A análise do papel da propaganda oficial para a difusão de um ideário nacional, proposto pelo Estado Novo, pelos meios de comunicação como a rádio e as expressões artísticas (a música, o carnaval, a literatura e o cinema) é de fundamental importância na compreensão da constituição e da difusão de uma cultura popular brasileira na Era Vargas. Sobre o ensino do subtema a Revolução de 1930, Estado e industrialização: os avanços e recuos da cidadania: extensão dos direitos sociais versus cerceamento dos direitos políticos e civis, de acordo com as orientações pedagógicas da Secretaria de Educação de Minas Gerais, analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta.
I. O professor poderá abordar a imprensa, neste caso a rádio, como veículo propagador de ideias e discursos do governo Vargas. O futebol e o carnaval, manifestações híbridas da cultura popular brasileira, foram explorados e difundidos pela política cultural oficial.
II. É no governo Vargas que começa a haver um incentivo governamental na seleção brasileira de futebol.
III. A Revolução de 1930 pode ser vista em diferentes perspectivas: golpe militar, revolução, contrarrevolução, divisão das oligarquias, dependendo da fonte contemporânea utilizada (quem viveu e o que deixou de memória) ou do recorte teórico adotado pelo historiador que hoje escreve sobre o acontecimento. Assim, o estudo do tema pode ser uma oportunidade para se trabalhar diversas interpretações historiográficas com os alunos.
Estão corretas as afirmativas:
- A) I e III apenas.
- B) II e III, apenas.
- C) I, II e III.
- D) III, apenas.
Resposta:
A alternativa correta é letra C) I, II e III.
Gabarito: ALTERNATIVA C
A análise do papel da propaganda oficial para a difusão de um ideário nacional, proposto pelo Estado Novo, pelos meios de comunicação como a rádio e as expressões artísticas (a música, o carnaval, a literatura e o cinema) é de fundamental importância na compreensão da constituição e da difusão de uma cultura popular brasileira na Era Vargas. Sobre o ensino do subtema a Revolução de 1930, Estado e industrialização: os avanços e recuos da cidadania: extensão dos direitos sociais versus cerceamento dos direitos políticos e civis, de acordo com as orientações pedagógicas da Secretaria de Educação de Minas Gerais, analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta.
- I. O professor poderá abordar a imprensa, neste caso a rádio, como veículo propagador de ideias e discursos do governo Vargas. O futebol e o carnaval, manifestações híbridas da cultura popular brasileira, foram explorados e difundidos pela política cultural oficial.
A Era Vargas precisa ser compreendida também em suas expressões sociais: mesmo o governo autoritário buscava criar uma base social de sustentação e de exaltação dos seus grandes projetos. Num país ainda profundamente analfabeto, mas que se urbanizava com certa velocidade em suas proporções continentais, o uso de meios de comunicação de massa para a propaganda oficial e para a organização de uma ideia de identidade nacional era crucial e o rádio era o meio mais adequado para a missão. Com o adensamento das cidades em torno do projeto industrialista, Vargas deu grande atenção à organização de uma cadeia de radiodifusão, inclusive criando emissoras estatais de corte cultural: era preciso emitir para o país inteiro a nova compreensão brasileira que estava sendo gestada no Rio de Janeiro. As noções de organização em meio à mobilização social faziam da propaganda varguista uma maneira de veicular novos valores ao mesmo tempo em que incensava a figura do grande líder central. O culto à personalidade e a compreensão federalizada das questões brasileiras eram traços distintivos daquele período - e o futebol foi um dos elementos a dar organicidade a essa noção. A organização do Carnaval carioca como uma grande festa foi percebida pela Era Vargas como um meio de comunicação e de cooptação extremamente potente. Se Vargas pretendia uma centralização do governo e uma modernização geral do país com favorecimento à urbanização, organizar as massas urbanas em favor do seu programa era uma medida extremamente inteligente. Se o Carnaval era o momento de exacerbação social em denúncias contra as contradições da ordem vigente, como também era capaz de unir os excluídos num sentimento compartilhado, este também poderia ser um poderoso veículo para as novas ideias de Brasil. Sobre isso, o estudante precisa ter claro que a noção de ordem da Primeira República (1889-1930) entendia as manifestações culturais populares como algo menor e alvo de franca repressão: o samba e suas práticas eram igualados à vadiagem, prática prevista como crime e duramente reprimida na capital federal. Nesse contexto, o Carnaval com escolas de samba surgiu como uma "instância de negociação" (expressão defendida pelo historiador Luiz Antonio Simas) entre a cultura popular e o Estado: a perseguição refluiria, mas o samba aceitaria certas disciplinas interessantes ao Estado. A organização de desfiles como um campeonato tanto construía uma forma de controle sobre a festa quanto servia para veicular pensamentos e valores a partir das manifestações populares, que já não sofreriam a perseguição policial de outrora. Não por acaso, a Era Vargas determinaria que toda escola de samba deveria ter por tema algo relacionado à História do Brasil: isto implicava na prática apresentar ao povo sua própria história dentro da nova narrativa centralizada. AFIRMATIVA VERDADEIRA.
- II. É no governo Vargas que começa a haver um incentivo governamental na seleção brasileira de futebol.
Nas primeiras décadas do século XX, o futebol era compreendido no Brasil como um esporte basicamente restrito às elites, havendo, inclusive, gravíssima perseguição contra a participação negra entre os atletas. A profissionalização dos clubes, no entanto, foi concomitante com a ascensão do viés popular do esporte, havendo uma progressiva abertura e popularização. Ao mesmo tempo, as competições internacionais foram ganhando consistência mais relevante apenas na década de 1920 - no nosso caso, os torneios sul-americanos eram os mais relevantes à época. Em 1930, no entanto, a FIFA organizaria o seu primeiro mundial de seleções, coincidindo com a ascensão da Era Vargas no Brasil e o início da construção de um nova narrativa para o país. Ao longo daquela década, Vargas tanto se aproximaria dos clubes quanto da seleção em si, organizando incentivos governamentais mais bem estruturados e constantes por entender no futebol um potente elemento para a união nacional e para a exaltação de certos valores. Sobre isso, há de se ter claro que o Estado faria esforços expressivos para a expansão da radiodifusão no país com programação centralizada e com redes de transmissão, o que também fortalecia o papel da seleção brasileira de futebol nesse projeto. AFIRMATIVA VERDADEIRA.
- III. A Revolução de 1930 pode ser vista em diferentes perspectivas: golpe militar, revolução, contrarrevolução, divisão das oligarquias, dependendo da fonte contemporânea utilizada (quem viveu e o que deixou de memória) ou do recorte teórico adotado pelo historiador que hoje escreve sobre o acontecimento. Assim, o estudo do tema pode ser uma oportunidade para se trabalhar diversas interpretações historiográficas com os alunos.
Já nos ensinam a Escola de Frankfurt e a História dos Conceitos que a linguagem não é território neutro, mas sim um campo ativo de disputas e de dificuldades nem sempre completamente elaboradas na superfície do discurso. A nomenclatura atribuída à ruptura institucional de 1930 é uma dessas grandes dificuldades da nossa historiografia: escolher um termo para denominá-la também é uma forma de denunciar as suas próprias percepções sobre aqueles eventos. Do ponto de vista formal, o movimento militar depôs um presidente legitimamente eleito, Washington Luís, e impediu a posse de Júlio Prestes, cuja candidatura à presidência saíra vencedora naquele ano e cumprindo formalmente todos os ritos e requisitos. Como um golpe de Estado se define como qualquer ruptura da ordem institucional fora dos ritos previstos na legislação (como o impechment desde que cumpridos os seus parâmetros todos), pode-se, sim, entender a movimentação de 1930 como um golpe. No entanto, a desordem e a transformação sociais que se seguiram e a narrativa (em grande medida acertada) acerca das terríveis fraudes eleitorais que marcavam a Primeira República também tão razão aos que defendem a narrativa de que tenha ocorrido um processo revolucionário no país. Enfim, os diversos recortes ontológicos e teóricos permitem a aplicação de diferentes conceitos para a construção de um narrativa sobre o período, o que exige do professor um trabalho bem organizado para, ao menos, conseguir apresentar as variáveis para que os alunos consigam compreender a complexidade e as armadilhas desse processo. AFIRMATIVA VERDADEIRA.
Portanto, são verdadeiras as afirmativas I, II e III.
Estão corretas as afirmativas:
a) I e III apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, II e III.
d) III, apenas.
Sem mais, está correta a ALTERNATIVA C.
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