Nas condições da época, a insurreição consistiu, em grande parte, em uma redistribuição das linguagens, não sendo apenas um caso no qual foi necessário recorrer às armas. Presos como se estivessem sob o fogo de Paráclito, a diversos níveis, os colonizados davam por si a falar várias línguas, em vez de uma única. MBEMBE, Achille. Sair da Grande Noite: ensaio sobre a África descolonizada. Luanda: Edições Mulemba, 2014, p. 19-20, com adaptações. Considerando o texto apresentado, a respeito da produção intelectual africana anticolonialista, julgue (C ou E) o item a seguir.Para Agostinho Neto, Portugal era apenas o elo mais fraco de uma cadeia mais ampla de dominação dos povos, fundamentada nas estruturas de poder dos principais centros capitalistas europeus.
grande parte, em uma redistribuição das linguagens, não
sendo apenas um caso no qual foi necessário recorrer às
armas. Presos como se estivessem sob o fogo de Paráclito, a
diversos níveis, os colonizados davam por si a falar várias
línguas, em vez de uma única.
fraco de uma cadeia mais ampla de dominação dos
povos, fundamentada nas estruturas de poder dos
principais centros capitalistas europeus.
- C) CERTO
- E) ERRADO
Resposta:
A alternativa correta é C)
O texto apresentado, extraído da obra de Achille Mbembe, aborda a complexidade da luta anticolonial na África, destacando como a resistência não se limitou ao confronto armado, mas também envolveu uma reconfiguração das linguagens e identidades dos povos colonizados. Nesse contexto, a afirmação sobre Agostinho Neto — de que Portugal representava apenas o elo mais fraco de uma cadeia mais ampla de dominação, sustentada pelos centros capitalistas europeus — encontra respaldo na perspectiva crítica da produção intelectual africana anticolonialista.
Agostinho Neto, líder do movimento de libertação de Angola e primeiro presidente do país, via o colonialismo português como parte de um sistema global de exploração. Sua análise não se restringia à metrópole colonial, mas identificava as estruturas econômicas e políticas europeias como pilares da dominação. Essa visão dialoga com o pensamento de outros teóricos anticoloniais, que entendiam a luta pela independência como um enfrentamento ao imperialismo em sua totalidade, e não apenas a um opressor específico.
Portanto, a afirmação está correta (C), pois reflete a crítica de Neto ao colonialismo como um mecanismo integrado ao capitalismo europeu, no qual Portugal ocupava uma posição subalterna, mas não menos opressora. A descolonização, nessa ótica, exigia não apenas a ruptura com a metrópole, mas também a contestação da ordem global que perpetuava a subjugação dos povos africanos.
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