráter progressista da Constituição de 1988, que não reintroduziu o voto censitário. Já a alternativa (E) mistura cronologias, pois o Código do Consumidor só foi criado em 1990, embora a Constituição tenha estabelecido bases para sua elaboração.

Portanto, a criminalização do racismo na Constituição de 1988 ilustra claramente a construção da cidadania por meio da expansão de direitos e da responsabilização do Estado na garantia da dignidade humana, alinhando-se perfeitamente ao pensamento de Carvalho sobre o tema.

Questão 58

“A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz
de os defender das invasões dos estrangeiros e das injúrias
uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança
suficiente para que, mediante o seu próprio labor e graças
aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos,
é conferir toda a sua força e poder a um homem, ou a uma
assembleia de homens, que possa reduzir as suas diversas
vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O
que equivale a dizer: designar um homem ou uma
assembleia de homens como representante das suas
pessoas, considerando-se e reconhecendo-se cada um
como autor de todos os atos que aquele que representa a
sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que
disser respeito à paz e segurança comum; todos
submetendo assim as suas vontades à vontade do
representante, e as suas decisões à sua decisão”

(HOBBES,
T. Leviatã. Os Pensadores. São Paulo: Editora Nova
Cultural, 1997.p. 130).

O Antigo Regime, dentro de sua complexidade enquanto
fenômeno histórico, NÃO pode ser entendido como:

  • A)a sociedade do antigo regime em que pese a ênfase sobre a harmonia e a organicidade nas representações sociais que de si produzia – conhecia uma profunda e endêmica conflitualidade.
  • B)a ideia de “revolução existia, mas o seu significado era totalmente contrário ao de hoje, significando, na esteira da terminologia astronômica, um retomo ao ponto inicial, uma “restauração”, ou seja, tinham sempre um sentido orgânico e conservador.
  • C)a sociedade do Antigo Regime, embora fosse marcada por uma forte estratificação social, conhecia igualmente uma profunda igualdade social entre os diversos atores.
  • D)um conceito mais abrangente que o Absolutismo, já que a monarquia absoluta não era a única forma política dos Estados Modernos, como fica claro se analisarmos o caso da Inglaterra e da Holanda.
  • E)o período pode ser considerado como de transição, que como tal, não é redutível nem a feudalismo, nem a capitalismo, nem tampouco à justaposição de ambos; trata-se de uma época com especificidade própria.
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A alternativa correta é C)

O trecho de Hobbes em Leviatã aborda a necessidade de um poder centralizado para garantir a segurança e a ordem social, um princípio que ecoa no contexto do Antigo Regime. No entanto, ao analisar as características desse período histórico, é evidente que a afirmação contida na alternativa C) – que sugere uma "profunda igualdade social entre os diversos atores" – está incorreta, conforme indicado pelo gabarito.

O Antigo Regime foi marcado por uma rígida hierarquia social, sustentada por privilégios estamentais e pela desigualdade jurídica entre os grupos. A sociedade dividia-se em ordens (clero, nobreza e Terceiro Estado), com direitos e obrigações distintos, o que inviabilizava qualquer noção de igualdade. A monarquia, embora centralizadora, mantinha pactos com as elites privilegiadas, reforçando essa estrutura assimétrica.

As demais alternativas apresentam elementos corretos sobre o período: a conflitualidade latente (A), o sentido conservador do termo "revolução" (B), a diversidade de modelos políticos além do absolutismo (D) e a especificidade do Antigo Regime como era distinta (E). A alternativa C, portanto, destoa ao ignorar o caráter essencialmente desigual e estratificado dessa formação social.

Questão 59

Embora os historiadores estejam naturalmente cientes de
que os índices de mudança variam nas diferentes camadas ou setores da sociedade, o hábito e a conveniência
mandam, em geral, que a forma de uma obra implique ou
obedeça a um monismo cronológico. Vale dizer, seus materiais são tratados como se compartilhassem um ponto de
partida comum e um mesmo ponto de chegada, abarcados
por um único espaço de tempo. Neste estudo, não há tal
meio temporal, uniforme: pois os tempos dos absolutismos
mais importantes da Europa – oriental e ocidental – foram,
precisamente, caracterizados por uma enorme diversidade, constitutiva ela mesma de sua natureza respectiva,
enquanto sistemas estatais.
(Perry Anderson. Linhagens do Estado absolutista)
Como argumento para a tese apresentada, Perry Anderson
mostra que

  • A)o absolutismo espanhol sofreu, nos Países Baixos, sua primeira grande derrota, o absolutismo inglês foi derrotado em meados do século XVII, e o absolutismo russo só foi derrubado no século XX.
  • B)durante a Idade Moderna, entre os séculos XV e XVIII, prevaleceram estruturas monárquicas nas quais o poder do soberano era diluído entre outras instituições políticas, como as Cortes portuguesas.
  • C)as práticas absolutistas foram menos centralizadoras do que se teorizou, visto que o poder dos reis durante o Mundo Moderno foi limitado por parlamentos e pelos privilégios da burguesia ascendente.
  • D)as monarquias efetivamente absolutas prevaleceram apenas no leste europeu, porque nesse espaço inexistiam mecanismos de controle sobre o poder do soberano, como os conselhos do rei.
  • E)a experiência da monarquia francesa durante a Idade Moderna constituiu-se no único ordenamento efetivamente absolutista porque todas as atribuições do Estado passavam pelas mãos do soberano.
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A alternativa correta é A)

Perry Anderson, em Linhagens do Estado absolutista, destaca a diversidade temporal e estrutural dos absolutismos europeus, argumentando que não há um "meio temporal uniforme" que abarque todas as experiências monárquicas. Essa heterogeneidade é essencial para compreender a natureza específica de cada sistema estatal. Como exemplo dessa tese, Anderson apresenta casos distintos: o absolutismo espanhol sofreu sua primeira grande derrota nos Países Baixos, o inglês foi derrotado em meados do século XVII, enquanto o russo persistiu até o século XX. Essa variação cronológica e geográfica demonstra que os absolutismos não seguiram um padrão linear ou homogêneo, mas sim trajetórias próprias, moldadas por contextos políticos, sociais e econômicos particulares.

A alternativa correta (A) reforça o argumento de Anderson ao evidenciar que os absolutismos tiveram durações e desfechos distintos, contrariando a ideia de um modelo único e sincronizado. Enquanto a Espanha enfrentou resistência nos Países Baixos, a Inglaterra viu seu absolutismo ruir no século XVII, e a Rússia manteve seu regime até a Revolução de 1917. Essa pluralidade temporal corrobora a tese central do autor sobre a impossibilidade de enquadrar os absolutismos em uma cronologia rígida ou em características universais.

As demais alternativas não captam a essência do argumento de Anderson. A alternativa B, por exemplo, minimiza o caráter centralizador de algumas monarquias, enquanto C e D simplificam as dinâmicas de poder ao ignorar as particularidades regionais. Já a alternativa E incorre no erro de generalizar o caso francês como paradigma único, desconsiderando a diversidade apontada pelo autor. Portanto, a resposta A é a que melhor se alinha à análise de Anderson, destacando a natureza multifacetada e descontínua dos absolutismos europeus.

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Questão 60

Foi com Luiz XIV, entre 1643 e 1715, que o
absolutismo atingiu seu apogeu na França. Durante o
seu reinado, o poder monárquico foi reforçado, sendo
caracterizado por um duplo monopólio do soberano:

  • A)monopólio religioso e monopólio sobre a economia.
  • B)monopólio fiscal e monopólio sobre a Igreja Católica.
  • C)monopólio cultural e monopólio sobre a Igreja Católica.
  • D)monopólio religioso e monopólio sobre a violência legítima.
  • E)monopólio fiscal e o monopólio sobre a violência legítima.
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A alternativa correta é E)

O absolutismo francês atingiu seu auge durante o reinado de Luís XIV (1643-1715), conhecido como o "Rei Sol". Esse período foi marcado pela centralização extrema do poder nas mãos do monarca, que governava sob a famosa máxima "L'État, c'est moi" ("O Estado sou eu").

O gabarito indica como correta a alternativa E, que aponta os dois principais monopólios que caracterizavam o poder absoluto do soberano:

  1. Monopólio fiscal: O rei concentrava em suas mãos o controle sobre a arrecadação de impostos e a administração dos recursos do Estado, sem necessidade de aprovação por outros órgãos.
  2. Monopólio sobre a violência legítima: O Estado detinha o exclusivo do uso da força, controlando o exército e os mecanismos de repressão, eliminando poderes militares paralelos.

Esses dois elementos eram fundamentais para sustentar o regime absolutista. O controle sobre as finanças permitia manter a máquina estatal e a corte em Versalhes, enquanto o monopólio da força garantia a obediência aos desígnios reais e a supressão de revoltas.

As outras alternativas apresentam combinações incorretas ou parciais. Embora houvesse tensões com a Igreja Católica (questão galicana), não existia um monopólio religioso completo. O controle sobre a economia era relativo, e o aspecto cultural, embora importante, não constituía um pilar fundamental do poder absoluto como os mencionados na opção correta.

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